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Graças à arrogância e negacionismo de Trump, EUA supera 100 mil mortes por Covid-19

Saldo mortal de vítimas do coronavírus foi alcançado em pouco mais de quatro meses e supera em dezenas de milhares os prognosticados pela Casa Branca
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Os Estados Unidos superaram hoje 100 mil mortes pela Covid-19, consolidando a liderança mundial no número de vítimas fatais e a narrativa de que a grande maioria das mortes resultou do manejo político tardio e caótico da pandemia pelo presidente Donald Trump. 

Neste cenário, Trump, que apenas recentemente decidiu declarar uma “guerra” contra um “inimigo invisível”, converteu-se no presidente e comandante em chefe que carrega sobre seus ombros o maior número de mortes de estadunidenses, mesmo que sejam somados o número de baixas (mortes) relacionados as guerras da Coréia, Vietnã, Iraque e todas as demais ações militares, inclusive as que se encontram ativas atualmente.  

O saldo mortal de vítimas do coronavírus foi alcançado em pouco mais de quatro meses e supera em dezenas de milhares os prognosticados pela Casa Branca ao longo das últimas semanas. Especialistas asseguram que o total é seguramente ainda maior, já que não se conta com dados precisos no nível nacional. 

Saldo mortal de vítimas do coronavírus foi alcançado em pouco mais de quatro meses e supera em dezenas de milhares os prognosticados pela Casa Branca

Youtube / Reprodução
Os Estados Unidos superaram hoje 100 mil mortes pela Covid-19

Mortes evitáveis e a narrativa trumpiana

Segundo várias pesquisas recentes, a grande maioria destas mortes poderiam ter sido evitadas se o governo Trump houvesse implementado medidas de quarentena parcial e distanciamento social duas semanas antes de quando foram ordenados, em 16 de março.

De acordo com um pesquisa de especialistas da Universidade da Colúmbia difundida há uma semana, 83% das mortes poderiam ter sido evitadas se as medidas tivessem sido implementadas em 1º de março; e se os governantes tivessem agido uma semana antes, teriam sido evitadas 40 mil mortes.

Mesmo diante das informações e números, ontem, através do Twitter, Trump reiterou “que foi só pela sua grande liderança que se conseguiu que apenas 100 mil tenham morrido” (até agora). E acusou os meios de comunicação e os democratas de “propagar uma nova narrativa de que o presidente Trump foi lento em reagir à Covid-19. Equivocados! Fui muito rápido…”.

Joe Biden, o provável candidato presidencial democrata comentou em um comunicado: “Muito disso poderia ter sido prevenido se tivéssemos um presidente que escutasse mais alguém além de si mesmo”.

Ameaças ou bravatas trumpinianas

Mas o dia começou com Trump defendendo seu direito de enganar. Intensificou a disputa pela ação do Twitter que inseriu, pela primeira vez, avisos que diziam “verifique os fatos”, em dois tuítes presidenciais.

Diante disso, Trump declarou nesta quarta-feira, por tuíte, que a medida adotada pelo Twitter era “um atropelo intolerável à liberdade de expressão” e ameaçou determinar até mesmo o fechamento da empresa.

“Os Republicanos sentem que as Plataformas de Meios Sociais silenciam totalmente vozes conservadoras. Regularemos firmemente, ou as fecharemos, antes de permitir que isso aconteça”.

Na terça-feira à noite acusou que o “Twitter está interferindo agora na eleição presidencial de 2020… o Twitter está sufocando completamente a Liberdade de Expressão, e eu, como presidente, não permitirei que aconteça!”

Mundo real

Enquanto isso, os múltiplos efeitos da crise continuam se manifestando. Milhões de inquilinos ao redor do país estarão enfrentando a perda de suas casas ao ser concluídas as moratórias temporárias em vários estados sobre o pagamento de aluguéis. Sobretudo inquilinos de baixa renda e os mais afetados pela onda de desemprego, cujos benefícios de emergência estão quase esgotados, estarão agora diante da possibilidade de ser despejados em pelo menos a metade dos estados do país, reportou o New York Times. Uma especialista no tema prognosticou “uma avalanche de despejos” em várias partes do país. 

Por sua vez, Trump continuou insistindo em realizar a convenção nacional de seu Partido Republicano em agosto sem restrições de tamanho e atividades. A presidente da câmara baixa, a democrata Nancy Pelosi, respondeu que se deveria evitar convenções em grande escala e que a decisão final deveria estar sujeita a especialistas e autoridades locais. “Não creio que haja ninguém que diga a essas alturas que dezenas de milhares de pessoas deveriam reunir-se para uma convenção política, sem importar o quanto isso infla o ego de alguém (obviamente em referência a Trump). É demasiado perigoso para tantos”. 

Por outro lado, um terço dos estadunidenses exibem sinais de ansiedade ou depressão clínica em meio à pandemia, reportou o Bureau do Censo.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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