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Brasil foi terceiro país que mais exportou armas de fogo aos EUA em 2020, aponta estudo

Produção anual dos itens triplicou durante as últimas duas décadas no país estadunidense, mas não foi suficiente para cobrir demanda
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A produção anual de armas de fogo nos Estados Unidos quase triplicou nas últimas duas décadas, segundo um novo informe oficial do Birô de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF), tudo enquanto são registrados níveis sem precedentes de mortes por arma de fogo como incessantes incidentes de tiroteios massivos – muitos motivados por ódio racial.

Em um auge nutrido ainda mais com a intensificação do racismo violento e um clima de insegurança durante os últimos anos culminando com a presidência de Donald Trump e seus aliados, a indústria de armamentos para civis elevou a sua produção anual de 3 milhões, 54 mil 439 rifles, pistolas e escopetas em 1996 a 11 milhões 497 mil 441 em 2016 (último ano em que se conta com dados, a 7 milhões 11 mil 945 em 2019).

O informe do ATF documenta uma mudança nas preferências de compra de armas, com pistolas semiautomáticas superando em vendas aos rifles, algo que especialistas assinalam como amostra de que o motivo dessas compras já não é principalmente para esporte ou caça, mas sim para proteção pessoal. 

Dessas armas fabricadas, foram exportadas um total de 317 mil em 2019, depois que em 2018 foi registrado um pico de 554.237, parte de um incremento em exportações que teve início a partir de 2005 (em 2004 foram exportadas quase 140 mil). Desde 2000, as exportações se incrementaram em 240 por cento. 

E como aparentemente não foram fabricadas suficientes armas de fogo dentro dos Estados Unidos, as importações anuais de armas chegaram a ser seis vezes maiores em 2020 comparado com o total anual de 20 anos antes – 20 milhões 831 mil 376 comparado com um milhão e 97 mil.

Produção anual dos itens triplicou durante as últimas duas décadas no país estadunidense, mas não foi suficiente para cobrir demanda


Rod Waddington

Importações anuais de armas chegaram a ser seis vezes maiores em 2020 comparado com o total anual de 20 anos antes nos EUA

Os países que mais venderam armas aos Estados Unidos em 2020 incluem, em primeiro lugar, a Turquia, seguida por Áustria e Brasil, em uma lista de mais de 31 países, incluindo China e Rússia (Argentina é o único outro exportador das Américas para os Estados Unidos). A maioria das importações são pistolas, seguidas por escopetas e rifles. 

Além da produção legal de armas de fogo, o ATF informou que as forças de segurança pública do país haviam confiscado 19.344 armas de fogo feitas em casa, sem registros nem forma de monitoramento em 2021 – essa cifra representa um incremento de 10 vezes mais desde 2016.

Esta informação que não inclui detalhes sobre a venda de armas, é apresentado só três dias depois que um jovem de 18 anos assassinou 10 pessoas, a maioria afro-estadunidenses, em um supermercado em Buffalo, Nueva York motivado por uma teoria de conspiração racista promovida por direitistas, incluindo Donald Trump.  Esse tiroteio massivo foi só um dos 203 que foram registrados apenas neste ano, segundo a contagem do Gun Violence Archive.

Os Centros de Controle de Enfermidades (CDC) reportaram na semana passado que mais de 45 mil estadunidenses morreram por armas de fogo em 2020 (as cifras mais recentes), um número sem precedentes. As armas de fogo são agora a causa principal de morte entre adolescentes e crianças no país.

Como se reportou anteriormente, calcula-se que há mais de 300 milhões de armas em mãos privadas nos Estados Unidos, ou 120,5 armas para cada 100 habitantes, segundo o Small Arms Survey.

Outras investigações estão buscando determinar o uso destes produtos, sobretudo de como algumas destas armas legalmente produzidas e vendidas são empregadas para fins criminosos. O rifle AR-15 empregado pelo jovem para cometer seu crime de ódio em Buffalo foi legalmente adquirido.

Dos fabricantes de armas de fogo para uso pessoal, Smith & Wesson e Sturm, Ruger & Company são os maiores com aproximadamente 17% do mercado cada um. Ambas as empresas estão entree as que enfrentam acusação do governo do México por danos cometidos com seus produtos do outro lado da fronteira. 

“Os políticos que obstaculizam a reforma (das leis) sobre armas são diretamente apoiados pela indústria. Estes ganhos são os que os mantêm sem seus postos. Nossas mortes e sofrimentos os mantêm no poder. Não podemos pôr fim à violência de armas de fogo sem esmagar a corrupção política que a nutre”, comentou March for our Lives, o movimento nacional de jovens fundado por estudantes vítimas de violência armada, em resposta ao novo relatório.

David Brooks é correspondente do La Jornada em Nova York.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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