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1/3 dos EUA acredita em teoria de Trump que pode ter motivado ataque transmitido ao vivo

Atentado executado contra negros tem exemplos semelhantes contra latinos e mexicanos, como em El Paso em 2019
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A esmagadora avalanche de notícias apavorantes nos Estados Unidos nesta semana (como em demasiadas semanas anteriores) deixa a gente sem adjetivos – e verbos, e bem, sem palavras pois – e em busca de refúgios.

O ódio racista, o ataque contra os direitos civis e humanos, e um temor cultivado por forças direitistas cobram sangue por todo o país.

Pela primeira vez, empresa de armas é responsabilizada por tiroteio massivo nos EUA

Um jovem branco de 18 anos viaja centenas de quilômetros, carrega seu rifle semiautomático, prende uma câmera para transmitir ao vivo via internet como vai matando 10 pessoas em um supermercado em um bairro afro-estadunidense em Buffalo

Aparentemente agiu guiado pela teoria da conspiração de “substituição de brancos” promovida por direitistas (entre eles Trump e seus aliados) sob a qual brancos estadunidenses estão sendo substituídos por outras raças através de imigração em uma conspiração coordenada por judeus com propósitos eleitorais.

Um terço dos estadunidenses acredita nessa conspiração segundo uma pesquisa da AP/NORC. Desta vez foi contra afro-estadunidenses, em outros parecidos foi contra latinos e mexicanos como em El Paso em 2019, e essa lista é longa.

É verdade que os tiroteios massivos, com todo tipo de motivação, não cessam neste país: nas 19 semanas de 2022 foram registrados 198 a mais – perdão, 199 (enquanto escrevia isto registrou-se outro).

Atentado executado contra negros tem exemplos semelhantes contra latinos e mexicanos, como em El Paso em 2019

 Javier Robles – Pixabay

O ódio racista, o ataque contra os direitos civis e humanos, e um temor cultivado por forças direitistas cobram sangue por todo o país



Armas de fogo, coronavírus e aborto

Os Centros de Controle de Enfermidades (CDC) reportaram na semana passada que um número sem precedentes de estadunidenses, mais de 45 mil, morreram por armas de fogo em 2020. Agora as balas são a principal causa de morte entre as crianças e jovens deste país. 

Em outro rubro, os mesmos CDC reportam que quase 108 mil pessoas morreram por overdose de drogas em 2021, rompendo outro recorde.

EUA promovem “valores democráticos” para outros países, mas são líder mundial em armas e tiroteio em massa

Por estes dias também se registrou que a pandemia nos Estados Unidos superou um milhão de mortes – e a maioria delas desnecessárias causadas pelo desmantelamento da infraestrutura de saúde pública sob políticos neoliberais, junto com uma massiva campanha de direita contra máscaras e depois vacinas, enquanto Trump e outros acusavam que tudo era culpa dos chineses, com o que desataram uma onda de crimes de ódio contra asiático-estadunidenses e imigrantes que ainda continua atualmente. 

Ao mesmo tempo, na guerra contra os direitos fundamentais das mulheres, se acontecer, como se espera, a anulação da garantia constitucional ao aborto lograda há meio século pela Suprema Corte, o acesso ao aborto em mais da metade dos estados poderia ficar proibido nos próximos meses, enquanto que os políticos em Luisiana estão contemplando declarar o aborto como homicídio; e o governador de Nebraska afirmou que vítimas de violação sexual ou incesto deveriam ser obrigadas a permanecer grávidas até dar à luz.


“Nova Normalidade”

Como é possível aguentar essa “normalidade”? Um refúgio (para evitar drogas ou o exílio como opções) está nas expressões de solidariedade, beleza e nobreza que se manifestam através, debaixo, e aos lados deste país de maneira cotidiana. 

Os milhares que marcharam em mais de 350 atos por todo o país neste fim de semana em defesa dos direitos da mulheres, as notícias quase diárias de que trabalhadores em outro Starbucks se sindicalizaram (de zero em dezembro, trabalhadores de mais de 60 lojas votaram a favor de sindicalizar-se com outro 175 solicitando um voto formal), parte de um fenômeno que poderia ser aviso de um renascimento do movimento trabalhista; os jovens com ira urgente que, sem pedir licença encabeçam movimentos ambientalistas, contra as armas e contra as guerras e a favor de seu futuro; os imigrantes que transformam com luta e cultura este país (sem substituir os brancos, mas sim lutando junto a eles para resgatar o país para todos), e sem falar dos músicos, atores, bailarinos, roteiristas e os sempre vitais palhaços/comediantes. 

Não são só refúgio da avalanche. São antídotos, resposta, resistência, rebelião diante na inaguentável normalidade que domina as notícias que partem dos Estados Unidos. 

Bônus Musical 1 | George Carlin – Right To Life


Bônus Musical 2 | Bruce Springsteen – How Can a Poor Man Stand Such Times

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.



As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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