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Coronavírus balança superpotência dos EUA ao fechar símbolo de liberdade do país

Pela primeira vez, Trump reconheceu que esta crise poderia detonar uma recessão econômica e advertiu que espera que o vírus continue por todo o verão
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O maior sistema de educação pública do país fecha, São Francisco e arredores ordenam às pessoas resguardar-se em casa e só sair para necessidades “essenciais”, a compra de armas dispara, fecha a Estátua da Liberdade e Donald Trump diz que sua resposta à crise merece nota 10. 

Depois de quase dois meses de minimizar a crise e há apenas uma semana tendo declarado que “se desvanecerá”, o presidente de repente mudou seu tom e esta segunda-feira reconheceu que a crise do coronavírus “não está sob controle” e que poderia permanecer assim até julho ou agosto. 

Recomendou que pelos próximos 15 dias as pessoas de idade avançada permaneçam em casa, que todos evitem reuniões de mais de 10 pessoas, o fechamento das escolas e que as pessoas suspendam viagens de lazer e visitas sociais.  

E também pela primeira vez reconheceu que esta crise poderia detonar uma recessão econômica e advertiu que espera que o vírus continue por todo o verão. Isso pouco antes de que a Bolsa de Valores de Nova York tenha concluído com sua pior jornada desde 1987 com uma caída de quase 13% apesar do anúncio da radical redução da taxa de juros pela Reserva Federal a quase zero. 

Pela primeira vez, Trump reconheceu que esta crise poderia detonar uma recessão econômica e advertiu que espera que o vírus continue por todo o verão

United States Africa Command
Depois de quase dois meses de minimizar a crise, Trump mudou o tom e reconheceu que a crise do coronavírus “não está sob controle”.

Por sua parte, o Congresso continuou avaliando pelo menos dois pacotes de assistência para o manejo e mitigação das consequências da crise de saúde. A Suprema Corte postergou pela primeira vez apresentações orais de casos, e o processo eleitoral continua sendo descarrilhado pela crise, com esforço para postergar eleições primárias em Ohio e Kentucky. 

Em outras partes do país, o sistema de educação pública da cidade de Nova York, o maior do país, cancelou aulas a partir desta mesma segunda-feira, e as autoridades dos estados de Nova York, Nova Jersey e Connecticut conjuntamente ordenaram o fechamento de todo o comércio “não essencial” e limitaram restaurantes, bares e café a oferecer só serviço para levar ou entregas a domicílio, ou fechar completamente. Vários outros estados anunciaram medidas parecidas. 

Do outro lado do país, em São Francisco  e nos cinco condados da área da Baía no coração do chamado Silicon Valley, incluindo San José, autoridades locais ordenaram que residentes ficassem em casa por três semanas e só saíssem para solucionar “necessidades essenciais” – a medida mais extrema e sem precedente no país.  

No domingo, o governador da Califórnia solicitou que todo residente maior de 65 anos de idade permaneça em casa, e pediu o fechamento de bares, clubes e dos famosos vinhedos do estado.

Na Florida, “o lugar más feliz do mundo”, o complexo turístico da Disney World, será fechado pelo resto deste mês. 

Com medidas parecidas através do país, a vida cotidiana de milhões de estadunidenses se descarrilhou de maneira quase impensável, com as consequências econômicas e sociais mal começando a ser sentidas dentro das casas, povoados, cidades por todo o país, nutrindo a incerteza e revelando a grande vulnerabilidade e fragilidade do país mais poderoso do planeta.

Enquanto isso, a venda de armas e munições disparou em vários estados nestas últimas semanas, com longas filas diante de lojas para comprar o que dizem que são necessidades básicas – -como rifles semiautomáticos AR-15- para sua proteção pessoal e de suas famílias, reportam Los Angeles Times e The Guardian.

E continuam versões reveladas por um jornal alemão de que Trump pessoalmente tentou negociar com “grandes somas” a compra dos direitos para o uso “exclusivo” nos Estados Unidos de una vacina contra o Covid-19 em desenvolvimento na Alemanha. Embora a empresa tenha rechaçado a versão, o maior investidor na empresa disse que foi Trump pessoalmente quem tentou negociar com a empresa CureVac.  A mandatária alemã Angela Merkel declarou que a controvérsia foi “resolvida”. 

Hoje a contagem de infectados neste país superou 4.500 com 85 mortos. 

A cidade silenciada

Em Nova York, a primeira coisa que se nota é uma redução do ruído nesta cidade sempre escandalosa nas 24 horas do dia. Em seus mais de 200 idiomas a sua população comenta e reage sobre o vírus e suas consequências para seus milhões de trabalhadores e seus demasiados milionários. 

Turistas varados em uma cidade cada vez mais clausurada buscam o que fazer sem museus, teatros, restaurantes. Os 1.1 milhões de estudantes no sistema de educação pública, de repente expulsos sem prévio aviso por um prefeito que mostrou de novo sua falta de liderança, agora esperam suas aulas “online”. 

Esta capital cultural mundial agora tem incontáveis músicos, atores, dançarinos, cômicos e todos os trabalhadores atrás dos cenários de repente silenciados e paralisados. No entanto, alguns começam a aparecer nas ruas e em algumas praças para tentar consolar à cada vez mais pouca gente nas ruas e avenidas. 

Se agradece um pouco de ruído.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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