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Após anos de ameaças e sanções, Rússia reage e Ocidente encena espanto

Há 20 anos, Rússia podia e queria aderir à OTAN e unificar a Europa; no entanto, eles escolheram torná-la uma inimiga
Alexander Sheffner
International Affairs
Moscou

Tradução:

Apesar das possíveis sanções e suas consequências econômicas contundentes, o urso russo caçado saiu da toca e vai atrás dos caçadores. Até recentemente, russos, ucranianos e europeus acreditavam que não haveria guerra. O que vemos agora, no entanto, é uma invasão russa em grande escala e bastante bem-sucedida também. Para onde estão indo as tropas russas e, mais importante, por quê? E onde elas vão parar?

Fortalecida na Era Putin, desde a dissolução da União Soviética, a Rússia estava bastante satisfeita com seu novo status de potência e líder regional, e apenas recordava verbalmente seu glorioso passado imperial. Durante o início dos anos 2000, a Rússia até cogitou a possibilidade de integrar-se à OTAN e à UE, apenas para ver seus interesses naturais e legítimos repetidamente e descaradamente ignorados. Milhões de falantes de russo que vivem nas repúblicas pós-soviéticas foram privados de seu direito de usar sua língua nativa, enquanto os países bálticos e a Ucrânia lucraram com o trânsito de gás, petróleo e matérias-primas. Houve até uma nova “política de gasodutos”, quando a Rússia foi pressionada a fazer concessões em troca de ser autorizada a construir um gasoduto ou simplesmente fechar o seu gasoduto.

Há 20 anos, Rússia podia e queria aderir à OTAN e unificar a Europa; no entanto, eles escolheram torná-la uma inimiga

Sputinik
Moscou foi encurralada. Agora, está demonstrando sua força e defendendo seus interesses

De fato, uma Rússia ressurgente estava sendo gradualmente apresentada como um “inimigo potencial” para reiterar o papel da OTAN como defensora contra a ameaça russa imaginada. Tudo isso resultou nos eventos de 2013 na Ucrânia, onde os nacionalistas chegaram ao poder não sem ajuda externa, recusando-se categoricamente a salvaguardar os interesses da população de língua russa do país, principalmente no leste da Ucrânia. 

Correndo o risco de perder a sua base naval de Sebastopol (lá existente desde o século XVIII) e desejando proteger o povo de língua russa que vive na Ucrânia, a Rússia, com o total apoio da população local, anexou a Crimeia e apoiou os separatistas de Donbass. Seguiu-se a proibição de Kiev do uso da língua russa no país (não totalmente bem-sucedida, pois era a principal língua falada da Ucrânia) e a perseguição policial daqueles que defendiam um diálogo com Moscou.

Em seu esforço para apoiar a Ucrânia, o Ocidente introduziu uma série de sanções anti-russas, que prejudicaram seriamente a economia do país. Ainda assim, nos últimos oito anos, a Rússia estava pronta para o diálogo. Em troca de autonomia para os falantes de russo e garantias de não implantação de uma infra-estrutura da OTAN no leste da Ucrânia, Moscou estava preparada para reverter seu apoio aos separatistas e, possivelmente, até realizar um novo referendo na Crimeia sobre a sua reunificação com a Rússia.

No entanto, durante todos esses oito anos, as pessoas continuaram a morrer ao longo da linha de retirada em Donbass, separando as forças armadas de Kiev e os separatistas (a uma taxa de mais de 100 por ano). Enquanto isso, a Rússia foi oficialmente rotulada por Kiev como um “agressor”, e os que estão no poder na Ucrânia começaram a prepararem-se ativamente para uma grande guerra, exigindo assistência militar e financeira da UE e de Washington.

E, enquanto o antecessor do presidente Zelenski, o milionário Petro Poroshenko, ainda conseguia manter um diálogo com Moscou com a ajuda dos oligarcas, o atual presidente, que chegou ao poder com base nas promessas de buscar a paz e a reconciliação, estava esforçando-se para entrar na OTAN e estava ameaçando a Rússia com mísseis posicionados perto de Chernigov (750 km de Moscou). Quanto ao Kremlin, passou os últimos seis meses tentando negociar com Bruxelas, Washington e o próprio Zelenski. Tudo o que Putin estava pedindo eram garantias de segurança para a Rússia. Na verdade, Moscou nunca realmente ameaçou a Ucrânia, mas ainda estava sendo sistematicamente empurrada para uma solução militar.

Deve-se notar que, antes da invasão, Putin explicou detalhadamente a seus compatriotas o que estava acontecendo, lembrando como as fronteiras das repúblicas soviéticas foram cortadas e como os territórios de língua russa foram entregues à Ucrânia. Ele também deixou claro que não se pode falar de violação do direito internacional após a invasão do Iraque, o bombardeio da Sérvia, o reconhecimento do Kosovo e a mudança da OTAN para as fronteiras russas.

Sejamos honestos: um urso dormindo pacificamente em sua toca foi enxotado de lá ao ser cutucado com um pedaço de pau, e agora eles estão perguntando-se por que está perseguindo aqueles que fizeram isso. Moscou foi encurralada e agora está demonstrando sua força e defendendo seus interesses. Agora Putin ficará, na melhor das hipóteses, satisfeito com uma mudança de guarda em Kiev e, na pior das hipóteses, a Ucrânia como Estado desaparecerá do mapa da Europa. É possível justificar uma agressão provocada há muito tempo? Esta é uma questão de uma longa discussão. Uma coisa é certa: há 20 anos, a Rússia podia e queria aderir à OTAN e unificar a Europa. No entanto, eles escolheram torná-la uma inimiga…

Fonte: Texto originalmente publicado em inglês no site da International Affairs, confira aqui.

Tradução: Alessandra Scangarelli Brites – Intertelas

Pesquisa de fotos e vídeos: Alessandra Scangarelli Brites – Intertelas 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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