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Com pandemia, primavera em Nova York marca renascimento após pior inverno da história

A cidade continua sendo a maior em nível de contágios da Covid-19 nos Estados Unidos, e mais de 1 de cada 11 de seus residentes foi infectado
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O inverno finalmente se rendeu e entregou Nova York ao abraço – a uma distância sadia – da primavera, e com isso vai-se descobrindo os sinais de vida depois de um dos piores invernos na história desta cidade. 

Continua sendo a cidade com maior nível de contágios da Covid nos Estados Unidos, e mais de 1 de cada 11 de seus residentes foi infectado.

Todos seus lugares icônicos fecharam desde que explodiu a pandemia justamente há um ano – Broadway, museus, centros de jazz, restaurantes famosos por sua história ou pelos filmes ou porque alguns, afinal de contas, estavam entre os melhores do país, seus grandes hotéis fechados e até seu metrô pela primeira vez na memória deixou de funcionar as 24 horas do dia.

Antes esta cidade não dormia por sua incessante atividade, mas durante a pandemia foi açoitada por uma insônia pior que nunca: quem podia dormir quando um café favorito fechava para sempre, ou quando já não havia música no Village Vanguard, nem a gente podia se refugiar em uma das grandes bibliotecas públicas do mundo, onde os dois leões Paciência e Fortaleza (nomeados assim pelo grande prefeito Fiorello “Pequena Flor” LaGuardia na Grande Depressão) davam as boas-vindas? 

Mas, um ano depois, Nova York ferida mostra sua famosa força vital frequentemente expressada com rudeza, mas que por baixo depende de uma delicada solidariedade humana que se expressa no milagre de como o mundo interior pode conviver sem matar-se entre si. Ou seja, em mais de 200 idiomas nesta capital mundial e o mosaico diverso de identidades nacionais, sexuais, filosóficas, religiosas, culturais onde se pode topar com um ucraniano educado por ciganos, ou refugiados de crises e batalhas pela dignidade desde a Polônia até o Haiti, de Gana ao México, e até se encontrar com alguns ainda mais exóticos como os recém-chegados de lugares tão estranhos como Ohio e Minnesota ou esses com acentos quase impossíveis de entender de Alabama ou da Geórgia.

A cidade continua sendo a maior em nível de contágios da Covid-19 nos Estados Unidos, e mais de 1 de cada 11 de seus residentes foi infectado

Dicas de Nova York
Como deve ser em uma primavera agora há brotes de vida por todas as partes.

Enquanto os ricos fugiram da cidade que foi, por meses, o epicentro mundial do vírus, os que agora se chamam “trabalhadores essenciais” mantiveram viva esta urbe durante esse maldito inverno que durou um ano – os que seguem dia a dia resgatando este mosaico mundial nos hospitais e clínicas, e os que agora, em inglês com milhares de sotaques, espanhol, creole haitiano, chinês, russo e hindu, estão aplicando vacinas.

São os que distribuem o pão e as rosas a toda a cidade a cada dia e que continuam educando as próximas gerações que serão responsáveis de salvar-nos a todos do desastre que lhes estamos deixando.

Os saldos foram devastadores. Um mês depois de explodir a pandemia em março do ano passado ficariam sem trabalho 90% dos 5.500 trabalhadores dos aproximadamente 700 hotéis da cidade.

O emprego no setor de artes e recreação – mais de 90 mil trabalhadores em mais de 6 mil locais – despencou 66%. Os 41 grandes teatros da Broadway permanecerão fechados até pelo menos o fim de maio. Uma terceira parte, se calcula, dos 240 mil pequenos negócios já não reabrirão. 

Mas como deve ser em uma primavera agora há brotes de vida por todas as partes, restaurantes que instalaram barracas do lado de fora e estão parcialmente abrindo seus espaços internos, alguns dos museus estão reabrindo, lojas vazias se convertem durante algumas horas em sedes de concertos “pop-up”.

Lincoln Center voltará a oferecer concertos, ópera e teatro em seus espaços exteriores, algumas salas de cinema estão reabrindo e, como flores de som, se assoma um pouco de música em parques, bancos e praças e ainda mais ao ir embora o frio. 

Talvez esta primavera em Nova York seja parte do renascimento mundial tão necessário depois desta longa idade de trevas.  

Lou Reed | Dirty Blvd 

Jay Z and Alicia Keys: New York State of Mind. 

David Brooks, correspondente do La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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