Todos os mais ricos e seus representantes no governo, os autoproclamados especialistas, os principais comentaristas e “influenciadores”, e nem falar da realeza política e seus servidores, estão muito assustados.
Quem sabe quanto vai durar o susto? Alguns prognosticam, ou desejam, que muito pouco, outros argumentam de maneira impressionantemente torcida que o que tem cada vez maior apoio popular é uma ameaça ao país (desde suas origens se disse que demasiada democracia é perigoso), outros mais insistem que se requer uma “alternativa” mais “elegível” (apesar de que segundo as pesquisas, este é de fato o favorito entre o eleitorado) e que urgem propostas políticas mais “pragmáticas” para poder ganhar a eleição presidencial (apesar dessas mesmas terem sido derrotada da última vez).
E quem é a ameaça tão potente? Pois, um velho do Brooklyn com uma consigna de que já basta do controle do 1% mais rico, e que convoca a uma “revolução política” para resgatar esta suposta democracia, e pior, que se atreve a se declarar como um “socialista democrático”.
Depois de seu triunfo em New Hampshire no início da semana passada, e de conseguir a maioria dos votos em Iowa uma semana antes, e que agora pela primeira vez está em primeiro lugar na média das principais enquetes nacionais, Bernie Sanders é o líder do concurso para ganhar a nominação presidencial do Partido Democrata.
Diante disso, pânico e alarme explodem na cúpula do partido e seus patrocinadores, com uma busca cada vez mais desesperada para a “alternativa” centrista a Sanders, incluindo um dos homens mais ricos do planeta que abertamente está buscando comprar a coroa democrática, e também o trono do poder em Washington.
Não surpreende que nem um só executivo das principais 500 empresas na lista da Standard & Poor tenha contribuído para sua campanha. Lloyd Blankfein, executivo recém retirado da Goldman Sachs comentou na semana passada que se Sanders ganhar provocaria um desastre econômico. Como vários comentaram, o ex-banqueiro aparentemente esqueceu que foram ele e seus sócios no setor financeiro que provocaram a pior crise econômica desde a Grande Depressão em 2008, e cujo banco foi um dos resgatados com bilhões em fundos públicos. “Isso é como se vê e soa o pânico da elite de Wall Street” respondeu o chefe da campanha de Sanders, Faiz Shakir.
Bernie Sanders / Facebook oficial reprodução
7 milhões de doações por mais de 1, 5 milhões de doadores individuais, resultam em fundos a Sanders que a todos os outros candidatos
O que assusta Wall Street
Lhes assusta que 7 milhões de doações por mais de 1, 5 milhões de doadores individuais, cujas contribuições médias são de 18 dólares, continuam entregando mais fundos a Sanders que a todos os outros candidatos. O maior setor de doadores de Sanders são professores/professoras, seguido por enfermeiras e trabalhadores do Walmart, Starbucks e carteiros, entre outros.
Lhes assustam os jovens, setor que costuma participar pouco, mas quando o faz muda todo o tabuleiro eleitoral, e que são agora a arma mais potente do candidato mais velho.
Lhes assusta uma campanha formada de uma coalizão multicultural e multirracial que reflete o futuro do país: o candidato de origem judaica, de classe trabalhadora, tem um chefe de campanha muçulmano (que opinarão os grandes analistas antissemitas?), a Nina Turner, uma dinâmica líder afro-estadunidense, a Carmen Yulin Cruz a ex-prefeita de San Juan, Puerto Rico, o deputado federal Ro Khanna, Analilia Mejía, entre outros.
E é claro o projeto político apresentado por Sanders, centrado no grande tema da desigualdade econômica, como também um reforma migratória imediata para proceder com a legalização dos indocumentados e terminar com as medidas anti-imigrantes, um seguro de saúde universal, educação superior gratuita, um New Deal Verde, e a restauração de direitos civis para todos.
Cornel West, intelectual público, professor de filosofia e religião em Harvard e ativo na campanha comentou recentemente que “estamos ante uma escalada do neofascismo ao redor do mundo, e nós temos que fazer nossa parte dentro do império dos Estados Unidos ao declarar que estamos comprometidos com os pobres e os trabalhadores… e por isso estamos com Sanders”.
Que susto!
*David Brooks é correspondente de La Jornada desde Nova York
**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
***Tradução: Beatriz Cannabrava
Veja também