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Campanha dos pobres: Marchas antissistema e por justiça social se multiplicam nos EUA

Presente em 45 dos 50 estados, mobilização já conta com mais de 250 organizações aliadas contra racismo, pobreza, militarismo e mudança climática
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A Campanha dos Pobres, a ressurreição da última campanha do reverendo Martin Luther King de 1968, convocou milhares de participantes de diversos pontos do país à sua “Assembleia e Marcha moral sobre Washington”, no último sábado (18), para promover uma mudança sistêmica para enfrentar a pobreza, o racismo, o militarismo e a emergência climática no país mais rico do mundo. 

Sobre a Avenida Pensilvânia com o Capitólio ao fundo, oradores incluindo líderes religiosos, sindicalistas, ambientalistas, de movimentos sociais e imigrantes, de direitos das mulheres, entre outros, abordaram a ampla gama de lutas para resgatar comunidades pobres de seus desafios por emprego, saúde, educação, água, ar limpo e direitos fundamentais

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O reverendo William Barber, copresidente da Campanha dos Pobres, reiterou que no país aproxidamente 140 milhões – quase a metade da população – vivem na ou à beira da pobreza e disse que está sendo criado um magno movimento dos mais afetados para transformar o país com uma agenda de justiça econômica, social e ambiental. “Somos negros, indígenas, latinos, asiáticos, brancos, velhos e jovens, gays (…) Somos os rechaçados pelo neoliberalismo”. 

Diante do mosaico de raças, idades, religiões, sindicatos e organizações em suas diversas camisetas e sob suas faixas e cartazes – o sindicato de serviços SEIU, Greenpeace, Veteranos [militares] Pela Paz, organizações de imigrantes de vários estados, representantes religiosos protestantes, católicos, judeus e muçulmanos – Barber declarou que “não somos uma insurreição, somos uma ressurreição” ao falar sobre a continuação das lutas anteriores e do legado do reverendo King. 

“Já não nos manteremos mais em silêncio”, repetiu, e essa foi a consigna e canto do dia. 

A reverenda Liz Theoharis, co-presidenta da campanha, apresentou os oradores de lutas locais ao redor do país, do Alabama ao Maine, de Illinois a Florida, Indiana, Kansas e Oklahoma, ante os que viajaram de dezenas de estados mais e ofereceram suas histórias pessoais sobre os efeitos da desigualdade econômica, o acesso à saúde, educação e outra coisas mais para os pobres, o encarceramento massivo (falou um homem que esteve encarcerado durante 23 anos por um delito que não cometeu), a violência sistêmica do racismo e das armas de fogo (falou um filho da vítima mais idosa, 86 anos, do tiroteio massivo em Buffalo no mês passado por um supremacista branco).

Presente em 45 dos 50 estados, mobilização já conta com mais de 250 organizações aliadas contra racismo, pobreza, militarismo e mudança climática

Hora do Povo
“Milhares participam na marcha sobre Washington da Campanha dos Pobres”.




Velhas e novas canções sintonizando as antigas lutas

Um coral e um conjunto gospel ofereceram velhas e novas canções sintonizando as antigas lutas de direitos civis com expressões contemporâneas ao longo da assembleia popular. 

A campanha afirma que “qualquer nação que ignore quase a metade de seus cidadãos está em uma crise moral, econômica e política (…) Desde março de 2020, enquanto centenas de milhares de pessoas faleceram, milhões estão à beira da fome e de ser expulsos de suas casas, e ainda sem seguro de saúde ou salários dignos, a riqueza dos multimilionários cresceu 2 trilhões de dólares”. 

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Em sua convocatória, a Campanha sublinha que esta assembleia tem o objetivo de ser uma “declaração de poder dos pobres e de trabalhadores de baixa renda e nossos aliados morais para declarar que este sistema nos está matando a todos e não podemos, nos recusamos a manter-nos em silêncio”. 

Victor Alvarez, do Comité Popular de Asheville para a Justiça Social, parte de uma coalizão “O Coletivo” de organizações de imigrantes na Carolina do Norte, comentou ao La Jornada que ele e seus companheiros participam nestas lutas pelos direitos humanos nos Estados Unidos e por uma reforma migratória.

O originário do estado do México que migrou há 20 anos diz que a luta na Carolina do Norte implica confrontar o racismo e a onda anti-imigrante, e que “viemos trabalhar neste país, aportamos o nosso, durante a pandemia arriscamos a vida para manter funcionando este país”. Afirmou que não cederão até conseguir uma reforma, e com isso, apoiar outras lutas por justiça social em ambos os lados da fronteira. 

O filósofo e intelectual público Cornel West declarou ante os manifestantes que os afro-estadunidenses que padeceram “400 anos de ódio, respondem uma e outra vez com oferecimentos de amor” em lutas como esta. Insistiu em que a meta é desafiar tanto “os republicanos neofascistas como os democratas neoliberais mornos” para conseguir uma transformação aqui “e estar em solidariedade com lutas na África, Ásia e América Latina (…) Temos que viver estando dentro do Império, mas não formar parte dele”.


“Terceira Reconstrução”

A campanha está promovendo a iniciativa chamada de “Terceira Reconstrução” – em referência à transformação da Primeira Reconstrução depois de Guerra Civil e a Segunda Reconstrução da luta pelos direitos civis do século passado – a qual formula uma série de políticas públicas por pôr fim à pobreza por meio do enfrentamento do racismo sistêmico, a desigualdade, o militarismo e uma crise climática cujas maiores consequências são padecidas pelos mais pobres e vulneráveis dentro e fora deste país. 

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A Campanha dos Pobres, com a presença organizativa em 45 dos 50 estados, foi lançada como a continuação do trabalho de King, em 2018, e agora conta com uma rede de mais de 250 organizações aliadas, as quais apoiaram e/ou participaram nesta assembleia, incluindo a central operária AFL-CIO, o movimento ambiental Sunrise, o Conselho Nacional de Igrejas, o Círculo Islâmico da América do Norte, a Planned Parenthood, vários sindicatos nacionais – incluindo SEIU, AFT (professores) UE, UFCW e AFSCME – Friends Committee on National Legislation, Greenpeace, entre outros. [www.poorpeoplescampaign.org].

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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