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Síria: Armas químicas, mídiaticas e milhões de dólares usados numa guerra não declarada

Os serviços de inteligência dos EUA, Reino Unido, França, Israel e Turquia, coordenaram ações de desestabilização social e econômica da Síria
Pedro García Hernández
Prensa Latina
Damasco

Tradução:

Desde março de 2011 mais de 140 mil mercenários entraram no território sírio ao mesmo tempo que os Estados Unidos e seus aliados ocidentais e no Oriente Médio preparavam uma intervenção direta sem guerra declarada como parte das chamadas primaveras árabes longamente preparadas. 

Sob tais objetivos, os serviços de inteligência dos Estado Unidos, Reino Unido, França, Israel e Turquia, fundamentalmente, coordenaram ações para exacerbar as diferenças de bases confessionais, desestabilização social e utilizaram como força de choque esses milhares de extremistas de 87 nacionalidades.

Foram aplicados, sob o amparo de uma cobertura midiática tergiversadora e sem precedentes na região, medidas como facilitação de passaportes falsos, respaldo logístico e treinamento militar em base a pelotões de 15 integrantes a um custo total de 15 mil dólares cada um, entre outras táticas.

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A Síria, cujos mandos militares acumularam experiência em enfrentamentos convencionais com Israel e no Líbano nas décadas dos anos 60,70 e 80, havia renovado, pelos avatares do tempo, sua estrutura nas Forças Armadas e assumiu, ao princípio com certo desconcerto, uma guerra irregular sem declarar.

As deserções iniciais, mas de poucos chefes com mando de tropas, e as novas táticas de uma guerra irregular não declarada, foram corrigidas e aplicadas com prontidão por um Estado que mostrou firmeza e liderança política para combater entre esse ano e 2015, em 12 frentes em todo o território nacional.

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Uma planejada agressão direta baseada essencialmente no pretexto de uma presumida utilização pelo Exército sírio de armamento químico, foi evitada pelo veto da Rússia e da China no seio do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de lamentável atuação quando da invasão contra o Iraque e a Líbia.

Os serviços de inteligência dos EUA, Reino Unido, França, Israel e Turquia, coordenaram ações de desestabilização social e econômica da Síria

Captura de tela Youtube
Milhões e milhões de dólares a serviço da destruição da Síria

Os fatos

Diante de uma realidade inquietante, justamente em setembro de 2015 o governo sírio apelou aos acordos de cooperação militar com a Rússia a partir da presidência de Hafez al-Assad; e com respaldo jurídico e legal em apego às leis internacionais foi ativada uma assessoria e logística de longo alcance e apoio aéreo a partir da base de Hemylin, na província síria de Latakia e do porto de Tartus, na província costeira de igual nome.

Os enfrentamentos em cidades, áreas rurais e zonas desérticas requereram a modernização e adequação de grupos operativos de infantaria, operações de tanques e veículos artilhados, sistema de defesa antiaérea, mísseis termo báricos teleguiados e atualização dos modelos de aviões Sukhoi tipo 24, 25 y 30, entre outros.

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De igual forma, a infantaria foi dotada de sistema de visão noturna, novos fuzis de franco-atirador e proteção individual, além da constituição de tropas especiais como as Forças Tigre e os Caçadores do Deserto, grupos de milícias locais e cursos intensivos de preparação nos centro de formação, entre eles a Academia Militar Feminina de Damasco.

Particular relevância adquiriram os combates urbanos na própria capital, Damasco, Alepo, Homs, Hama e Deir Ezzor, entre outras localidades onde se agiu sobre a base de pequenas unidades que entravam em ação após a preparação artilheira e aérea. 

Só assim, em quase oito anos de guerra imposta se pode enfrentar com êxito os grupos terroristas habilitados e treinados em acampamentos da província turca de Hatay, fronteiriça com a Síria e receptores na etapa de mais de mil caminhonetes tipo Hilux, da Toyota, e de sistemas de mísseis tipo Tow, com financiamento dos petrodólares do Qatar e da Arábia Saudita.

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A esses fatos, somou-se o abastecimento com intermediários de armamento fabricado pela empresa ucraniana UkrOborom ou de companhias da Bulgária, Romênia e Croácia  através de entidades como a Blesdsway LTD, de Chipre, de capital turco-estadunidense, para citar apenas uma.

A esse respeito, o vice-chanceler sírio, Faisal Mekdad, denunciou que com esses fins foram empregados não menos de 137 milhões de dólares em um fluxo ilegal de armas que representa 35% do total mundial, segundo o Instituto pela Paz de Estocolmo, Suécia.

A atualidade

Depois de quase nove anos de uma guerra imposta, a Síria, com a colaboração da Rússia, do Irã e do movimento de resistência libanês Hezbollah, neutralizou os grupos terroristas como força de choque promovida a partir dos centros de poder ocidentais ou da região, com um custo dramático de vidas que chega ao meio milhão de vítimas e mutilados, entre eles cem mil membros das forças armadas. 

A tática e estratégia aplicadas deram resultados em cada zona desértica como Palmira ou Deir Ezzor, ou em centros urbanos como como Damasco, Alepo ou Homs, e apesar da aparentemente indireta colaboração pró terrorista do regime sionista de Israel e suas mais de 200 incursões aéreas contra território sírio nos últimos anos.

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Mais de 90% do território desta nação do Levante foi liberado da atuação das organizações extremistas, cerca de três mil localidades e uns 200 grupos extremistas aceitaram negociações pacificadoras, mas do Ocidente se mantêm os indicadores de assédio e cerco. 

No final de 2019, com o pretexto de combater grupos curdos, a Turquia ocupou cerca de seis mil quilômetros quadrados de solo sírio nas províncias de Alepo e Hasaka, e os Estados Unidos, França e Reino Unido respaldam o controle de vários campos petroleiros em regiões de Hasaka, Raqqa ou Deir Ezzor.

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Nesse sentido, demonstram um apoio tácito ao último bastião organizado dos terroristas na província de Idlib, e por isso a solução militar não parece ser prudente no momento e se recorre a negociações contínuas pelos fatores internacionais implicados. 

Síria e seus aliados, advogam por continuar conversações a respeito, em aras de uma paz esquiva a partir da insensatez dos Estados Unidos e seus seguidores que podem, à luz dos anos transcorridos, provocar uma escalada de tensões não desejada, mas latente. 

*Pedro García Hernández, Correspondente na Síria

**Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Pedro García Hernández

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