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Enquanto popularidade de Trump cai, Biden aposta na invisibilidade para vencer eleições

Preocupados pela tibieza de seu candidato, mais de 50 agrupamentos liberais firmaram uma carta aberta esta semana, criticando Biden por sua postura
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Faltam 138 dias para a eleição presidencial, dia 3 de novembro; com o manejo político da pandemia da Covid-19, a crise econômica que gerou e agora o grande debate sobre o racismo sistêmico definindo a conjuntura, alguns prognosticam até uma possível crise política. 

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Embora o tema da eleição nacional ficasse relegado a um plano secundário nos últimos meses entre as crises de saúde, a econômica e a detonada pela violência oficial, daqui em diante tudo será medido em termos eleitorais pela cúpula política do país. Os dois candidatos presidenciais estão tratando de buscar a maneira de abordar uma conjuntura sem precedente, para a qual nenhum dos dois tem respostas.  

Para a reeleição de Trump, cuja consigna foi “Fazer a América grande outra vez”, o presidente tem buscado a forma de culpar a todos – China, Organização Mundial da Saúde, imigrantes e os meios – menos a ele mesmo dos desastres do seu mandato. Sua equipe está contemplando até culpar de novo o México por novos brotes da Covid-19 no sudoeste, reportou AP – vale recordar que justamente há cinco anos Trump lançou sua campanha de eleição na qual acusou os mexicanos de crimes e violações.

Preocupados pela tibieza de seu candidato, mais de 50 agrupamentos liberais firmaram uma carta aberta esta semana, criticando Biden por sua postura

National Catholic Reporter
Faltam 138 dias para a eleição presidencial, dia 3 de novembro.

80% dos 115 mil mortos pela Covid-19 não teriam falecido se o governo de Trump tivesse agido duas semanas antes com medidas de confinamento, segundo pesquisas recentes ; e os enganos e erros da Casa Branca desde o início da pandemia explicam porque Donald Trump está buscando evitar e até pretender que não existe essa crise; por isso é que nunca usou máscara em público. 

E ainda mais, tem ordenado continuar com eventos públicos de massa para sua campanha, com seu primeiro comício eleitoral público em meses programado para Tulsa neste fim de semana, apesar de advertências de oficiais de saúde pública (e onde, se houver dúvida, os participantes têm que assinar um documento liberando de responsabilidade a Campanha de Trump caso se contagiem de Covid-19). Transferiu a culminação da Convenção Republicana a Jacksonville depois que autoridades na Carolina do Norte se recusaram a garantir que o evento aconteceria em Charlotte, como estava programado, como se não houvesse pandemia.

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Diante dos protestos massivos e uma esmagadora maioria da opinião pública, o presidente se viu obrigado a firmar uma ordem executiva de reformas policiais, mas nunca menciona o tema do racismo no comportamento de policiais. O presidente decidiu rodear-se de oficiais de segurança pública no ato para firmar sua ordem na qual declarou que “sem polícia, há caos”, e disse que só um número reduzido de oficiais cometeram atos de brutalidade policial e sublinhou que “os estadunidenses querem lei e ordem”, lema que será central em sua campanha de reeleição.  

Enquanto isso, a violência de grupos direitistas e anti-imigrantes nutrida pela retórica presidencial continua brotando pelo país. Na noite de segunda-feira uma “milícia” armada atacou ativistas que tentavam derrubar a estátua do conquistador espanhol Juan de Oñate em Albuquerque, deixando em estado crítico um manifestante. 

Homens armados e identificados com grupos de extrema direita têm se apresentado na onda de protestos através do país durante as últimas três semanas, inclusive em Minneapolis, Atlanta, Filadélfia, Dallas e Salt Lake City, reporta o Washington Post. Este tipo de agrupamento nunca foi denunciado por Trump e algumas pessoas temem que poderiam tornar-se ainda mais ativos ao se aproximarem as eleições. 

E Biden?

O suposto candidato democrata Joe Biden tem saído pouco, guardando uma espécie de quarentena parcial e se suspeita que sua invisibilidade seja calculada enquanto seu oponente está em apuros pelas crises que tem criado, sem que se requeira a presença do democrata.  

Mas isso não tranquiliza os democratas preocupados pela tibieza de seu candidato. De fato, mais de 50 agrupamentos liberais firmaram uma carta aberta esta semana, criticando Biden por sua resposta contrária – propôs elevar os gastos para as polícias – diante das demandas de reformas de fundo pelos manifestantes, e advertindo que isso poderia custar a ele o apoio de eleitores afro-estadunidenses que serão chaves para seu êxito eleitoral.  

Por ora, a posta parece ser que o democrata ganhará pelo voto anti-Trump e não por um voto por Biden. 

A aprovação popular de Trump caiu uns 10 pontos em apenas um mês, segundo o Gallup, a só 30%. Na média das principais pesquisas calculada por RealClearPoltiics, Biden hoje goza de uma vantagem de mais de 8 pontos sobre o republicano, quase o dobro de há poucas semanas.

Alguns especialistas advertiram que Trump poderia buscar descarrilar o processo democrático declarando uma “emergência” ou questionando sua legitimidade. Vale recordar que talvez seja o único mandatário da história que ainda acusa que houve fraude em uma eleição que ganhou em 2016.

Portanto, talvez a única resposta seja que um país que possa ser considerado, dada sua múltipla crise atual, uma “democracia fracassada” precise ser resgatado “americano”, e é por isso que os comediantes do Daily Show fizeram um chamado para que “o Canadá invade os Estados Unidos e restaura sua democracia“.

David Brooks, Correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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