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O presidente mais impopular do mundo com, 6%, de aprovação não quer ouvir as ruas

No cenário mundial, a contundência das manifestações cidadãs ao longo do Chile tem despertado uma enorme onda de solidariedade
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul
Cidade da Guatemala

Tradução:

Quando o nível de aprovação de um governante se reduz a índices tão baixos como os 6 por cento alcançado pelo presidente do Chile. Sebastián Piñera, o restante 94 por cento deve ser interpretado como um franco rechaço à sua administração. Isto é entendido por qualquer leigo. No entanto, o teimosia deste empresário – cujo afã de aferrar-se ao mando denota sua ambição desmedida pela poder – mantém esse país em um constante estado de emergência, paralisado pelos protestos nas quais se podem observar reiteradas violações dos direitos humanos cometidas contra a população com total impunidade pelas forças policiais.  

No cenário mundial, a contundência das manifestações cidadãs ao longo do Chile tem despertado uma enorme onda de solidariedade com esse povo. Por primeira vez na sua história, a população chegou se constituir como um corpo sólido integrado por habitantes de todos os setores, capaz de pôr em xeque ao mais depredador dos sistema econômicos – o neoliberalismo – e fazendo cambalear o poder hegemônico dos círculos de poder ao plantar-se de frente contra seus abusos. O estado de total negação de Piñera, portanto, constitui uma transgressão contra as próprias bases do sistema democrático ao transformar o seu em um regime similar à ditadura pinochetista com desaparecimentos forçados, assassinatos e sequestros em abundância.  

O caso não é único. Também o presidente francês, a atual ditadura boliviana e a administração autoritária e de extrema direita do Brasil, entre outros, se encontram encurralados com uma mínima porcentagem de aprovação, do mesmo modo como outros mandatários cujas prioridades se afastam dos interesses da cidadania para proteger as classes dominantes e as grandes multinacionais. O que está em jogo, então, é a sobrevivência dos Estados democráticos, assediados há muito tempo por uma espécie de supergoverno exercido pela cúpula econômica mundial sob o guarda-chuva sempre alerta do Departamento de Estado. 

No cenário mundial, a contundência das manifestações cidadãs ao longo do Chile tem despertado uma enorme onda de solidariedade

Reprodução: Flickr
Sebastián Piñera tem apenas 6% de aprovação popular

O maior perigo deste sistema depredador é a perda progressiva do poder cidadão. Ou seja, os sistemas foram modificados com o propósito de garantir benefícios a setores poderosos por meio de uma legislação ad hoc cujo objetivo é reduzir as possibilidade de participação das grande maiorias nas políticas públicas; um dos mais importantes espaços onde se aplicam essas táticas é na privação de acesso à educação de qualidade e a serviços básicos, dado que em uma cidadania informada reside o maior perigo para os planos hegemônicos dos grupos de poder. Pelo contrário, uma população reduzida à sobrevivência jamais terá a energia nem o tempo necessários para ocupar o lugar que lhe corresponde nos assuntos públicos. 

O caso do Chile se eleva como um exemplo de como os abusos de poder conseguem tirar o povo de um estado de apatia para transformá-lo em um forte protagonista nos assuntos que lhe competem. É preciso ressaltar o papel fundamental da juventude chilena, cuja fortaleza e perseverança tem sido capaz de pôr em xeque o poderoso sistema que ao longo dos anos foi lhe tirando espaços de participação para manter um status orientado a satisfazer interesses corporativos e guetos políticos contrários às mais importantes iniciativas de desenvolvimento social. Outras nações em similares circunstancias veem o Sul como um espelho onde aspiram refletir-se. 

 

A juventude é a protagonista indispensável em todo processo de transformação. 

 

*Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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