Pesquisar
Pesquisar

Cadernos de Terceiro mundo | Conheça o cubano Arnaldo Tamayo Méndez, primeiro negro a ir ao espaço

Pouca gente sabe que outro grande feito da antiga URSS foi de levar o primeiro homem negro e latino-americano para o espaço
Gabriel Rodrigues Farias
Diálogos do Sul
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

Neste mês de abril de 2021, mais precisamente no dia 12, comemorou-se 60 anos a primeira viagem espacial do homem, na época, realizada pelo cosmonauta soviético Yuri Gagarin.

O que pouca gente sabe é que outro grande feito da antiga União Soviética foi de levar o primeiro homem negro e latino-americano para o espaço: o cubano Arnaldo Tamayo Méndez.

O fato ocorreu em 18 de setembro de 1980 quando Méndez, junto com o cosmonauta russo Yuri Romanenko, foram mandados ao espaço pela missão Soyuz 38, onde ambos ficaram sete dias na estação espacial soviética Salyut-6.

Leia também
China promoverá maior programa de ajuda econômica externa a Cuba desde fim da URSS

Na ilha caribenha, o povo cubano acompanhou o feito histórico pela televisão e, na volta ao seu país, Méndez foi tratado como herói da República de Cuba.

Nesse sentido, decidimos resgatar uma reportagem de dezembro de 1980 que conta, brevemente, sobre essa façanha que foi fruto da cooperação Cuba – União Soviética. Segue o texto abaixo:

Pouca gente sabe que outro grande feito da antiga URSS foi de levar o primeiro homem negro e latino-americano para o espaço

Granma
Méndez e o cosmonauta russo Yuri Romanenko, foram mandados ao espaço pela missão Soyuz 38

Um cubano no espaço

”A recente missão espacial na qual participou Arnaldo Tamayo Méndez, cubano, negro, ex-engraxate, será, sem dúvida nenhuma, entendida como uma mensagem forte e clara para os humilhados e oprimidos da Terra: se têm oportunidades e meios, todos os homens podem atingir os seus mais altos objetivos. 

A quase duas décadas do primeiro voo humano pelo espaço – o de Yuri Gagarin, a 12 de abril de 1961 – o programa cosmonáutico soviético trouxe algo mais que um progresso científico e técnico. Mostrou a capacidade. – e o valor – de homens e mulheres das mais humildes origens e ·das mais diversas raças, em uma das mais difíceis profissões do nosso tempo: a de cosmonauta.

O vôo anterior havia levado um vietnamita ao Cosmos. Desta vez foi um cubano. Entrevistei Yuri Gagarin e Gherman Titov quando regressaram da sua missão espacial. O pai de Gagarin era carpinteiro e sua mãe trabalhava em uma granja coletiva.

Arnaldo Tamayo Méndez não teve pai nem mãe que o fosse receber. Órfão desde o seu primeiro ano de vida, foi criado por uma das avós na maior pobreza. Aos treze anos, engraxava sapatos nas ruas e vendia verduras. Depois, foi aprendiz de carpinteiro. Ele mesmo pagou ·os seus estudos primários e os primeiros anos do nível secundário. 

Leia também
Inspirados por rebeldia de Fidel, jovem geração cubana continua a lutar contra imperialismo em Cuba

Tinha dezessete anos quando os guerrilheiros de Fidel chegaram a Havana. Aderiu imediatamente à Associação de Jovens Rebeldes e foi como voluntário para as brigadas de jovens trabalhadores de Sierra Maestra. A um ano do triunfo da revolução, foi designado para aprender a pilotar aviões na União Soviética, primeiro passo de uma carreira que o transformaria em astronauta.

Herdeiro das lutas contra o colonialismo

Arnaldo Tamayo Méndez tem a pele dos antigos escravos africanos e os traços aquilinos dos conquistadores espanhóis. E assume ao mesmo tempo a herança política das gerações de cubanos que lutaram contra o colonialismo espanhol, que foram aos milhares para a Espanha combater o franquismo e, mais tarde, contra o racismo sul-africano em Angola, justamente de onde foram desterrados para o Caribe muitos dos ancestrais de Arnaldo Tamayo.

Com relação à pequena cápsula espacial de Yuri Gagarin – desenhada para somente um homem e para um vôo orbital de 108 minutos – a Soyuz-38 pilotada por Yuri Romanenko e Arnaldo Tamayo até o acoplamento à estação espacial Salyut-6, parecia um museu carregado de símbolos.

Sobre o tema
Fidel Castro antes e depois da história russa e soviética

Levou ao espaço fotografias de Fidel Castro e Leonid Brejnev, retratos de Gagarin com Fidel, de Jose Martí e de Guevara, uma maqueta do Granma, areia de Playa Girón, um exemplar do poema de Guillén

“O cosmonauta” e um modesto caracol cubano que os cientistas chamam de polymita picta, símbolo do processo que levou um tataraneto de escravos a converter-se em conquistador do espaço.”

Gabriel Rodrigues Farias, da equipe dos Cadernos do Terceiro Mundo especial para Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na Tv Diálogos do Sul

 

   

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gabriel Rodrigues Farias

LEIA tAMBÉM

Gaza_Israel
Israel destrói terras agrícolas em Gaza e no Líbano para tornar áreas inabitáveis
EUA_armas_violencia
Controle armamentista nos EUA: 39% dos donos de armas legitimam violência política
(c) Peter Kurdulija,New Zealand
Perseguição a muçulmanos e subordinação aos EUA: Europa segue firme rumo à “re-nazificação”
Ousmane Sonko
Ousmane Sonko: o panafricanista de esquerda que incendiou ruas e hoje é primeiro-ministro do Senegal