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ToggleDesafiando o consenso da comunidade internacional da qual se proclama “líder”, o governo de Joe Biden retrocedeu à antiquada retórica da Guerra Fria em sua política para Havana ao subordinar-se aos contrarrevolucionários de Miami.
O governo de Biden reiterou sua posição expressada pelo presidente e outros funcionários na segunda-feira (12), de apoio aos protestos “espontâneos” em Cuba e “seu clamor de liberdade” e de condenar o governo “autoritário” ao qual culpou da crise econômica na ilha — tudo sem reconhecer que as severas medidas para apertar o bloqueio, impulsionadas por Donald Trump, que Biden deixou vigentes têm o propósito gerar justamente essas condições e nutrir o descontentamento.
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Em Miami, o coro de vozes anticastristas inundou os meios e as redes sociais com muitos exigindo uma intervenção armada dos Estados Unidos em Cuba, incluindo o prefeito Francis Suárez, que tuitou que as pessoas de Miami “estão desesperadas pela intervenção do governo [estadunidense} e deles em nome de Cuba”.
Pouco depois, em entrevista à Fox News, Suárez sugeriu que será contemplada “uma ação militar conjunta” incluindo “ataques aéreos” contra Cuba, usando como exemplo a invasão ao Panamá, entre outros.
A Guarda Costeira dos Estados Unidos se viu obrigada a emitir uma advertência contra cubanos-estadunidenses que ameaçam zarpar em barcos da Flórida para Cuba, supostamente para levar assistência aos manifestantes na ilha; alguns deles indicam que viajarão armados para “defender-se” em uma óbvia manobra para tentar provocar enfrentamentos com as autoridades cubanas. A Guarda Costeira afirmou que não emitirá licenças para esse tipo de viagem.
Os legisladores cubano-estadunidenses continuaram expressando seu apoio às manifestações de protesto e não ocultam seu desejo de que esta conjuntura seja propícia para intervir nos assuntos políticos em Cuba.
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Nada disso é surpreendente, mas sim o é que os estrategistas de Biden decidam permitir — outra vez mais — que Miami defina a política exterior para Cuba.
La Jornada
Em Cuba registaram-se protestos perante a crise económica que se agrava com o bloqueio econômico dos Estados Unidos
“Biden não é Obama”
Desde que chegou à Casa Branca, Biden e sua equipe haviam tentado evitar abordar esse tema e só comentaram que estava sendo “avaliado”, mas advertiram que “Biden não é Obama”, indicando que não se retomará a política de normalização como o democrata havia prometido durante sua campanha eleitoral.
Porém, os acontecimentos na ilha obrigaram Biden a definir sua política; a declaração do presidente sobre Cuba na segunda-feira (12) em apoio aos protestos foi a primeira vez em que abordou o tema da ilha desde que chegou à Casa Branca.
Por ora, a Casa Branca optou por voltar para o passado, e ceder a política para Cuba aos senadores Marco Rubio, Ted Cruz e Lindsey Graham (todos republicanos) e ao influente chefe do Comitê de Relações Exteriores do Senado, o democrata Bob Menéndez.
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Ao adotar a retórica dos republicanos para responder às manifestações em Cuba, Biden aparentemente decidiu rechaçar, por ora, a abertura para a ilha e substituí-la por um acercamento a Miami.
Mudanças nas estratégias dos democratas
O Washington Post reportou que com suas declarações, Biden está tomando “o que alguns democratas veem como uma oportunidade inesperada para seu partido mudar o curso sobre Cuba e refazer sua estratégia, após serem percebidos por alguns eleitores — particularmente na Flórida — como acomodados ao regime autoritário”.
Vale recordar que Biden foi esmagado por Donald Trump na Flórida na eleição de 2020, provocando prejuízos para os democratas em várias partes desse estado, e agora alguns argumentam que a maneira como for manejada a conjuntura com Cuba poderá ajudar a recuperar terreno político já nas eleições intermediárias de 2022.
Para figuras democratas como Menéndez, “esta é uma oportunidade para que mudemos o curso dos eventos em Cuba” e argumenta que isso beneficiará os democratas e Biden nos Estados Unidos.
Falta de consenso
Mas diferentemente dos tempos da Guerra Fria e a nostalgia que provocou na primeira década do novo século, já não existe consenso sobre o bloqueio a Cuba e as políticas de isolamento da ilha.
Nas últimas 48 horas multiplicaram-se o número de legisladores democratas que expressaram publicamente a urgência de modificar e anular as medidas impulsionadas por Trump para asfixiar a ilha, e inclusive retornar à política de normalização iniciada pelo antigo chefe de Biden, Obama.
O deputado federal Jesús Chuy García, reconhecendo o direito ao protesto pacífico em Cuba declarou que “as sanções sob o governo de Trump — mais o embargo estadunidense de décadas — semearam desespero em lugar de democracia. Os Estados Unidos devem terminar o bloqueio”.
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Vários de seus colegas, incluindo o chefe do Comitê de Assuntos Exteriores da câmara baixa, Gregory Meeks, o deputado Jim McGovern e as deputadas Susan Wild e Marie Newman se expressaram a favor de anular as medidas de Trump e reabrir a relação bilateral — vale recordar que cerca de 80 deputados democratas haviam apelado desde março a Biden para que anulasse as sanções impostas por Trump e retomasse a política de abertura.
Inclusive até alguns republicanos expressaram suas diferenças. O ex-secretário de Comércio de George W. Bush, o cubano-estadunidense Carlos Gutiérrez declarou que “a política em Cuba será determinada pelos cubanos na ilha”. Se o governo de Biden deseja ajudar o povo cubano deveria levantar a proibição sobre remessas e facilitar o acesso a alimentos e remédios”.
Apoio aos direitos humanos
O professor William LeoGrande da American University e especialista em política para a América Latina e Cuba, escreveu recentemente em La Jornada que se Biden “deseja apoiar os direitos humanos em Cuba… pode começar por aliviar a crise alimentar pondo fim à proibição de Trump sobre remessas e restaurando o direito de residentes estadunidenses a viajar”
Mas isso não o ajudaria com os direitistas em Miami.
Enquanto isso, temendo um possível êxodo migrante descontrolado de Cuba semelhante a outros no passado, Alejandro Mayorkas, secretário de Segurança Interna do governo de Biden, advertiu que “se forem por mar, não virão aos Estados Unidos”.
Aparentemente, os que apoiam lá não são bem-vindos aqui.
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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