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Recessão, Mary Trump e Biden: os furacões da pandemia que açoitam o presidente dos EUA

Trump assombrou ao usar a Casa Branca para um discurso eleitoral atacando Joe Biden, como alguém que levará os Estados Unidos ao caos – ou pior, ao socialismo
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Enquanto seu país continua sendo o mais contagiado e mortal do mundo e com um terço da população sem poder pagar as prestações de suas casas, um duplo furacão da pandemia e da crise econômica açoitam Donald Trump que a cada dia insiste em que tudo está sob controle e culpa a todos menos a si próprio pelo desastre. 

A pandemia descontrolada nos Estados Unidos está registrando um novo recorde de contágios a cada dia desta semana, a Casa Branca e seu chefe desqualificam a todos e tudo o que diga a verdade sobre as dimensões da crise da saúde pública e suas consequências econômicas.

Continuou a guerra da Casa Branca contra o doutor Anthony Fauci – o principal especialista do governo para a pandemia – a tal nível que incluiu algo sem precedentes: o assessor de comércio de Trump, Peter Navarro, publicou um artigo de opinião no USA Today atacando publicamente seu próprio colega governamental, afirmando que “sempre esteve equivocado em tudo”.

Fauci hoje comentou que estava assombrado por estes ataques e sugeriu deixar de lado toda essa “bobagem” para enfocar todos os esforços contra a Covid-19.

Trump assombrou ao usar a Casa Branca para um discurso eleitoral atacando Joe Biden, como alguém que levará os Estados Unidos ao caos – ou pior, ao socialismo

White House
A pandemia descontrolada nos Estados Unidos está registrando um novo recorde de contágios a cada dia desta semana

Flórida e ataques a Biden

Na Flórida, estado chave para a reeleição de Trump, sua residência oficial e sede da convenção republicana para o próximo mês, a Covid-19 está matando aproximadamente o mesmo número de pessoas que em toda a União Europeia (que tem 20 vezes a população).

Em outra frente eleitoral, Trump atacou seu opositor democrata Joe Biden, como alguém que levará os Estados Unidos ao caos – ou pior, ao socialismo. Na terça-feira. Trump assombrou ao usar a Casa Branca para um discurso eleitoral e hoje continuou essa mensagem por um tuíte advertindo que Biden “e a Esquerda Radical querem abolir a polícia, abolir o ICE (o serviço de imigração)… abolir os subúrbios, abolir a Segunda Emenda (que supostamente protege o direito privado às armas) – e abolir o American Way of Life. Ninguém estará seguro na América de Joe Biden!”.

Recessão, Ivanka e Mary Trump 

Ao mesmo tempo, no meio da pior recessão desde a Grande Depressão, a Casa Branca, em uma iniciativa oficial encabeçada por Ivanka Trump, a filha milionária do presidente multimilionário instou os estadunidenses desempregados – por ora uns 18 milhões com outros 33 milhões que recebem salário desemprego – a usar esta conjuntura para “buscar algo novo”. 

Segundo alguns cálculos, 32% das famílias no país não conseguiram pagar seus aluguéis ou as prestações de suas hipotecas, reporta CNBC. Ao mesmo tempo, espera-se centenas de milhares de possíveis despejos ao serem vencidas as moratórias para expulsar inquilinos por falta de pagamento. 

A sobrinha de Trump, a psicóloga Mary Trump, declarou ontem (15) que seu tio “deve renunciar”, advertindo que “ele é absolutamente incapaz de ser líder deste país e é perigoso permitir que o faça”, comentou à ABC News.

O livro da sobrinha, publicado esta semana, afirma que seu tio é “o homem mais perigoso do mundo”, que vem de uma história familiar de abuso mental, que fraudou o exame de ingresso à universidade (pagou a outro para fazer por ele) e que é tão frio que na noite em que o pai da autora, o irmãos mais velho do presidente, morreu em um hospital por causa do alcoolismo, seu irmão Donald o deixou sozinho e decidiu ir ao cinema. 

“Se é Goya, tem que ser bom” 

Enquanto isso, outra parte da família, a filha do presidente, Ivanka, decidiu emitir um tuíte na noite de terça-feira elogiando a marca de alimentos latinos Goya, com uma foto dela com uma lata de feijão preto e a mensagem: “se é Goya, tem que ser bom”.

O executivo chefe dessa empresa, Robert Unanue havia estado na Casa Branca com Trump na semana passada, quando declarou “todos estamos verdadeiramente abençoados por ter um líder como o presidente Trump”, detonando um movimento de boicote à empresa por amplos setores latinos. 

O famoso chef espanhol, José Andrés tuitou uma mensagem a Unanue recordando que Trump deixou com fome a Latinos e muitos estadunidenses. Enjaulou crianças latinas. Esqueceu da comunidade latina nessa pandemia. Chamou os mexicanos de violadores. Estamos abençoados?”.

“Se é Trump, tem que ser corrupto”

Por isso, muitos disseram que Ivanka violou leis que proíbem funcionários federais de usar seus postos para “endossar qualquer produto”. A deputada federal progressista, Alexandria Ocasio-Cortez respondeu com um tuíte em espanhol: “Se é Trump, tem que ser corrupto”.

“Nunca chegou a tal momento de mortificação nacional uma eleição nos Estados Unidos”, escreveu o colunista conservador George Will no Washington Post, assinalando que “por primeira vez em sua história [Estados Unidos] dá lástima”. Indica que o país está uma “espiral para baixo” sob um governo federal que “agora é administrado com um regime gângster”. 

Will, com outros, adverte que Trump já está minando a legitimidade da próxima eleição ao repetir que será “corrupta” e repleta de fraudes para poder recusar-se a aceitar seus resultados. 

O analista liberal e ex-secretário do Trabalho Robert Reich adverte que: “Se você acredita que Trump está na corda bamba e ele certamente perderá em novembro, pense novamente. Ele fará qualquer coisa para ser reeleito. Nosso lado tem seus limites porque acreditamos na democracia. Trump não tem limites porque não os possui”.

David Brooks, correspondente.de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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