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A história se repete: EUA acusam Rússia de planejar uso de armas químicas na Ucrânia

Mantendo estímulo à continuidade do conflito, Biden disse ainda que Putin estaria disposto a sequestrar funcionários locais para substitui-los por líderes
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente Joe Biden e seu governo continuaram acusando Vladimir Putin de cometer crimes de guerra e o qualificou como um “ditador assassino”, e se auto congratulou por enviar mais armas sofisticadas a Ucrânia e, como tem sido o caso desde o início do conflito, não reconheceu seu próprio papel em provocar a crise nem apresentou alguma proposta para frear a guerra. 

Um dia depois de declarar que sua contraparte russa é “um criminoso de guerra”, Biden, em um evento festejando o Dia de São Patrícia, sublinhou que Irlanda e outros estão unidos “contra um ditador assassino e um valentão que está realizando uma guerra imoral contra o povo da Ucrânia”. 

Seu secretário de Estado, Antony Blinken, disse nesta quinta-feira estar de acordo com Biden em qualificar Putin como criminoso de guerra, embora tenha sublinhado que isto é “uma opinião” que ainda requer documentação e um processo legal para defini-lo como tal, algo que “nossos especialistas” estão fazendo. Disse que “intencionalmente apontar contra civis é um crime de guerra… é difícil concluir que os russos estejam fazendo outra coisa”.

Mantendo estímulo à continuidade do conflito, Biden disse ainda que Putin estaria disposto a sequestrar funcionários locais para substitui-los por líderes

Montagem Diálogos do Sul
Joe Biden continua em sua investida contra Vladimir Putin em meio ao conflito de Rússia e Ucrânia

Ainda mais, Biden advertiu que os Estados Unidos creem que “Moscou poderia estar preparando o cenário para o uso de uma arma química” com o que falsamente acusar a Ucrânia desse fato para justificar e intensificar sua guerra e que Rússia também enviará mercenários à Ucrânia e que “é provável que de maneira sistemática sequestrem funcionários locais para substitui-los com títeres”.

Biden, uma vez mais, não fez qualquer referência a processos de negociação para uma saída da guerra, enquanto Blinken expressou seu ceticismo sobre as negociações em curso entre a Rússia e a Ucrânia pela atitude de Moscou. O chefe da diplomacia estadunidense não ofereceu nada em torno a impulsionar uma negociação, nem disse se os Estados Unidos estão dispostos a participar nesse processo.

Biden tem um chamada telefônica programada com o presidente chinês Xi Jinping nesta sexta-feira, mas em lugar de tratar de alentar a possibilidade de uma paz negociada, Blinken decidiu advertir a China que tem a responsabilidade de “usar sua influência com o presidente Putin e defender as regras e principios internacionais que diz defender”. Repreendeu os chineses por “se negarem a condenar esta agressão” e os acusou de aparentemente estarem “planejando ajudar diretamente a Rússia com equipamento militar que será usado na Ucrânia”. Se proceder assim, “não duvidaremos em impor-lhes custos”, advertiu

Críticos assinalam que tudo isso – junto com a retórica e a propaganda oficial caracterizando à direção russa, outra vez mais, como as forças do mal no mundo e até como o novo Hitler – não contribui ao que todos sabem que é necessário: promover uma solução negociada o mais rápido possível. 

Alguns assinalam que o governo estadunidense continua empregando uma retórica sem nenhuma autoridade moral em torno ao respeito a soberanias, a direito internacional e crimes de guerra. Chris Hedges, veterano jornalista de guerra, Prêmio Pulitzer e agora feroz crítico da política exterior estadunidense diz que “a hipocrisia dos Estados Unidos é assombrosa. Os crimes que está realizando a Rússia na Ucrânia são mais do que iguais aos crimes cometidos por Washington no Oriente Médio ao longo das últimas duas décadas”. 

Hedges também recorda que foram figuras tão proeminentes da cúpula política estadunidense como Henry Kissinger e George F. Kennan – ambos arquitetos e estrategistas chaves da guerra fria – os quais advertiram desde os anos noventa que uma expansão da OTAN levaria a um regresso à guerra fria, detonaria um conflito com a Rússia e seria possivelmente o erro mais grave de política exterior da era após o fim da URSS e do Pacto de Varsóvia. 

A insistência de Washington e seus aliados europeus em ampliar a OTAN violando a promessa do ocidente à Rússia no fim da guerra fria gerou as condições para esse conflito, assinala Hedges em scheerpost.com. Adverte que a decisão de Washington e seus aliados de militarizar ainda mais a resposta à invasão russa é “uma receita para uma guerra global. A história, como também todos os conflitos que cobri como correspondente de guerra, demonstraram que quando começam os posicionamentos militares, frequentemente é pouco o que se necessita para incendiar a pira fúnebre”.

Ao mesmo tempo, a guerra de propaganda continua alimentando a russofobia nos Estados Unidos, gerando ameaças a pequenos comércios russos e pondo em risco ou castigando a figuras esportivas, artísticas e acadêmicas russas neste país.  

A Associação de Estudos Eslavos, Europeus do Leste e da Eurásia, junto com a Associação Americana de Antropologia, a Associação Americana de História e várias mais se expressaram contra a “vitimização e exclusão de nossos estudantes e colegas bielorrussos” enquanto se repudia a guerra da Rússia na Ucrânia”.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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