Os trabalhadores do armazém JFK8 da Amazon, em Staten Island, festejaram na sexta-feira uma vitória há muito desejada pelo movimento laboral norte-americano.
A multinacional liderada pelo bilionário Jeff Bezos vai ter de negociar com um sindicato a representar os interesses dos trabalhadores, após 2.654 votos contra 2.131 terem derrotado as pretensões da empresa que investiu mais de 4 milhões de dólares em consultores na campanha anti-sindical.
O próximo passo da luta pela sindicalização terá lugar num armazém vizinho, com a votação a decorrer entre 25 e 29 de abril.
The moment Amazon workers at the JFK8 warehouse declared victory in their vote to form the first Amazon union in the United States pic.twitter.com/Fr92Wz1LIN
— Kei Pritsker (@KeiPritsker) April 1, 2022
O líder do sindicato, Christian Smalls, é um ex-trabalhador despedido após ter organizado um protesto contra a falta de medidas de saúde e segurança no trabalho nos primeiros dias da pandemia em 2020.
Este armazém funcionava com turnos durante 24h/dia e entregas para toda a cidade enquanto esta estava confinada. Quando surgiram os primeiros casos de infetados no interior da empresa, Smalls e os companheiros saíram para o exterior com cartazes onde se lia “A nossa saúde também é essencial”.
#OtD 30 Mar 2020 up to 60 workers at the JFK8 Amazon distribution centre on Staten Island, NY, went on a wildcat strike demanding better safety amidst the Covid-19 pandemic after a breakout. Key organiser Chris Smalls (@Shut_downAmazon) was then fired. pic.twitter.com/HLJ7XPIoVi
— Working Class History (@wrkclasshistory) March 30, 2022
Segundo relata o New York Times, a Amazon mobilizou de imediato uma equipe de reação com o apoio do seu Global Intelligence Program, que conta com ex-militares para dar resposta aos protestos laborais.
Fibonacci Blue – Wikimedia Commons
Amazon mobilizou equipe de reação com o apoio do seu Global Intelligence Program, que conta com ex-militares
Diz o jornal que houve mais vice-presidentes da Amazon alertados para este protesto – onze – do que o número de trabalhadores que a ele aderiram. E um dos principais consultores da empresa aconselhou-a a tornar Smalls no rosto das campanhas pela sindicalização, alegando que ele “não é esperto nem muito articulado”.
Após o despedimento feito com a justificação que estava a violar as regras do confinamento, Smalls e o seu melhor amigo no armazém decidiram organizar um sindicato para estes oito mil trabalhadores, recorrendo a donativos através da plataforma GoFundMe. Quase todos os dias fazia da paragem de autocarros junto ao armazém a sua “sede de campanha” para contatar com os que entravam e saíam do seu turno.
This bus stop has been home to me for the past 11 months. I’ve done all I’ve could of physically done to get to this point. The rest is up to the people our last session of voting ends tonight at 1am Public Count starts tomorrow at 1pm I’ll be in person at the NLRB region 29 BK✊? pic.twitter.com/XhjQQuRTOM
— Christian Smalls (@Shut_downAmazon) March 31, 2022
Ao contrário da campanha que teve um resultado desfavorável à sindicalização num armazém do Alabama, esta surgiu e foi protagonizada a partir de dentro do armazém, o que ajuda a explicar o seu sucesso.
Outro fator foi a nova composição do gabinete federal para as relações laborais após a eleição de Biden, que permitiu aos trabalhadores vitórias importantes na justiça do trabalho, como o direito a organizarem-se dentro das instalações da empresa sem sofrerem retaliações por parte desta.
Apesar disso, a campanha milionária contra a sindicalização prosseguiu, com a monitorização das redes sociais dos ativistas, envios de sms para todos os funcionários e reuniões obrigatórias com superiores hierárquicos onde o tema era invariavelmente as desvantagens de ter um sindicato na empresa.
No dia seguinte à votação histórica, o novo sindicato da Amazon exigiu a abertura da negociação coletiva no início de maio e o respeito pelo direito à representação sindical nas reuniões sobre temas disciplinares.
Redação Esquerda.Net
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