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Imperialismo prepara em Minsk uma revolução colorida, como na Ucrânia?

Não restam dúvidas de que as manifestações exigindo sua derrubada fazem parte de uma ofensiva a favor dos EUA e da União Europeia
José Reinaldo Carvalho
São Paulo (SP)

Tradução:

A distante cidade de Minsk, capital da Bielorrússia, onde há 122 anos foi fundado o Partido Operário Social Democrata Russo, precursor do Partido Comunista que tornou vitoriosa a primeira revolução socialista, e que na Segunda Guerra Mundial foi um dos centros mais ativos da resistência soviética à ocupação nazista, foi palco no último fim de semana de multitudinárias manifestações de massas. Uma delas em apoio ao presidente reeleito Aleksander Lukashenko. Outra – e já pelo oitavo dia – coordenada pela oposição, com apoio externo, acusando de fraude o processo eleitoral e pregando a derrubada do presidente.  

“Não descansaremos até que Lukashenko renuncie”, disse María Kolésnikova, uma das líderes do gabinete da candidata derrotada Svetlana Tijanóvskaya, que abandonou o país e se encontra agora na Lituânia, protegida por um governo hostil à Rússia e à Bielorrúsia e alinhado com posições de potências ocidentais.

Não restam dúvidas de que as manifestações exigindo sua derrubada fazem parte de uma ofensiva a favor dos EUA e da União Europeia

ABC News
Lukashenko está convencido de que está em curso um complô externo para derrubá-lo.

Por seu turno, o presidente Lukashenko, que se elegeu com mais de 80% dos votos, disse perante uma multidão de defensores de seu governo reunida na histórica Praça da Independência: “Não os convoquei aqui para que me defendam, mas para que defendamos nosso país, nossas famílias, nossas irmãs, esposas e filhos … não deixarei que ninguém entregue o nosso país”. 

Lukashenko está convencido de que está em curso um complô externo para derrubá-lo, exemplificando com a concentração de ações propagandísticas, pressão política e atividades militares ao longo das fronteiras ocidentais da Bielorrússia. Momentaneamente, a palavra de ordem para a anulação das eleições e sua retirada do poder são vocalizadas principalmente no entorno geográfico – Lituânia, Letônia, Polônia e Ucrânia, países que, sob o domínio de forças de direita e anti-Rússia, se dispõem a ser uma espécie de “cordão protetor” dos interesses imperialistas na região, inclusive como territórios à disposição do seu braço armado, a Otan. 

Mas não resta dúvida de que as manifestações exigindo a derrubada de Lukashenko fazem parte de uma ofensiva visando a desenhar a favor dos Estados Unidos e da União Europeia o mapa geopolítico no Leste Europeu, com função anti-Rússia. O presidente Vladimir Putin, cuja legitimidade tem sido recorrentemente questionada, já captou os sinais dessa ofensiva e prometeu ao vizinho bielorrusso ajuda militar, se necessário. 

A Bielorrússia é um país exemplar, dentre aqueles que fizeram parte da antiga União Soviética, de desenvolvimento econômico e social elevado e de organização da economia com base na defesa da soberania nacional e do papel indutor do Estado. Razões políticas, econômicas e de defesa levaram Moscou e Minsk a estabelecer um pacto que provoca temores nas potências ocidentais, que jogam a cartada da desestabilização como fizeram na Ucrânia em 2014, quando manipularam as manifestações na Praça Maidan dirigidas por reacionários de diferentes matizes, inclusive fascistas. Em situações que guardavam suas peculiaridades, várias outras ex-repúblicas soviéticas foram palco das chamadas “revoluções coloridas” instrumentalizadas e manipuladas desde o exterior.  

Como sempre, o pretexto para o golpe e eventual intervenção externa é a defesa da democracia, o combate a supostas violações dos direitos humanos, o exercício do poder pelo “último ditador da Europa” e sua desqualificação como “lacaio de Putin”. 

Mas a experiência da Ucrânia mostrou a que levou a “revolução de Maidan”: um governo de direita, a perseguição aos comunistas, a criação de uma cabeça de ponte anti-Rússia e, considerando o conjunto do Leste Europeu, o fortalecimento das posições militares da Otan. 

Somente o excesso de ingenuidade pode fazer supor que os Estados Unidos e a União Europeia se preocupam com a Bielorrússia por razões “democráticas”. A ingerência que pode provocar uma nova sublevação no estilo da Praça Maidan ucraniana relaciona-se com disputas geopolíticas e tem por alvo a desestabilização da Rússia, dada a ligação umbilical e estratégica entre Moscou e Minsk. 

Tal como a Ucrânia foi um campo de prova para a aplicação de uma estratégia de cerco à Rússia, a Bielorrúsia fica agora na alça de mira do ataque das potências imperialistas estadunidense e europeias, uma ofensiva que, como a de Maidan, mistura russofobia com anticomunismo e pode ter uma dimensão militar, considerando-se o envolvimento da Otan. 

Não deixa de chamar a atenção também que agências noticiosas e canais de televisão publiquem lado a lado imagens de confrontos entre manifestantes e forças policiais em Minsk e Hong Kong, para lembrar que no entorno russo, como na China, as manifestações “democráticas” são reprimidas. Em dificuldade para concorrer com a nova rota da seda em construção pelos chineses e sem capacidade de enfrentar a aliança sino-russa, é preciso um mito para enfrentar as forças emergentes no novo cenário geopolítico.

Jornalista, editor da página Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

José Reinaldo Carvalho

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