Pesquisar
Pesquisar

Movimentos sociais nos EUA tentam resgatar as rebeliões históricas dos povos originários

Todos os dias se batalha pela história real e completa do país e cada movimento contemporâneo tem que se dedicar a resgatar seus antecessores
David Brooks
Prensa Latina
Nova York

Tradução:

A história dos Estados Unidos, como todas, não se pode entender sem contar as rebeliões. Essa história é sujeita a incessantes tentativas de apagá-la, purificá-la, domá-la – até proclamar feriados oficiais a líderes rebeldes e erigir monumentos que ocultam mais do que revelam – e mantê-la meio sequestrada para que não vá inspirar as novas gerações.

Todos os dias se batalha pela história real e completa do país e cada movimento contemporâneo tem que se dedicar a resgatar seus antecessores. Essa história rebelde é ainda menos conhecida fora deste país, e sem ele é fácil reduzir a visão sobre o que acontece nos Estados Unidos a uma versão de estereótipos demasiado centrada em Washington, Hollywood e Disneylândia.  

A luta contra a amnésia histórica não é tão simples, já que não é resultado de censura explícita e além do mais existe vasto material, com alguns aportes excepcionais, gerados por Hollywood e pela televisão (comprovando que uma parte da esquerda estadunidense pode ser encontrada nesse mundo entre roteiristas e diretores). Essa história é apresentada de maneira fragmentada em museus e na academia, como em bibliotecas e por inumeráveis projetos literários. Ainda assim, essa história de rebeliões é capturada e apresentada de tal maneira que não vá provocar, pois, rebelião.  

A gente pode visitar os monumentos a Martin Luther King e festejar seu dia oficial, da mesma forma que há avenidas chamadas Cesar Chavez na Califórnia, ver filmes sobre Malcolm X e John Reed, e alguns clássicos baseados nos livros de Steinbeck e mais recentes como a do Julgamento dos 7 de Chicago, como todo tipo de expressões e exposições sobre líderes da luta feminista e LGBTQIA+ – muito menos –, de lutas operárias, ambientalistas, e ainda poucas sobre lutas indígenas. Vale recordar que historiadores rebeldes como Howard Zinn dedicaram sua vida a resgatar a “outra história” deste país, junto com Mike Davis, Eric Foner, Greg Grandin entre outros, junto com jornalistas que fazem presente a história como Studs Terkel e Bill Moyers, e existe um magnífico mosaico de projetos de educação popular como os impulsionados pelo Highlander Center em Tennessee que tornam viva e ressuscitam a história rebelde do país, junto com outros projetos

Todos os dias se batalha pela história real e completa do país e cada movimento contemporâneo tem que se dedicar a resgatar seus antecessores

HealthNews
A história dos Estados Unidos, como todas, não se pode entender sem contar as rebeliões.

Novos movimentos estão resgatando seus antecessores e fazendo-os presente hoje em dia. A Campanha dos Pobres explicitamente reinicia a última luta do reverendo King na qual ele fundiu as demandas por direitos civis com as de justiça econômica e direitos dos trabalhadores (algo que quase nunca se menciona nos festejos oficiais de sua vida).  

A luta indígena Apache em defesa de sua terra sagrada no Arizona contra empresas mineradoras transnacionais, com a dos povos Sioux e outros contra os gasodutos no norte do país; a luta atual para sindicalizar um mega armazém da Amazon no Alabama, cujo dono é o multimilionário mais rico do planeta, a luta de anos para elevar o salário mínimo a 15 dólares impulsionada por trabalhadores de comida rápida e agora em debate no Congresso, as lutas que foram a chave para derrotar o projeto neofascista nas eleições federais, sobretudo as impulsionadas por coalisões e alianças extraordinárias e sem precedentes entre movimentos afro-estadunidenses, latinos e indígenas, como as incessantes lutas pelos direitos dos imigrantes – que usam consignas de lutas anteriores aqui como as das lutas de seu povos de origem – todas são acompanhadas pelo ecos da história de rebeliões nos Estados Unidos.

Mas o resgate da história dos povos é parte do resgate de seu futuro. “Quem controla o passado, controla o futuro. E quem controla o presente, controla o passado”, disse George Orwell.  Por isso, nos ecos da história de rebelião que se manifestam hoje, estão as chave do futuro desse país. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na Tv Diálogos do Sul

 

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Com Trump, EUA vão retomar política de pressão máxima contra Cuba, diz analista político
Com Trump, EUA vão retomar política de "pressão máxima" contra Cuba, diz analista político
Trump quer desmontar Estado para enriquecer setor privado; Musk é o maior beneficiado
Trump quer desmontar Estado para enriquecer setor privado dos EUA; maior beneficiado é Musk
Modelo falido polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso (2)
Modelo falido: polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso
Rússia Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Rússia: Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito