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Ao culpabilizar China, Trump continua tentando esconder fracasso no combate à pandemia

Diante de dezenas de milhares de mortes evitáveis e 38.6 milhões de desempregados no país, estadunidense culpa falsamente o país asiático
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Diante dos fatos de que seu manejo da pandemia provocou dezenas de milhares de mortes evitáveis e mais de 38 milhões de novos desempregado em apenas nove semanas, Donald Trump não só se recusa a aceitar a responsabilidade, mas continua culpando todos os demais, sobretudo a China, pelo desastre que seu governo provocou.

Pelo menos 36 mil mortes poderiam ter sido evitadas se houvessem sido implantados medidas de distanciamento social uma semana antes de quando as autoridades finalmente decidiram fazer isso, segundo uma nova pesquisa de especialistas em saúde pública da Universidade da Columbia.

Se as autoridades tivessem agido duas semanas antes, a partir de primeiro de março, em lugar de meados desse mês como foi o caso, 83% das mortes teriam sido evitadas – umas 54 mil – segundo os especialistas, reportou o New York Times em sua primeira página.

O presidente Donald Trump, diante do acúmulo de evidências, como essas, entre outras, de que sua resposta tardia e mal coordenada custou dezenas de milhares mortes estadunidenses e uma crise econômica que, com as novas cifras oficiais semanais emitidas hoje, deixou mais 38,6 milhões de desempregados, continua acusando a todos do desastre, menos a ele mesmo.

Para conseguir isso tem distorcido a narrativa de como surgiu e se desenvolveu a Covid-19 e levou seu país a ser o epicentro mundial da pandemia. A linha de tempo tem sido reportada por vários meios, com diferentes detalhes, mas todos comprovam a falsidade e o engano da história oficial propagada pelo governo de Trump.

Diante de dezenas de milhares de mortes evitáveis e 38.6 milhões de desempregados no país, estadunidense culpa falsamente o país asiático

The White House
Trump agora declara que “ninguém” o informou, que “ninguém” poderia ter prognosticado o desastre

Do “tudo sob controle” à “emergência nacional”

Durante janeiro e fevereiro – apesar de numerosas advertências de seus próprios assessores, dos chineses e da Organização Mundial da Saúde (OMS) – Trump insistiu que o vírus não era nada grave, que tudo estava “sob controle” e que os Estados Unidos tinham a capacidade para manejar o vírus, e esperou até 13 de março – depois de dias de auto elogiar seu manejo da Covid-19 – para declarar uma emergência nacional.

Em resposta à pergunta sobre se seu governo havia se preparado adequadamente com suficientes testes e equipamentos médicos, respondeu: “eu não assumo nenhuma responsabilidade”. Pouco depois, o país se converteu no epicentro mundial da pandemia.

Trump agora declara que “ninguém” o informou, que “ninguém” poderia ter prognosticado o desastre, e que apesar disso nunca ninguém manejou uma crise tão bem como ele, enquanto não deixou de culpar a todos os demais – e em particular a China – por talvez a pior crise de saúde e econômica e quase um século.

Memorando faccioso, China o alvo

De fato, um memorando do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca datado de 20 de março, nove dias depois que a OMS declarou a pandemia, instruiu funcionários estadunidenses a acusar a China de haver encoberto a pandemia e desinformar o mundo, e, ao mesmo tempo, elogia a resposta estadunidense demonstrando que “são os maiores humanitários que o mundo já conheceu”, segundo o telegrama do Departamento de Estado obtido e publicado por The Daily Beast em março.

O ataque de Trump contra a China, explica o jornalista Vijay Prashad em Peoples Dispatch, é “parte integral da agenda do governo estadunidense de deslocar sua própria incompetência para a China e assegurar que a China não receba crédito nem benefícios associados no âmbito mundial por sua própria resposta ágil” à crise de saúde pública. Prashad assinala que foi a China que rapidamente informou tanto a OMS no fim de dezembro e o governo estadunidenses em 3 janeiro sobre o perigo que o vírus representava.

Mas durante janeiro, fevereiro e a metade de março, Trump minimizou a ameaça à saúde pública. Em meados de março, haviam sido registradas 88 mortes nos Estados Unidos; um mês depois essa cifra superava os 50 mil – muito mais que na China – e o prognóstico é que superará as 100 mil mortes no fim deste mês.

Trump continuou com sua narrativa contra a China nesta semana, reiterando por tuíte que esse poder asiático está promovendo “uma campanha massiva de desinformação” sobre seu manejo do vírus, para “tentar desesperadamente desviar a dor e a carnificina que seu país propagou por todo o mundo”.

Ao mesmo tempo, Trump proclama que os EUA “está em transição de volta à sua grandeza”, enquanto são noticiadas milhares de outras mortes e milhões de novos desempregados.

David Brooks, correspondente.de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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