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Divisor de águas? Black Lives Matter está resgatando futuro dos EUA ao recordar história

Não duvido em declarar, com toda a minha alma, que o caráter e a conduta desta nação nunca me pareceu mais escura que neste 4 de julho
David Brooks
Prensa Latina
Nova York

Tradução:

O movimento Black Lives Matter é possivelmente a maior mobilização de protesto social da história dos Estados Unidos, e está resgatando o futuro de seu país ao recordar sua história real.

“O que compartilho eu?, o que eu represento com a independência nacional de vocês? Aqueles grandes princípios de liberdade política e de justiça natural, encarnados nessa Declaração de Independência, nos incluem? As bençãos de que vocês se regozijam neste dia não são gozadas em comum – A herança rica de justiça, liberdade, prosperidade entregue por seus pais, é compartilhada por vocês, não por mim. Este 4 de julho é de vocês, não meu. Vocês podem se regozijar, eu tenho que estar de luto… Concidadãos, por cima de sua alegria nacional tumultuosa, eu escuto o triste lamento de milhões cujas correntes, pesadas e dolorosas hoje são ainda mais intoleráveis por gritos de júbilo que nos alcançam… Não duvido em declarar, com toda a minha alma, que o caráter e a conduta desta nação nunca me pareceu mais escura que neste 4 de julho… O país é falso ao passado, falso ao presente, e solenemente se ata para ser falso ao futuro. De pé com Deus e o escravo esmagado e sangrando nesta ocasião, eu, em nome da humanidade que está indignada, em nome da liberdade acorrentada, em nome da constituição e da Bíblia que são ignoradas e pisoteadas, me atreverei a questionar e a denunciar … tudo o que serve para perpetuar a escravidão – o grande pecado e vergonha dos Estados Unidos… 

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“Não é luz o que se necessita, senão fogo; não é ums garoa, senão trovões. Necessitamos a tormenta, o torvelinho e o terremoto… A hipocrisia da nação tem que ser exposta; e seus crimes contra Deus e o homem têm que ser proclamados e denunciados… O que é, para o escravo americano, o 4 de julho de vocês? Respondo; um dia que lhe revela, mais que todos os outros dias do ano, a grave injustiça e crueldade na qual é a vítima constante. Para ele, esta celebração é uma farsa… um fino véu para encobrir os crimes que desgraçariam uma nação de selvagens. No há nação no mundo culpada de práticas mais espantosas e sangrentas que as do povo dos Estados Unido nestes momentos… Por barbarismo repugnante e hipocrisia sem vergonha, os Estados Unidos reinam sem um rival”.  

Não duvido em declarar, com toda a minha alma, que o caráter e a conduta desta nação nunca me pareceu mais escura que neste 4 de julho

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O movimento Black Lives Matter é possivelmente a maior mobilização de protesto social da história dos Estados Unidos.

Essas palavras são fragmentos de um discurso oferecido justamente nesta data em 1852, sobre o significado do 4 de julho, Dia da Independência que celebra a luta pela liberdade, pelo abolicionista Frederick Douglass, que era um ex-escravo afro-estadunidense, e diretor do rotativo The North Star (o qual, por certo, foi entre os primeiros a publicar um editorial sobre a guerra dos Estados Unidos contra o México, que ele chamou de “uma guerra ignominiosa, cruel e desigual” e na qual o “México parece ser condenado a ser vítima do cupido e do amor anglo-saxão da dominação”). 

Mas o grande Douglass, entre outros, estaria surpreendido de que suas palavras de 168 anos atrás estariam na boca de participantes no que se calcula que é agora o maior movimento de protesto social da história dos Estados Unidos, reportou o New York Times.  Se calcula que entre 15 e 26 milhões de pessoas têm participado dos protestos.  

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“O pior erro que poderíamos cometer agora, com todas estas marchas, estes protestos nas ruas, seria demandar demasiado pouco…  É a hora por uma revolução moral de valores”, afirma o Reverendo William Barber, que é quem encabeça a Campanha dos Pobres. 

Assustado, o presidente declarou, em seus festejos do Dia da Independência, que este movimento é “o inimigo de seu país” – ou seja, já não são os mexicanos e os imigrantes, nem outros poderes o inimigo, mas sim outros estadunidenses que se opõem a ele e a tudo o que ele representa. 

O país está em um divisor de águas onde tem que enfrentar o que foi, o que é, e decidir – e lutar – pelo que quer ser.  

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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