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A violência policial na Nigéria nas páginas da Cadernos de Terceiro Mundo

O mês de outrubro tem sido marcado por protestos contra violência policial na Nigéria
Gabriel Farias
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Neste mês de outubro de 2020, a Nigéria virou notícia nos meios de comunicação. Desde o dia 8 de outubro ocorrem manifestações em massa contra a violência policial por parte do Esquadrão Especial Antirroubo (Sars, na sigla em inglês). 

Uma campanha no Twitter com a hashtag #ENDSARS tem tido um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.  

Criada em 1984 com o objetivo de conter roubos e furtos no país, a SARS possui um histórico que envolve sequestros, assassinatos, roubos estupros, prisões ilegais, torturas, entre outros desrespeitos contra os Direitos Humanos. De acordo com a agência de notícias alemã Deutsche Welle (DW), até o dia 23/10 ocorreram pelo menos 69 mortes em meio aos protestos (51 civis, 11 policiais e 7 soldados).

O mês de outrubro tem sido marcado por protestos contra violência policial na Nigéria

Reprodução: Pxhere
Desde o dia 8 de outubro ocorrem manifestações em massa contra a violência policial

 Localizado na parte ocidental da África, a Nigéria possui uma população de quase 200 milhões de habitantes, isto é, praticamente 1/7 da população de todo o continente. Nos últimos anos, o país se tornou a maior economia africana e uma das principais potências emergentes do mundo, porém, tudo isso em meios a um caos social de grandes desigualdades e pobrezas. Vale destacar também a atuação do grupo extremista Boko Haram que vem atuando no norte do país. 

 Para entender melhor a história do país, decidimos relembrar uma reportagem do ano de 1984 sobre o país. Na época, a Nigéria tinha acabado de receber um golpe de Estado, em 31 de dezembro de 1983, que depôs o presidente civil Sheku Shagari e colocou o general Muhammadu Buhari. 

A matéria menciona algumas características importantes do país como a composição étnica do Estado Nacional sendo formado por três grupos: os haússa (islâmicos) do norte, os yoruba (animistas) na parte ocidental e os ibo (cristianizados) do lado oriental, existindo um acordo entre as oligarquias de cada um desses grupos para a divisão do poder.  

Também é mencionado que desde a independência do Reino Unido em 1960, a Nigéria já sofrera com golpes e instabilidades políticas. 

No decorrer da década de 1970, a oligarquia haússa começou a tomar, de forma lenta, a máquina estatal em decorrência do boom do petróleo, resultando na ascensão do civil Shagari ao governo em 1979. 

No entanto, por volta de 1982, a euforia do petróleo acabou devido as quedas do preço do combustível no mercado internacional. Shagari teve que tomar medidas de austeridade econômica que desagradou grande parte da sociedade nigeriana. 

Devido a esse clima de caos social, e com uma desculpa de uma reeleição fraudulenta em agosto de 1983 e com um discurso contrário a corrupção, os militares, liderados por Buhari, golpearam Shagari e tomaram o poder. 

Apesar das discordâncias, o general Buhari pretendia manter a mesma política de austeridade, embora não com a mesma intensidade, e com um governo em prol dos interesses ocidentais.

 Pouco depois da reportagem, em 1985, o general Buhari seria deposto do poder. Desde então o país continuou passando por processos golpistas, eleições duvidosas e momentos de instabilidades políticas. 

Pode pelo menos se dizer que, desde 1999, a Nigéria tem tentado se manter em estabilidade com eleições ocorrendo de formas regulares. Alias, por uma coincidência da história, o atual presidente no comando do país não é nada mais que o próprio Muhammadu Buhari que, depois de trinta anos, voltou ao poder por meio da eleição de 2015, sendo reeleito em 2019. 

Outra grande coincidência é que os grandes protestos recentes são contra uma organização policial criada em seu primeiro governo no ano de 1984. 

Memória

Tema complexo, que requer uma análise de longo prazo e a compreensão da geopolítica atual. Para uma visão histórica do tema, compartilhamos reportagem publicada na revista Cadernos do Terceiro Mundo de 1997.

A Diálogos do Sul é a continuidade digital da revista fundada em setembro de 1974 por Beatriz Bissio, Neiva Moreira e Pablo Piacentini em Buenos Aires:

A recuperação e tratamento do acervo da Cadernos do Terceiro Mundo foi realizada pelo Centro de Documentação e Imagem do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, fruto de uma parceria entre o LPPE-IFCH/UERJ (Laboratório de Pesquisa de Práticas de Ensino em História do IFCH), o NIEAAS/UFRJ (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul) e o NEHPAL/UFRRJ (Núcleo de Estudos da História Política da América Latina), com financiamento do Governo do Estado do Maranhão.


Texto publicado originalmente na página Revista Cadernos do Terceiro Mundo – Acervo Digitalizado.  

CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, ano 7, n. 63, fev. 1984, p. 55-58 

Confira a edição completa da revista nº 63 :


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gabriel Farias

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