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Impeachment de Trump chega pela segunda vez ao Senado com parlamentares divididos

O presidente Joe Biden, pela primeira vez ao opinar sobre o assunto desde que chegou à Casa Branca, afirmou que o julgamento político “tem que acontecer”
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Uma delegação de deputados entregou ao Senado a acusação formal contra Donald Trump para seu segundo julgamento político, enquanto o inspetor geral do Departamento de Justiça abriu uma investigação sobre o papel de altos funcionários dessa dependência nos esforços para descarrilar a eleição, deixando claro que Washington ainda não se livrou da sombra do ex-presidente e dos danos que provocou contra a sistema constitucional. 

Nove deputados federais foram esta noite do seu lado do Capitólio ao do Senado – justamente pelos corredores invadidos por uma turba em 6 de janeiro – para informar formalmente que estavam preparados para julgar Trump por “incitação de insurreição” promovendo “violência” contra o governo dos Estados Unidos com o propósito de subverter o processo eleitoral constitucional. Apresentaram e leram essa única acusação – conhecido como “artigo de impeachment”- aprovado pela câmara baixa em 13 de janeiro.  

Com isso usualmente se inicia de imediato o julgamento com o Senado convertido em um tribunal, mas nesta ocasião líderes de ambas as bancadas concordaram em postergar o início do julgamento para 9 de fevereiro. 

Assim se dá início ao segundo julgamento político de um mesmo presidente, algo sem precedentes, e pela primeira vez contra um mandatário que já concluiu seu mandato na Casa Branca. Desta vez também será diferente do primeiro julgamento político de Trump porque não será presidido pelo chefe da Suprema Corte, como é usual, mas sim pelo senador democrata veterano, Patrick Leahy de Vermont. 

Também é diferente porque o acusado não goza do apoio automático do seu partido como da primeira vez, com o qual foi declarado não culpado há um ano. Desta vez, até o líder da bancada republicana Mitch McConnell indicou, junto com alguns outros, que estão dispostos a avaliar o caso e até condenar seu ex-líder, mas ainda não contam com o mínimo de 17 republicanos que se necessitariam somar aos 50 democratas para declará-lo culpado. 

Já vários senadores republicanos estão buscando a forma de justificar o presidente após o assalto ao Capitólio que resultou em cinco mortos, muitos feridos e sacudiu o país. Alguns argumentam que deveria ser anulado já que proceder com um julgamento político de um presidente que já não ocupa seu posto não é o caso. Outros se atrevem a se opor em nome da “unidade” nacional, depois que seu presidente e vários de seus colegas provocaram uma crise política nacional ao não aceitar os resultados eleitorais. 

Por sua parte, democratas e alguns republicanos afirmam que deve demonstrar-se que ninguém, nem o presidente, está acima da lei e que deve prestar contas. Mais ainda, alguns dizem que se for declarado culpado, o castigo já não será a destituição, mas Trump poderia ser proibido de ocupar outro posto federal pelo resto da vida. O presidente Joe Biden, pela primeira vez ao opinar sobre o impeachment desde que chegou à Casa Branca, afirmou ontem (25) que o julgamento político “tem que acontecer”.

O presidente Joe Biden, pela primeira vez ao opinar sobre o assunto desde que chegou à Casa Branca, afirmou que o julgamento político “tem que acontecer”

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Uma delegação de deputados entregou ao Senado a acusação formal contra Donald Trump

Divisão

O Senado está dividido entre 50 senadores de cada partido, mas os democratas têm a maioria com o voto para romper os empates de que goza a vice-presidente Kamala Harris em sua qualidade de presidenta do Senado. Mas se requer do voto de dois terços para declará-lo culpado. 

Após a leitura da acusação pelo deputado Jamie Raskin, o Senado na sessão de terça-feira emitirá uma convocatória a Trump para responder à acusação e acordar um calendário para o julgamento.

Nos argumentos durante o julgamento é muito provável que a equipe de deputados que hoje apresentou as acusações, e que funcionarão como promotores, vá apresentar evidências ligadas à acusação, como as tentativas diretas do presidente de pressionar funcionários estatais na Geórgia para mudar os resultados, ou as revelações recentes de que Trump estava contemplando despedir seu procurador geral interino para substituí-lo por um advogado do Departamento de Justiça disposto a promover as acusações do presidente de uma fraude eleitoral apresentadas sem provas e descartadas por dezenas de tribunais. 

De fato, hoje o inspetor geral do Departamento de Justiça anunciou o início de uma investigação sobre se funcionários atuais ou no passado tentaram usar os poderes da instância para tentar alterar ou subverter os resultados da eleição presidencial.  

O futuro imediato

Mas além de revisar os possíveis delitos e corrupção do passado recente, a classe política está obrigada a responder às múltiplas crises enfrentadas pelo país. O Senado estará debatendo a massiva proposta de 1,9 trilhões de dólares que o presidente Biden promove para batalhar com a Covid-19 e resgatar o país das consequências econômicas do manejo da pandemia pelo governo anterior.  

Ao mesmo tempo, procede a ratificação dos nominados por Biden para integrar seu gabinete e hoje Janet Yellen, uma das figuras chaves encarregadas da política para enfrentar a pior crise econômica desde a Grande Depressão, foi aprovada pelo Senado como a próxima secretária do Tesouro – a primeira mulher a ocupar esse posto na história do país . É a terceira integrante do novo gabinete a ser ratificada pelo Senado, depois de Avril Haines como diretora de inteligência nacional e do ex-general Lloyd Austin como secretário de Defesa. 

O governo de Biden também tomou uma série de medidas e ordens executivas em um ritmo e número sem precedentes tal como prometeu para atender temas desde a Covid até a luta contra a discriminação de vários tipos e a batalha pela mudança climática.  

Biden promoveu sua campanha do uso de máscaras durante 100 dias afirmando que se calcula que se salvarão 50 mil vidas daqui até abril só com o uso de máscaras. 

Seu governo está para liberar até 10 bilhões de dólares em fundos de emergência para medidas de proteção contra os efeitos da mudança climática; e hoje deu uma ordem para reverter a proibição imposta por Trump contra pessoas transgênero nas forças armadas, parte de seu esforço prometido contra a discriminação de pessoas LGBT.

Os derrotados

Por sua parte, Trump anunciou que abriu na Flórida algo chamado “escritório do ex-presidente” que se encarregará de sua correspondência e outras atividades para “avançar nos interesses dos Estados Unidos” e levar adiante “a agenda do governo de Trump através da advocacia, organização e ativismo público”. Concluiu assegurando que “sempre será um campeão pelo povo estadunidense”. 

Seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, foi processado nesta segunda-feira por difamar a empresa de equipes de contagem de votos Dominion Voting Systems solicitando 1.3 bilhões de dólares em danos por declarações em que acusou a empresa de ser responsável pela derrota de Trump, e sustentou que a empresa estava sob controle dos venezuelanos.

David Brooks correspondente de La Jornada em Nova York.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

   

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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