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Vingança de Bolton contra Donald Trump toma forma em livro a ser lançado

Ex-conselheiro de Segurança Nacional acusou o presidente estadunidense de tentar brecar antes da obra estar à venda na próxima semana
David Brooks
Diálogos do Sul
Nova York

Tradução:

Donald Trump opinou que invadir a Venezuela seria “cool”, solicitou a China ajuda para ganhar a reeleição, insistiu em seu muro fronteiriço para fins eleitorais e exibiu de múltiplas maneiras sua ignorância e seu manejo caótico das relações internacionais, escreve John Bolton, o ex-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, em seu livro que o presidente está tentando brecar antes de estar à venda na próxima semana. 

Segundo cópias do livro, The Room Where it Happens (O quarto onde tudo acontece) obtidas por alguns meios nacionais, em várias ocasiões Trump expressou sua disposição de frear investigações “para oferecer, efetivamente, favores pessoas a ditadores de quem gostava”, como os da China e da Turquia, o que poderia ser obstrução da justiça, escreve o autor.  

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Por isso, Bolton critica os democratas por enfocar seu processo de impeachment só sobre a Ucrânia (o livro confirma que Trump condicionou a assistência militar a Kiev em troca de uma investigação contra seu opositor democrata) e não ampliar suas investigações a estes outros casos. 

Ex-conselheiro de Segurança Nacional  acusou o presidente estadunidense de tentar brecar antes da obra estar à venda na próxima semana

Reprodução: Winkiemedia
John Bolton, o ex-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca

Entre as revelações mais inovadoras está a de que Trump solicitou explicitamente o apoio da China para sua reeleição em 2019, instando o presidente Xi Jinping a incrementar a compra de produtos agrícolas estadunidenses, sobretudo soja e trigo, para obter assim o apoio de estados agrícolas na eleição. Comentou a Xi que o público estadunidenses desejava mudar a Constituição para manter Trump em seu posto por mais tempo que apenas os dois mandatos permitidos. 

Por outro lado, Bolton cita o presidente comentando que invadir a Venezuela seria “cool” e que essa nação sul-americana “na verdade é parte dos Estados Unidos”, reportou o Washington Post, que conta com uma cópia do livro. E mais ainda, Bolton conta que em maio de 2019 em uma conversação telefônica, Vladimir Putin, buscando proteger Nicolás Maduro, manipulou Trump comparando Juan Guaidó com Hillary Clinton.

Em 2018, Trump repetia seu desejo de expulsar do poder a Maduro, e embora tenha aceitado a proposta de Bolton de reconhecer oficialmente Guaidó como presidente, quase de imediato se preocupou com que o opositor parecia um “moleque” fraco diante do “duro” Maduro. 

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O presidente é caracterizado por Bolton como “errático” e “assombrosamente desinformado” e acusa muitos de seus assessore próximos de compartilhar essa percepção. Os exemplos de ignorância do presidente incluem que Trump não sabia que a Grã Bretanha é um poder nuclear, uma vez perguntou se a Finlândia era parte da Rússia e se confundia entre presidentes do Afeganistão, entre outras coisas. 

“Seu pensamento era como um arquipélago de pontos…, deixando o resto para que nós discernirmos – criássemos – a política”, escreve Bolton segundo o New York Times.

E não faltava o desprezo e ameaças contra os meios. Bolton escreve que no verão do ano passado, Trump comentou que os jornalistas deveriam ser encarcerados até que revelassem suas fontes, agregando que “deveriam ser executados”. 

Bolton sublinha, segundo o Post, que toda decisão significativa de Trump era “guiada por cálculos de reeleição”.  

Conta como Trump gritava em uma reunião com seus assessores em 2018, que o fluxo migratório tinha que ser reduzido e o muro fronteiriço construído porque “eu fui eleito sobre este tema e agora vão me deseleger”, se isso não avança. 

O Departamento de Justiça interpôs uma demanda judicial para frear a publicação e venda do livro, programada para a próxima terça-feira, argumentando que contém informação secreta de “segurança nacional”. 

Em parte por isso, o livro já chegou ao primeiro lugar dos mais vendidos em Amazon, mesmo antes de seu lançamento oficial. Reporta-se que o contrato de Bolton pelo livro é de 2 milhões de dólares.

Embora tenham sido publicados outros livros e artigos de ex-colegas e oficiais desta presidência, Bolton é o funcionário de mais alto posto a oferecer revelações sobre sua experiência durante os 17 meses que se desempenhou com assessor de Segurança Nacional do presidente (renunciou em setembro de 2019, embora Trump insista em dizer que o despediu).  

Bolton tem uma carreira longa e controversa na esfera oficial, servindo sob presidentes republicanos de Ronald Reagan aos dois Bush, um “falcão” extremo que favoreceu armas à diplomacia para lidar com os casos do Iraque, Irã e Coréia do Norte, entre outras.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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