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A 25 dias da eleição, crescem críticas a Trump por manejo da pandemia

"Nossos atuais líderes políticos demonstraram que são perigosamente incompetentes”, estampou em seu editorial o New England Journal of Medicine
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O dia na política nos Estados Unidos: o FBI desarmou um complô ultradireitista para realizar um golpe de Estado em Michigan, líderes legislativos promovem um mecanismo para declarar incapacitado o presidente, ele propôs a prisão de seus opositores políticos, a “cura” para a Covid proclamada pelo presidente antiaborto foi obtida de células de um feto, um senador republicano afirmou que Estados Unidos não é uma democracia e uma mosca se converteu na estrela do debate entre candidatos à vice-presidência. 

O FBI informou que deteve seis homens acusados de um complô de terrorismo doméstico cuja intenção era sequestrar a governadora democrata de Michigan, Gretchen Whitmer, derrocar esse governo estadual antes das eleições de 3 de novembro e levá-la a um lugar remoto para “julgá-la”. Segundo as autoridades, os homens formam parte de uma milícia ultradireitista. As milícias armadas foram parte de protestos de homens armados, contra as medidas de mitigação da pandemia, incluindo a distância sadia, uso de máscaras e a quarentena em abril, apoiados por Trump que tuitou: “Libertem Michigan”.  

Outros sete integrantes da milícia enfrentam acusações estatais por ameaça de terrorismo – contemplavam atacar policiais e o capitólio estadual para detonar uma “guerra civil”. A governadora deplorou hoje a negativa de Trump de condenar supremacistas brancos e milícias e declarou que “quando nossos líderes se reúnem com, estimulam ou confraternizam com terroristas domésticos, legitimam suas ações e são cúmplices”. 

"Nossos atuais líderes políticos demonstraram que são perigosamente incompetentes”, estampou em seu editorial o New England Journal of Medicine

White House
As pesquisas estão registrando a crescente desvantagem de Trump contra Biden a 25 dias da eleição.

O FBI e outras agências federais declararam recentemente que os agrupamentos de milícias ultradireitistas e supremacistas brancas representam a principal ameaça interna à segurança nacional dos Estados Unidos.

O presidente Donald Trump, em seus primeiros comentários públicos extensos desde que testou positivo para a Covid-19 na semana passada, apelou pela perseguição penal de seu opositor  Joe Biden e de Barack Obama – e se queixou de que seu próprio procurador geral Bill Barr, seu secretário de Estado, Mike Pompeo e seu diretor do FBI, não se “moveram” para fazê-lo – ao retomar sua acusação de que foram parte de um complô para derrocá-lo com as investigações “falsas” sobre a mão russa na eleição de 2016.  

Nesse mesma entrevista para Fox Business, chamou a candidata democrata à vice-presidência, a senadora Kamala Harris, de “um monstro” e “uma comunista”.

Suas declarações, ainda mais erráticas que o usual e com tons quase histéricos – talvez porque as pesquisas estão registrando sua crescente desvantagem contra Biden a 25 dias da eleição – foram ainda mais surpreendentes ao criticar Barr e Pompeo os quais têm sido seus subordinados mais próximos e fiéis. 

Na mesma entrevista, Trump insistiu em que se sente bem e que não pensa que seja “contagioso” embora os especialistas médicos digam que os recém diagnosticados continuam sendo perigosos entre uma semana e 10 dias de testar positivamente.  

E resulta que o coquetel de medicamentos de anticorpos que o presidente tomou durante seus quatro dias hospitalizados e que na quarta-feira chamou falsamente de “uma cura” para a Covid que logo oferecerá gratuitamente a todos o que o necessitem, foi originalmente desenvolvida com células derivadas do tecido fetal de um aborto. O governo de Trump suspendeu todos os fundos federais para qualquer pesquisa científica empregando essas células por seu suposto princípio antiaborto. 

Por certo, em uma decisão sem precedentes, uma das revistas médicas mais prestigiosas no nível mundial, o New England Journal of Medicine, publicou um editorial condenando o “fracasso assombroso” do governo de Trump em manejar a pandemia e pediu que fosse expulso do poder nas eleições. “Quando se trata da resposta à maior crise de saúde pública de nossos tempos, nossos atuais líderes políticos demonstraram que são perigosamente incompetentes”. 

Debates, democracia, moscas

Ao mesmo tempo, líderes legislativos democratas encabeçados pela presidenta da câmara baixa, Nancy Pelosi apresentarão hoje (9) uma medida para estabelecer uma comissão bipartidária para avaliar a capacidade física e mental do presidente, afim de determinar se deveria entregar seus poderes ao seu vice-presidente de acordo com a 25ª emenda da Constituição. A manobra é simbólica, já que não prosperará como projeto de lei. 

Por outro lado, o poderoso senador republicano Mike Lee de Utah assombrou a muita gente quando comentou por tuíte que “nossa forma de governo não é uma democracia. É uma república constitucional” e que “a democracia não é o objetivo” do sistema político estadunidense. Não se sabe se está confessando um segredo de Estado ou se está com febre já que é um dos legisladores federais recentemente contagiados pela Covid.

Enquanto isso, Trump recusou de imediato a proposta da comissão independente encarregada dos debates presidenciais de realizar de maneira virtual o próximo debate programado com Biden para 15 de outubro – porque o presidente está contagiado.

E o candidato democrata Biden continua sustentando eventos eleitorais sem grande espetáculo – talvez porque, como comenta o analista eleitoral Dave Wasserman do Cook Political Report-, “no momento, Biden está dando uma aula magistral sobre como permitir a autodestruição da candidatura de seu opositor”.

Para acabar, uma mosca se converteu na estrela do debate entre os candidatos à vice-presidência realizado na quarta-feira (7). Talvez seja a mais comentada por causa da qualidade do conteúdo do intercâmbio ou simplesmente porque costumam ser aborrecidos intercâmbios de frases ensaiadas entre políticos; mas uma mosca que aterrizou e permaneceu um tempo sobre a cabeleira branca e perfeitamente penteada do vice-presidente Mike Pence se tornou viral e foco de todo tipo de piadas, comentários e novos produtos de propaganda, como um mata-moscas que foi posto à venda poucas horas depois pela loja da campanha de Biden. 

Foi um dia vertiginoso que ofereceu a imagem de uma república aparentemente à beira de uma crise política (e talvez mental).

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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