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ToggleNa última segunda-feira (31), o presidente Joe Biden, no ato oficial do Memorial Day (feriado que homenageia os militares americanos que morreram em combate), em Guerras, afirmou que “hoje se honra aos que deram suas vidas em guerras estadunidenses em nome da democracia, da liberdade e da justiça”, mas veteranos militares dissidentes declararam que as guerras foram por motivos imperiais e que sua mensagem para marcar este dia oficial é “à merda com as guerras”.
No Cemitério Nacional Arlington, o comandante em chefe disse que ao comemorar os que fizeram o “último sacrifício”, os vivos devem assegurar que isso não foi em vão, e que essa luta continua hoje em dia já que “a própria democracia está em perigo, aqui em casa e ao redor do mundo”.
Parte da mensagem de Biden foi inusual para esta data em que normalmente só se exaltam as batalhas no exterior, ao incluir a disputa dentro de seu país entre o que chamou de “democracia e autocracia”, referindo-se, entre outras, às batalhas políticas domésticas sobre a legitimidade dos processos eleitorais, os esforços de republicanos para suprimir o voto, o racismo sistêmico e os direitos civis.
No terreno do exterior, evitou avaliar as guerras estadunidenses mais longas de sua história, no Afeganistão e no Iraque – as quais ele apoiou como senador – recordando que haviam morrido 7.036 estadunidenses e que, segundo ele, são parte da luta pelos ideais democráticos. Biden tem anunciado que espera retirar as tropas do Afeganistão em 11 de setembro, vigésimo aniversário do atentado terrorista contra os Estados Unidos.
Elogiando os caídos nas guerras que “deram suas vidas por seu país”, Biden declarou que são “as sentinelas da liberdade, os defensores dos pisoteados, os libertadores de nações; e mesmo hoje em dia, estadunidenses vigiam ao redor do mundo, frequentemente com grande risco pessoal”.
Esses “perigos” contra a democracia estadunidense dentro do país aos quais aludiu Biden em seu discurso, persistem nos corredores do Congresso, nas declarações de seu antecessor, e em fóruns e redes sociais em que se insiste em que a eleição foi roubada através de uma magna fraude. Só esse fim de semana, o ex-assessor de segurança nacional de Donald Trump, o ex-general Michael Flynn, sugeriu diante de um fórum direitista em Dallas que se deveria levar a cabo um golpe de estado, estilo Myanmar, nos Estados Unidos.
Os atos oficiais do presidente foram realizados no cemitério nacional em Arlington (existem 155 mais por todo o país para veteranos militares), com aproximadamente 400 mil tumbas, na periferia da capital. Biden foi acompanhado por sua esposa, pela vice-presidenta Kamala Harris e seu esposo, pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin e pelo chefe do estado maior, Mark Milley.
Este, como outros dias feriados oficiais, são marcados por discursos patrióticos, desfiles e anúncios de eventos esportivos, mas em geral são usados mais como feriados prolongados e promoções comerciais. De fato, segundo uma enquete recente, só 55% dos estadunidenses podiam identificar o significado do Memorial Day.
E ainda mais, a retórica marcial pelos comandantes em chefe ocultam o fato de que os últimos cinco presidentes, incluindo o atual, não têm experiência militar (três evadiram seu serviço militar, um o fez na reserva e evitou ser enviado a guerra). Biden conseguiu evitar o serviço que outros de sua geração foram obrigados a cumprir no Vietnã, mas hoje recordou que seu filho Beau foi militar do exército enviado ao Iraque por um ano (o único familiar de presidentes recentes com experiência militar pessoal). Só 17 por cento dos legisladores federais têm experiência militar.
Governo dos Estados Unidos
"Hoje se honra aos que deram suas vidas em guerras estadunidenses em nome da democracia, da liberdade e da justiça", disse Biden.
Dissidentes
Muitos veteranos militares não foram convidados para as cerimônias oficiais, apesar de também terem sacrificado tudo e inclusive foram testemunhas pessoais do que os políticos nacionais contavam sobre a glória bélica, mas não partilham a retórica patriótica.
“À merda com as guerras. Estamos cansados de desfiles, comemorações e pompa. Retirem seus “obrigado por seu serviço” e seus descontos de 50% nas promoções. Queremos que as pessoas vivam sem ameaça de balas e bombas estadunidenses”, declararam os Veteranos pela Paz – organização com milhares de membros em 120 capítulos por todo o país – em seu comunicado para este dia. “Estamos desgostosos que haja um dia feriado que glorifica o nacionalismo e o patriotismo e ignora o trauma que o militarismo estadunidense provoca por todo o mundo”.
“Estamos cheios de raiva enquanto observamos os lugares comuns dos maiores partidos políticos elogiando os soldados e os veteranos, enquanto continuam enviando-os a guerra para forrar os bolsos dos ricos. Estamos frustrados porque os meios e a cultura popular glorificam o militarismo estadunidense”.
Outra organização de veteranos militares “About Face: Veterans Against the War”, conformado por veteranos e tropas pós-9/11, declararam nesta segunda-feira que “o Dia de Comemoração é um recordatório do império dos Estados Unidos e da sua sórdida história. Os milhões de vítimas inocentes da agressão estadunidense, e nossas tropas que deram suas vidas, perguntamos: para que”?
“Quando recordamos os soldados mas não suas vítimas; quando glorificamos as mortes de milhões sem sentido; quando apresentamos matanças como algo nobre; quando exageramos o patriotismo; quando celebramos o militarismo; não estamos honrando os mortos em guerras; estamos incitando que os vivos se somem a eles”.
O total de militares estadunidenses mortos em batalhas ascende a um total de mais de 658 mil entre 1775 e hoje. Ao incluir mortes de soldados em zonas de conflito essa cifra é aumentada de mais 308 mil. Essa cifra total não se menciona muito, nem que a grande maioria morreu em terras estrangeiras (com exceção da Guerra Civil no século XIX). Nunca se menciona a quantos mataram em outras terras em nome da liberdade.
As guerras não param para alguns veteranos. Em média 17 a 22 veteranos se suicidam a cada dia; desde 2020, uns 300 mil padecem de problemas psicológicos como resultado de “servir”; mais de 1,5 milhões dos 3,8 milhões que serviram nas forças armadas desde 2001 padecem de alguma incapacidade como resultado. No total, há nos Estados Unidos cerca de 19 milhões de veteranos militares.
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