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Sob nuvem da pandemia, Trump promove agenda política contra críticos e migrantes

A Casa Branca não deixa de reiterar sobre o perigo de “estrangeiros” e imigrantes agora como ameaças à saúde pública de seu país
David Brooks
Prensa Latina
Nova York

Tradução:

Sob a nuvem da pandemia, e utilizando essa emergência de saúde pública para se justificar, o governo de Donald Trump prossegue com sua agenda política de proteger seus operativos delinquentes e sua ofensiva contra migrantes e o meio ambiente. 

Quase 2 mil ex-oficiais do Departamento de Justiça exigiram hoje a renúncia do procurador geral Bill Barr por sua decisão de interferir no caso do ex-assessor de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, ordenando a retirada das acusações pelas quais o próprio acusado confessou sua culpa. 

Em uma carta aberta, os ex-funcionários denunciaram a decisão do titular do Departamento de Justiça de agir por interesses políticos de Trump ao solicitar o encerramento do caso, assinalando que tal manobra “é um assalto contra o império da lei”. Sublinham que “nossa democracia depende de um Departamento de Justiça que atue como árbitro independente de justiça equitativa, e não como braço do aparelho político de um presidente”.

Outro ex-procurador federal, Jonathan Kravis, que renunciou há três meses por causa da manipulação política do caso de Roger Stone, também integrante do círculo interno de Trump, escreveu hoje no Washington Post que tomou essa decisão depois de trabalhar 10 anos como promotor federal porque o Departamento de Justiça “abandonou sua responsabilidade de fazer justiça” nesse caso. Acusou que na semana passada, ao proceder a retirar as acusações contra Flynn, “o departamento pôs outra vez o clientelismo político na frente de seu compromisso com a império da lei” o que implica uma “traição” ao princípio de “justiça equitativa sob a lei”. 

Tudo isso é parte da ofensiva política que promete impunidade a toda figura leal ao presidente e ataca qualquer funcionário, governador, legislador que tenha se atrevido a criticar ou investigar a ele ou a seus colaboradores. 

A Casa Branca não deixa de reiterar sobre o perigo de “estrangeiros” e imigrantes agora como ameaças à saúde pública de seu país

The White House
O governo de Trump continua desmantelando de maneira sistemática as normas e proteções ecológicas que foram estabelecidas durante anos.

Por outro lado, a pandemia continua sendo usada como pretexto para implementar novas medidas anti-imigrantes. Usando velhas leis de saúde pública para impulsionar seus objetivos anti-imigrantes, o governo conseguiu implementar há um mês uma ordem supostamente temporária para a deportação imediata de qualquer um que chegue à fronteira sul, incluindo solicitantes de asilo e menores de idade, sem necessidade de avaliar seus casos – mais de 20 mil já foram vítimas de uma medida que especialistas denunciam como uma violação dos direitos de imigrantes, sobretudo para solicitantes de asilo e para menores de idade. 

“A ordem do governo expulsando refugiados e crianças… não faz nada para proteger a saúde pública, ataca os mais vulneráveis, pisoteia seus direitos e disfarça as deportações como parte da luta contra o coronavírus para evitar prestar contas”, escreveram o professor de leis em Stanford, Lucas Guttentag, e o professor de políticas de saúde na Universidade da Califórnia, Berkeley, Stefano Bertozzi, em um artigo publicado pelo New York Times.

“A Casa Branca está buscando ampliar e até tornar permanentes estas medidas supostamente temporárias sob o pretexto da pandemia e que poderiam ser ampliadas”, reportou o Wall Street Journal. De fato, está sendo avaliada uma nova ordem executiva que poderia anular algumas categorias de novos vistos de trabalho e estudantis, tudo justificado com a emergência de saúde e as consequências econômicas da pandemia. 

A Casa Branca não deixa de reiterar sobre o perigo de “estrangeiros” e imigrantes agora como ameaças à saúde pública de seu país – o mais contagiado do mundo, motivo pelo qual seus cidadãos são os mais perigosos para o resto do mundo.   

E enquanto a pandemia, que está vinculada à sistemática destruição ambiental do planeta, segundo especialistas, põe em perigo o planeta inteiro, o governo de Trump continua desmantelando de maneira sistemática as normas e proteções ecológicas que foram estabelecidas durante anos, sobretudo as conseguidas pelo governo de Barack Obama (a ofensiva às vezes é manejada como uma vingança pessoal do presidente contra seu antecessor). 

Não só procede a anular tudo o que seja vinculado com o chamado acordo de Paris sobre a mudança climática, mas também está cancelando regulamentações e limites à contaminação por automóveis, pelo setor de hidrocarbonetos, abrindo zonas ecológicas para exploração, freando iniciativas de combustíveis e energias renováveis e até enfraquecendo o controle para venenos como o mercúrio. 

“O que Trump faz é criar uma blitzkrieg contra o meio ambiente”, comentou Douglas Brinkley, um historiador da Universidade Rice que se especializa no tema, a The Guardian.  “Não só está tentando desmantelar as conquistas ambientais de Obama, mas regressar o relógio aos tempos de Richard Nixon… É a morte por mil feridas”. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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