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Na ONU, Biden destaca cooperação e multilateralismo, mas diz que EUA seguem líder

“Seremos o líder sobre os desafios de nosso tempo", disse diante de uma plateia que não se empolgou, mas que estava aliviada por ser ele ali e não Trump
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Em seu primeiro discurso como presidente perante o máximo fórum mundial de governos, Joe Biden proclamou que os Estados Unidos concluíram o período de “guerra incessante e estamos abrindo uma nova era de diplomacia incessante”, ressaltou a cooperação internacional e o multilateralismo como a resposta aos desafios mundiais — marcando o claro contraste com seu antecessor — mas também deixou claro que seu país continua sendo o líder do mundo.

“Pela primeira vez os Estados Unidos não estão em guerra”, festejou Biden — embora de imediato críticas apontaram que Washington continua com operações bélicas no Iraque e na Síria e outras ações de guerra em vários pontos do planeta — e afirmou que o poder militar “deve ser nosso instrumento de último recurso, não o primeiro. Não deveria ser usado como a resposta a cada problema” e inclusive não ajuda a combater pandemias e outros desafios transnacionais. 

Reiterou sua consigna de que os Estados Unidos “estão de volta” no âmbito multilateral, dando como exemplo o retorno de seu governo como membro ativo da ONU, à Organização Mundial da Saúde, ao Acordo de Paris sobre mudança climática, os esforços multilaterais para resgatar os acordos antinucleares com o Irã e na península coreana, como também revitalizar velhas alianças como a OTAN. 

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Mas assegurou:c“seremos o líder, seremos líder sobre todos os grandes desafios de nosso tempo — de Covid o clima, paz e segurança, dignidade humana e direitos humanos. Mas não o faremos sozinhos. Seremos líderes junto com nossos aliados e sócios e em cooperação com todos os que crêem, como nós, que está dentro de nosso poder enfrentar esses desafios…” 

“Seremos o líder sobre os desafios de nosso tempo", disse diante de uma plateia que não se empolgou, mas que estava aliviada por ser ele ali e não Trump

Reprodução
Biden na ONU

Ao mesmo tempo, depois de críticas do secretário geral da ONU, António Guterres e outros sobre a crescente tensão entre os Estados Unidos e a China, afirmou: “não estamos buscando uma nova guerra fria ou um mundo dividido em blocos rígidos”.

Sublinhou que ao redobrar o poder da diplomacia, se regressa à posição dos dois Estados como solução de longo prazo no conflito entre Israel e o povo palestino, e a necessidade de esforços para resolver outros conflitos regionais e frear seus custos humanitários. 

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Também sustentou que os princípios democráticos são o fundamento da política estadunidense e identificou o “autoritarismo” como uma ameaça maior. Isso implica, disse, em defender os direitos das mulheres, das minorias raciais e étnicas, dos gays, entre outros.

“O autoritarismo poderia buscar proclamar o fim da era da democracia. A verdade é que o mundo democrático está em toda parte. Vive nos ativistas anticorrupção, nos defensores de direitos humanos, nos jornalistas, nos manifestantes pela paz” ao redor do mundo — e foi nesse contexto que mencionou Cuba e Venezuela entre outros.

Biden se comprometeu a contribuir com mais fundos aos esforços globais contra a pandemia, recordando que já foram enviados mais de 160 milhões de vacinas a 100 países — mas não abordou o tema de anular ou suspender as patentes farmacêuticas que impedem até agora a produção e o acesso universal aos antivirais. Indicou que anunciará mais iniciativas na quarta-feira na Cúpula da Covid-19 que convocou em Washington.

Também disse que buscará duplicar a assistência financeira internacional dos Estados Unidos a 11 bilhões de dólares anuais para ajudar a que países em desenvolvimento possam abordar a mudança climática e anunciou um compromisso de 10 bilhões para a redução da fome mundial. Qualificou a corrupção como uma “ameaça à segurança nacional e ao século 21”, e sublinhou a necessidade de reverter a desigualdade econômica e combater a impunidade. 

Mas tudo isso ocorreu em um contexto de problemas diplomáticos que enfrenta agora a Casa Branca, desde a disputa surpreendente e mal manejada com a França, a retirada caótica do Afeganistão, pouco coordenada com outros países “aliados”, bem como problemas para abordar o tema migratório, e críticas ao aporte estadunidense ao esforço global sobre a pandemia, entre outros.  

No final ele foi aplaudido no grande salão da Assembleia Geral, mas não houve nenhuma ovação de pé dos membros da ONU, embora fosse muito claro que muitos dos presentes estavam muito gratos por ser ele ali e não seu antecessor.

David Brooks, correspondente – La Jornada

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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