Dois meses de ofensiva e de decisões extraordinárias permitem à China manter gradual controle sobre a Covid-19, com vantagem para reanimar sua vida socioeconômica e apoiar a comunidade internacional, sem subestimar um inimigo perigoso e ainda enigmático.
Agora o panorama é diferente: crescem menos as cifras diárias de mortos e enfermos da pneumonia, praticamente o país todo reduziu a emergência sanitária, pôs-se a andar o aparato produtivo e grande parte da população saiu às ruas.
Segundo dados oficiais, mais de 90% dos trabalhos foram retomados em setores como construção, gastronomia, transporte, bancos, mercado financeiro e agricultura de quase todas as regiões.
A província de Hubei – por ser a mais afetada – reativa mais devagar seus negócios, mas já abriu suas fronteiras e em 8 de abril próximo levantará as restrições ao movimento de pessoas e transporte em sua capital, Wuhan.
Outro sinal relevante é o anúncio de datas em 15 das 34 demarcações chinesas para reiniciar as aulas em instituições de ensino médio, pois alunos desse nível precisam preparar-se para exames importantes programados para junho.
Outros sinais auspiciosos são a retirada de muitos postos de saúde estabelecidos em público para medir a temperatura corporal, uma maior presença de trabalhadores nos escritórios e a volta dos hospitais a suas funções originais.
Além disso, agora que a doença é pandemia mundial, a China devolve os inumeráveis gestos de apoio que recebeu com doações de insumos médicos, envio de técnicos a distintos pontos do planeta, e intercâmbio de experiências a fim de derrotar, juntos, um inimigo comum da humanidade.
Prensa Latina
Outros sinais auspiciosos são a retirada de muitos postos de saúde estabelecidos em público
Mas foi um processo duro e o presidente Xi Jinping definiu o surto de Covid-19 como a emergência grave de saúde pública mais difícil de conter desde a fundação da República Popular Chinesa em 1949.
Para ele, a epidemia constituiu uma grande prova para o sistema e a capacidade de governar do gigante asiático, e por isso pediu aprender as lições, focar nos elos débeis e nas falhas expostas para melhorar a resposta nacional a contingências.
E, com efeito, o combate à afecção respiratória implicou em eliminar práticas incompatíveis, atacar e corrigir fissuras em várias frentes, fazer pleno uso de tecnologia de ponta e reforçar o sistema legal com normas que garantam superar a adversidade e evitar outras similares no futuro.
Ressaltou, nesse contexto, a proibição total do milenar comércio e consumo de animais selvagens pelo potencial vínculo com a origem do coronavírus SARS-Cov-2 que provoca a mortífera pneumonia.
Também implementou o fortalecimento da biossegurança dos laboratórios com medidas imediatas que possam prevenir as falhas detectadas no manejo de riscos e ajudem a lidar adequadamente com qualquer eventualidade que surja, especialmente em lugares especializados em patógenos.
Frente às vulnerabilidades na saúde, trabalha-se para otimizar o manejo do material sanitário e equipamento médico de reserva, resolver problemas como a lentidão no fluxo de informações e na interação necessária entre hospitais, centros de controle epidêmico e departamentos governamentais.
Entre outras questões, foi orientado às faculdades de medicina reprogramar os planos de estudo relativos às principais patologias infecciosas para preparar futuros médicos e enfermeiras na forma correta de auto proteger-se, enquanto trabalham em situações como a atual.
Lamentavelmente, mais de dois mil profissionais do ramo contraíram a pneumonia e vários perderam a vida, inclusive o oftalmologista Li Wenliang, que revelou o surto em dezembro passado.
Também soube-se de alguns mortos por esgotamento físico, pois, à medida que a batalha ganhou intensidade, mais deles ocuparam a primeira linha, de pé, durante extensas jornadas de trabalho e com equipamentos que os protegiam da doença, mas impedia a alimentação devida.
A luta interna contra a Covid-19 continua e atravessa uma etapa chave onde é necessário atender a estabilidade emocional de sobreviventes e trabalhadores da saúde, manter os resultados obtidos e evitar um retrocesso pelo incremento de casos importados, os quais estão próximos do meio milhar.
A China tem tolerância zero para com o contágio transfronteiriço e demonstra isso com um mecanismo mais rígido de controle nas alfândegas, quarentenas obrigatórias para passageiros de voos internacionais, sanções e até cadeia para aqueles que ocultem informações sobre a saúde e histórico de viagens.
Especialistas insistem em extremar a detecção desses pacientes e também dos assintomáticos porque se não são parados logo poderia haver uma segunda onda da afecção respiratória, principalmente quando alguns já a transmitiram a mais pessoas.
Yolaidy Martínez, Correspondente chefe de Prensa Latina na China.
Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução de Ana Corbisier
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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