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Enfrentando efeitos da Covid-19, China se recupera e avança rumo liderança econômica

Governo de Pequim ignora bravatas do governo dos EUA e acelera iniciativas que ampliam sua participação estratégica na economia e comércio internacional
Pepe Escobar
Brasil 247
São Paulo (SP)

Tradução:

Em meio à maior contração econômica em quase um século, o Presidente Xi, no mês passado, deixou muito claro que a China deveria se preparar para ameaças externas implacáveis e sem precedentes.  

Ele não se referia apenas ao possível desacoplamento das cadeias de abastecimento globais e à incessante demonização de todos os projetos relacionados às Novas Rotas da Seda, ou Iniciativa Cinturão e Rota. 

Um documento interno supostamente vazado, secreto e invisível dentro da China, mas mesmo assim obtido por alguma fonte obscura com conexões no Ocidente, chegava a afirmar, em essência, que o jogo de culpabilização contra a China com relação ao vírus é como a repetição da reação negativa a Tiananmen.  

Segundo esse documento secreto e invisível, a China teria que “se preparar para um confronto armado entre às duas potências globais”- uma clara referência aos Estados Unidos. É como se essa estratégia agressiva fosse de iniciativa do estado chinês, e não uma reação à escalada maciça da guerra híbrida 2.0 deslanchada pelo governo dos Estados Unidos.

Governo de Pequim ignora bravatas do governo dos EUA e acelera iniciativas que ampliam sua participação estratégica na economia e comércio internacional

Twitter / Reprodução
O Presidente Xi, no mês passado, deixou muito claro que a China deveria se preparar para ameaças externas implacáveis e sem precedentes

Demonização histérica

Para todos os fins práticos, a demonização histérica da China por todo o Beltway de Washington agora superou a histeria anterior de demonização da Rússia.

O que Pequim antes definia como um “período de oportunidade estratégica” chegou ao fim. Corriam rumores nos círculos da inteligência chinesa de que as lideranças do PCC calculavam que essa janela de oportunidade estratégica se prolongaria sem impedimentos até a data chave de 2049, quando o “rejuvenescimento nacional” teria sido plenamente alcançado. 

Pode esquecer. Agora, ao jogo está concentrado na guerra híbrida 2.0 empregada pelos Estados Unidos para conter a potência emergente, custe o que custar. E isso implica também que uma pletora de planos chineses passou agora a ser turbinada ao máximo.

Prioridades

A prioridade absoluta, agora, é recuperar a produtividade da máquina Made in China. Durante sua recente visita à província de Shaanxi, de importância histórica crucial para o PCC, o Presidente Xi insistiu nessa prioridade, acoplada à ofensiva anti-pobreza. Ele havia prometido eliminar a pobreza neste ano de 2020. 

O que é importante e contrário a todas as previsões ocidentais é que as exportações chinesas cresceram 3,5% em abril, depois de uma queda de 6,6% em março. Isso destrói por completo a razão de ser do desacoplamento. O governo japonês, por exemplo, vem acelerando às pressas a relocação de suas fábricas situadas na China. Uma estratégia nada inteligente.

Essas fábricas estão deixando um país onde o Covid-19 foi praticamente erradicado. E se elas se transferirem para o Vietnã, bem, será ainda uma economia socialista (com características vietnamitas). 

Queda e recuperação

O crescimento do PIB da China caiu em cerca de 6,8% no primeiro trimestre de 2020. A recuperação já começou. Oficialmente, o desemprego estava em 5,9% em fins de março – não considerando trabalhadores migrantes que retornaram às grandes cidades depois de passar o pico da epidemia em zonas rurais. Houve projeções de desemprego de 20%, que mais tarde foram retiradas. 

A recuperação será uma mistura de estímulo econômico às empresas, pequenas e grandes; investimentos em infraestrutura; e auxílio na forma de vales para a grande massa de trabalhadores. O sistema hukou – que liga os direitos sociais ao local de residência – também será reformado. A data chave será 22 de maio, durante a  sessão adiada do Congresso Nacional do Povo.  

Pepe Escobar, jornalista investigativo independente brasileiro, especialista em análises geopolíticas 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Pepe Escobar Pepe Escobar é um jornalista investigativo independente brasileiro, especialista em análises geopolíticas e Oriente Médio.

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