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Impeachment: revelação de Bolton tem potencial explosivo; Trump ameaça acusadores

Em livro, ex-assessor revela que mandatário disse desejar que assistência à Ucrânia fosse condicionada a uma declaração pública do novo governo
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Uma revelação “explosiva” que poderia descarrilar a defesa de Donald Trump em seu julgamento político é o tipo de surpresa com que sonhavam os democratas e o pesadelo temido pelos republicanos durante este processo, enquanto sua equipe de defesa continuou em seu segundo dia de argumentos para descartar as acusações para sua destituição pouco depois que seu cliente ameaçou com tons sinistros seus acusadores. 

Uma filtração reportada pelo New York Times de um fragmento do livro que John Bolton, o ex-assessor de Segurança Nacional de Trump, publicará em março contradiz a versão do presidente de que nunca foi ordenado o congelamento de 291 milhões de dólares em assistência militar para a Ucrânia para obrigar esse país a declarar uma investigação contra os democratas.

No livro, Bolton afirma que o presidente lhe disse em agosto do ano passado que desejava que essa assistência fosse condicionada em troca de uma declaração pública do novo governo ucraniano de que impulsionaria uma investigação contra os democratas e em particular contra seu oponente eleitoral Joe Biden.

De imediato, os democratas qualificaram isto como “uma revelação explosiva” e o líder da bancada minoritária democrata no Senado, Chuck Schumer, exigiu que fosse convocado Bolton ante o julgamento político no Senado como também indagar se existe “um encobrimento massivo da Casa Branca”.

Em livro, ex-assessor revela que mandatário disse desejar que assistência à Ucrânia fosse condicionada a uma declaração pública do novo governo

Montagem de NedPix
Donald Trump, tem um total de mais de 16.241 mentiras já documentadas

A líder da maioria democrata na câmara baixa, Nancy Pelosi, advertiu que com esta revelação, os senadores republicanos agora enfrentam uma decisão “entre nossa Constituição ou um encobrimento”.

Até agora, a Casa Branca e a liderança do Senado estavam conseguindo seu objetivo de anular todas as solicitações de testemunhas e documentos adicionais para levar o julgamento à sua conclusão o antes possível, tão rápido como este fim de semana.

Com a revelação, alguns senadores republicanos agora poderiam contemplar convocar mais testemunhas, como Bolton. Os democratas haviam insistido nisso, mas não haviam obtido o apoio necessário de pelo menos quatro senadores republicanos para obter uma maioria simples de 51 votos necessários. Com a revelação, de repente isso se torna uma possibilidade e há informações de que a Casa Branca já está se preparando para frear tal solicitação, se é que o
Senado vota por chamar Bolton e outros.

Por seu lado, Trump, muito possivelmente com outra mentira mais em seu total de mais de 16.241 mentiras já documentadas, rapidamente repeliu as afirmações do livro de Bolton, tuitando: “Eu NUNCA disse a John Bolton que a assistência à Ucrânia estava ligada a uma investigação sobre o democratas, incluindo os Biden… Se John Bolton disse isso, foi só para vender seu livro”.

Tudo isto antes que sua equipe de defensa continuasse esta tarde e noite com seu trabalho ante o Senado, onde curiosamente não abordaram o tema de Bolton, e procederam com seus argumentos de que Trump não cometeu nenhum delito e, portanto, seu impeachment não é constitucionalmente válido.

Uma das estrela em sua equipe de defesa, Kenneth Starr, que foi o promotor especial no impeachment de Bill Clinton há 21 anos e que foi um comentarista contratado por Fox News, o canal favorito da Casa Branca, elaborou sua versão da história legal do processo de impeachment, conseguindo um acordo não comum neste processo entre democratas e republicanos de que ofereceu uma das intervenções mais “cansativas” deste julgamento até a presente data, argumentando que não houve delito, e portanto, não há base sob a Constituição. Qualificou o processo de impeachment “como una guerra” que divide o país, e que neste caso está sendo empregado como “una arma política” para “reverter uma eleição”.

A outra estrela, o reconhecido professor agora emérito de leis de Harvard, Alan Dershowitz -um integrante da equipe de defesa de O.J. Simpson, que diz haver votado em Hillary Clinton, amigo e advogado defensor do acusado de tráfico sexual de mulheres, incluindo menores de idade, Jeffrey Epstein, que recentemente se suicidou esperando seu julgamento, e também acusado de uma relação sexual com uma das “amigas” de Epstein (o que ele nega)-, ofereceu seu magno argumento esta noite no julgamento de que as acusações contra Trump não são delitos sujeitos ao impeachment sob a Constituição.

Concluiu – com referências históricas aparentemente muito sérias – que os “redatores da Constituição não aceitariam este critério” para definir as acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso como delitos sujeitos ao impeachment, e portanto, este processo não tem validez. Mais ainda, disse que ao apresentar estas acusações, “põe o Congresso acima da lei”, ou seja, do que se acusa o presidente.

Enquanto isso, com seus advogados estrela oferecendo lições sobre a Constituição e o pensamento supremo dos fundadores da república, Trump continuou com seus ataques contra seus acusadores. No domingo enviou um tuíte que provocou alarme por sua ameaça sinistra contra o chefe dos deputados-promotores designados pela câmara baixa para apresentar as acusações ante o julgamento político. “O traidor Adam Schiff é um POLÍTICO CORRUPTO, e provavelmente um homem muito doente. Ainda não pagou o preço pelo que fez a nosso País!” Alguns observadores expressaram preocupação sobre se tal mensagem poderia pôr Schiff em perigo físico.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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