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Chomsky | "Força mais perigosa do mundo": Partido Republicano comanda golpe nos EUA

Estão se preparando para que os administradores das eleições possam anular votos e estão aprovando leis para impedir minorias, imigrantes e latinos de votar
Mirko C. Trudeau
CLAE / Centro Latino-Americano de Análise Estratégica
Nova York

Tradução:

O intelectual e linguista estadunidense Noam Chomsky alertou para o risco de um golpe brando nos Estados Unidos, em coluna publicada após o aniversário do ataque ao Capitólio por partidários do então presidente Donald Trump. “Aquela foi uma tentativa de derrubar um governo eleito”.

Chomsky acrescentou que aquela ação do setor político trompista foi muito explícita, inclusive no discurso do ex-presidente, que inflamou seus seguidores dizendo “as eleições foram roubadas, vamos ao Capitólio”.

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“Uma tentativa de derrubar um governo eleito é uma tentativa golpe, e aquela foi uma tentativa violenta de golpe. Um grupo de republicanos se recusou a fazer parte dela e impediu que ela tivesse sucesso. Mas esse propósito foi seguido por uma nova estratégia de golpe brando, que está acontecendo agora, e avança todos os dias diante de nossos olhos”, disse Chomsky, em entrevista ao jornal espanhol El País.

Aos 93 anos, Noam Chomsky continua normalmente com suas atividades. Ele escreve, dá palestras e entrevistas, e se mantém na linha de frente do debate político internacional, defendendo as ideias nas quais acredita.

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Ele colabora com alguns movimentos progressistas, como o europeu DCiem 25, que alerta sobre os riscos das mudanças climáticas, que se tornaram um dos maiores flagelos do trumpismo.

Segundo o linguista, “o Partido Republicano já não é somente uma organização política, e sim uma força neofascista. Os Estados Unidos são uma sociedade tecnologicamente e culturalmente avançada, mas é pré-moderna em outras áreas”.

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Ele assegurou que os republicanos planejam com cuidado para que, da próxima vez, seu golpe seja bem-sucedido. “Estão preparando o terreno, certificando-se, por exemplo, de que as pessoas que administram as eleições tenham o poder de anular votos. Também estão aprovando dezenas de leis para impedir que as ‘pessoas erradas’ votem, incluindo minorias, imigrantes e pobres”, comentou o intelectual estadunidense.

O intelectual e linguista estadunidense Noam Chomsky alertou para o risco de um golpe brando nos Estados Unidos, em coluna publicada após o aniversário do ataque ao Capitólio por partidários do então presidente Donald Trump. “Aquela foi uma tentativa de derrubar um governo eleito”.

Estão se preparando para que os administradores das eleições possam anular votos e estão aprovando leis para impedir minorias, imigrantes e latinos de votar

Reprodução/Twitter
Biden versus Trump

 “As eleições foram roubadas, vamos ao Capitólio”

Chomsky acrescentou que aquela ação do setor político trumpista foi muito explícita, inclusive no discurso do ex-presidente, que inflamou seus seguidores dizendo “as eleições foram roubadas, vamos ao Capitólio”.

“Uma tentativa de derrubar um governo eleito é uma tentativa deD golpe, e aquela foi uma tentativa violenta de golpe. Um grupo de republicanos se recusou a fazer parte dela e impediu que ela tivesse sucesso. Mas esse propósito foi seguido por uma nova estratégia de golpe brando, que está acontecendo agora, e avança todos os dias diante de nossos olhos”, disse Chomsky, em entrevista ao jornal espanhol El País.

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Para Chomsky, é muito possível que Trump ganhe a eleição em 2024. “Ele tem uma base raivosa de devotos, tem os líderes do Partido Republicano comendo na sua mão, todos eles correm até a sua mansão para beijar seus sapatos e obter a sua bênção. Com esta nova estratégia, eles pretendem modificar o sistema eleitoral, e assim controlá-lo, e se conseguirem isso, podem ganhar”.

O linguista define Donald Trump como um demagogo eficaz, que “sabe utilizar os venenos que correm sob a superfície da sociedade norte-americana, trazendo-os à tona na hora que lhe convém. Agora há um grupo que o venera como se fosse um Duce (saudação típica dos fascistas italianos a Benito Mussolini), o escolhido por Deus. São essas pessoas que invadiram o Capitólio. A democracia estadunidense está em grave perigo”.

Sobre a presidência do democrata Joe Biden, Chomsky destacou: “eu não esperava muito, francamente, mas os resultados dos programas nacionais têm sido positivos. Boa parte deles foi copiada da plataforma programática desenhada por Bernie Sanders, que representa a ala mais progressista do Partido Democrata. No entanto, a oposição tem podado esses projetos, o que faz com que os avanços não sejam suficientes.

“Lembremos que nas eleições nas quais Trump prevaleceu, a alternativa era uma candidatura do Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora há 40 anos. A classe trabalhadora não é um distrito eleitoral. Ninguém os representa no sistema político dos Estados Unidos atualmente. Os republicanos, embora afirmem ser seus representantes, são basicamente os inimigos da classe trabalhadora. Para esconder isso, dirigem sua mensagem política a grupos religiosos e à supremacia branca”, comentou Chomsky, em outra entrevista, à BBC.

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Ele definiu o Partido Republicano como “a organização mais perigosa do planeta Terra e da história da humanidade”, e completou dizendo que “quando disse isso pela primeira vez, foi qualificado como uma declaração escandalosa, mas é a verdade”.

Questionado sobre se Trump e o Partido Republicano são piores que a Coreia do Norte de Kim Jong-un ou o Estado Islâmico, Chomsky respondeu: “o Estado Islâmico está tentando destruir a perspectiva de existência humana organizada? O que quero dizer é que não estamos fazendo nada para evitar as mudanças climáticas, e ainda estamos tentando acelerar essa corrida para o fundo do poço, um processo que tem no trumpismo seu principal aliado”.

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Ele também observou que “os republicanos estão convencidos de que a ciência por trás das mudanças climáticas não tem fundamento. Não importa se eles acreditam ou não no que pregam. As pessoas que realmente acreditam em Jesus Cristo confiam que ele virá para salvá-las durante sua vida”.

“Se a consequência de acreditarem ou não na ciência é que vamos usar mais combustíveis fósseis, não vamos subsidiar os países em desenvolvimento e estamos dispostos a eliminar as regulamentações que nos obrigam a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, então as consequências são extremamente perigosas. A menos que você viva dentro de um bunker, deve reconhecer a gravidade dessa ameaça”, comentou.

Noam Chomsky é um dos maiores intelectuais vivos da esquerda norte-americana, mas também o pai da linguística moderna, tendo estabelecido, na Década de 1950, a teoria da gramática generativa.

Chomsky e o anarquismo espanhol

O anarquismo, uma das grandes utopias do Século XX e a única que nunca alcançou o poder real em um Estado, foi analisado por Noam Chomsky no livro “Sobre el anarquismo”, publicado na Espanha.

Não se trata somente de um livro de História, ou de uma resenha de um dos “ismos” (como o comunismo, o fascismo ou o capitalismo…) participou das últimas grandes guerras. É um encontro de duas grandes reflexões sobre esta proposta de sociedade libertária e coletivizada, uma das quais é dedicada ao que aconteceu durante a Guerra Civil Espanhola, entre os anos de 1936 e 1937, quando o anarquismo, após o golpe de Franco, prevaleceu em redutos tão importantes como Aragón e Barcelona.

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Foi “uma revolução social de alcance sem precedentes, que terminou sendo esmagada à força pelo comunismo, cada vez mais dono do governo, estando à ‘direita’ da República”, definiu Chomsky.

“A Guerra Civil Espanhola é um dos eventos cruciais da história moderna”, completa o acadêmico. “Espontaneamente, sem uma vanguarda revolucionária, os espanhóis alcançaram a coletivização industrial e rural, até se enfrentarem a um dilema: por um lado, o fascismo, e por outro, o comunismo, em meio a uma Guarda Civil que produzia uma repressão sangrenta em Barcelona”, %u20B%u20Bconclui Chomsky.

“Enquanto as tropas dos rebeldes avançavam, com ajuda alemã, italiana e britânica – revela Chomsky – a ‘revolução anarquista’ e a ‘contrarrevolução soviética’ se enfrentavam. Os segundos levaram a melhor. Não devemos esquecer que o governo central tinha enormes reservas de ouro, que logo seriam entregues à União Soviética”, sustenta o autor, que alerta para a “perda de objetividade” nos relatos sobre o anarquismo espanhol.

Mirko C. Trudeau é integrante do Observatório de Estudos Macroeconômicos de Nova York, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

*Publicado originalmente em estrategia.la

Tradução de Victor Farinelli, na Carta Maior


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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