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Com equipe de governo pronta, Biden deixará “American First” e aposta no multilateralismo

A equipe de transição do democrata ressaltou que entre os nomeados está o primeiro latino e imigrante e a primeira mulher diretora de inteligência nacional
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente eleito Joe Biden anunciou a nomeações principais de seu governo em formação para o manejo de relações exteriores e assuntos de segurança, todos com ampla experiência governamental, o que é um sinal de um retorno à “normalidade” após o governo de Donald Trump.

Quase todos os nomeados são veteranos do governo de Barack Obama, alguns com longas carreiras no setor público em vários governos democratas. Portanto, não oferecem algum rumo inovador, senão restabelecimento das práticas, normas e visões, pré-Trump, sobretudo em abandonar a postura isolacionista conhecida como “América Primeiro” estabelecida pelo hoje presidente.

A equipe de transição de Biden ressaltou que entre os nomeados está o primeiro latino e imigrante como secretário do Departamento de Segurança Interna (que inclui agências de imigração), a primeira mulher diretora de inteligência nacional e o novo posto dentro do Conselho de Segurança Nacional de enviado especial para a mudança climática. 

Como seu secretário de Estado, Biden selecionou Antony Blinken, um ex-subsecretário de Estado e ex-assessor presidencial durante o governo de Barack Obama, e com uma longa carreira em relações exteriores tanto dentro de executivo como no Congresso. Foi assessor de Segurança Nacional para o vice-presidente Joe Biden durante o primeiro período do governo de Obama, e chefe da equipe do Comitê de Relações Exteriores do Senado entre 2002 e 2008, quando Biden era senador e presidente desse comitê. Também foi integrante do Conselho de Segurança Nacional do presidente Bill Clinton entre 1994 e 2001.

Se enfocará de imediato, segundo se afirma, em reparar relações com aliados históricos dos Estados ofendidos e distanciados de Washington durante a era Trump, como também recuperar a liderança estadunidense em foros multilaterais.  

Ao mesmo tempo, críticos recordam que Blinken favoreceu o uso de poder militar quando pensava que era necessário, às vezes em crises onde se argumentava a favor de “intervenção humanitária”, como também na guerra contra o Iraque – pela qual Biden votou a favor no Senado – detonada pelo presidente George W. Bush. É um promotor da “virtude da liderança estadunidense” no mundo. 

A equipe de transição do democrata ressaltou que entre os nomeados está o primeiro latino e imigrante e a primeira mulher diretora de inteligência nacional

Divulgação
Quase todos os nomeados por Joe Biden são veteranos do governo de Barack Obama.

Alejandro Mayorkas foi nomeado para ser o primeiro latino e imigrante em ocupar o posto de secretário de Segurança Interna. Dentro dessa mega burocracia estão várias agências de assuntos migratórios e de onde o governo de Trump impulsionou algumas de suas política anti-imigrantes mais severas e brutais. Mayorkas, que nasceu em Havana, conta com uma longa carreira de serviço governamental de três décadas, e se desempenhou mais recentemente como secretário adjunto do Departamento de Segurança Nacional durante o governo de Obama entre 2009 e 2013. Foi diretor de Serviços de Cidadania e Imigração entre 2009 e 2013. É considerado o arquiteto do programa de proteção da deportação dos chamados “dreamers”, imigrantes que chegaram com suas famílias como menores de idade, conhecida como DACA.

O ex-secretário de Estado, ex-candidato presidencial e senador John Kerry foi nomeado como Enviado Presidencial Especial para a Mudança Climática. Um dos arquitetos do Acordo de Paris sobre Mudança Climática, sua nomeação ressalta que esse tema será prioridade do novo governo.

As outras nomeações de alto nível para postos diplomáticos e de segurança nacional incluem a Avril Haines, que será a primeira mulher Diretora de Inteligência Nacional – ou seja, o posto de coordenação das diversas agências de inteligência. Também funcionária de longa experiência, Haines foi assessora presidencial de Obama e entre 2013-2015 e foi diretora adjunta da Agência Central de Inteligência (CIA). Foi conselheira do Comitê de Relações Exteriores do Senado entre 2007-2008 quando Biden o presidia.  

A embaixadora de carreira até agora retirada Linda Thomas-Greenfield foi nomeada como embaixadora dos Estados Unidos ante a Organização das Nações Unidas. 

Finalmente, Jake Sullivan foi designado como assessor de Segurança Nacional da Casa Branca. Durante o governo de Obama foi o assessor de Segurança Nacional do então vice-presidente Biden e chefe adjunto de equipe da secretário de Estado Hillary Clinton.

Ao anunciar as nomeações, todas as quais terão que ser ratificadas pelo Senado. Biden declarou que “não temos tempo a perder quando se trata de nossa segurança nacional e nossa política exterior. Necessito uma equipe pronta no primeiro dia no cargo, para me ajudar a recuperar o lugar de liderança dos Estados Unidos, unir o mundo para enfrentar os desafios mais importantes que enfrentamos e promover nossa segurança, prosperidade e valores”. Agregou que embora os nominados sejam veteranos do serviço público “também refletem a ideia de que não podemos enfrentar os profundos desafios desse novo momento com ideias antiquadas e sem mudar os hábitos, a sua diversidade de contextos e perspectivas”. 

Enquanto isso, a equipe de transição filtrou que Biden chegou a uma decisão sobre a nomeação de outro posto chave de seu governo: Janet Yellen como a próxima secretária do Tesouro. 

Yellen será a primeira mulher a ocupar esse cargo. A notícia de que a ex-presidenta do banco central, a Reserva Federal, estará a cargo da política econômica provocou alívio entre circuitos financeiros e empresariais já que enviou o sinal de que não serão promovidas as medidas mais progressistas advogadas por outros candidatos ao posto, sobretudo a senadora Elizabeth Warren.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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