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Escravidão, guerras, criminalidade: Políticos dos EUA tentam falsificar histórico do país

Quando Dick Cheney se apresenta como um grande defensor da democracia estadunidense e exemplo de honestidade, as coisas estão bastante mal
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Não deixa de assombrar a constante incongruência na vida pública e política estadunidense.  Aqui só uns poucos exemplos dos últimos dias: 

A cúpula política insiste que os Estados Unidos são os veladores dos direitos humanos, da liberdade e da paz. Nesta semana, repetiram acusações contra a Rússia e a China, entre outros, de ameaçarem a soberania dos países e até de crimes de guerra.

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Não mencionaram em nenhuma de suas declarações que este fim de semana marca o aniversário de um crime de guerra sem precedentes na história humana: a única vez em que um país usou armas de destruição em massa, causando centenas de milhares das mortes civis, quando os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre o Japão, em 6 e 9 de agosto de 1945.

Falando em armas de destruição em massa, quando Dick Cheney se apresenta como um grande defensor da democracia estadunidense e exemplo da honestidade, as coisas estão, pois, bastante mal.

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Em um anúncio da campanha de reeleição de sua filha – a deputada republicana, mas agora anti trumpista, Liz Cheney – o ex-vice-presidente de George W. Bush qualificou Trump como a “pior ameaça” à república em toda a sua história e acusa que o ex-presidente “tentou roubar para si a última eleição, usando mentiras e violência… Um homem real não mentiria aos seus simpatizantes”.

Vale recordar que seu governo foi batizado como “a Junta Cheney-Bush”, por Gore Vidal, em referência ao fato de Cheney, mesmo perdendo o voto popular, ter chegado ao poder por decisão controversa da Suprema Corte, em 2000. 

Além disso, alguns ainda recordam que Cheney, entre outros, inventaram a mentira de “armas de destruição em massa” inexistentes, com as quais se justificou a invasão estadunidense ao Iraque

Quando Dick Cheney se apresenta como um grande defensor da democracia estadunidense e exemplo de honestidade, as coisas estão bastante mal

Captura de Tela | Youtube
Ex-vice-presidente de George W. Bush qualifica Trump como a “pior ameaça” à república em toda a sua história




Modificar a história

Falando de modificar a história, professores de civismo na Flórida estão obrigados a submeter-se a seminários de doutrinação sobre “história patriótica”, por ordens do governador Ron Desantis, em que, entre outras coisas, aprendem que os pais fundadores dos EUA, George Washington e Thomas Jefferson, se opunham à escravidão, quando na realidade ambos eram donos de escravos.

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Falando de modificar realidades, segundo o prefeito de Nova York, o ex-capitão de polícia Eric Adams, o problema principal enfrentado pela cidade é uma onda de crimes violentos – um tema favorito também de Trump no nível nacional.

Os meios locais multiplicaram sua cobertura de delitos violentos – em Nova York, quase 800 notas mensais em média sobre crime nos meios de comunicação desde que chegou Adams, comparado com uma média de 132 notas mensais durante o governo anterior, nutrindo a impressão de que a principal cidade dos Estados Unidos está à beira de uma crise de violência, reportou a Bloomberg. 


A realidade é outra

Mas a realidade é outra: o crime violento permanece em seus níveis históricos mais baixos em décadas; a taxa de homicídios, entre outros delitos graves, continua em um nível muito inferior comparado com os anos 1980 e princípios dos 1990, quando a taxa de homicídios era 5 vezes maior que a atual. Para alguns políticos e mídias, o crime compensa. 

E enquanto líderes políticos estadunidenses dão a volta ao mundo oferecendo lições sobre direitos humanos, justiça e liberdade, por exemplo Biden e Blinken – denunciando como “inaceitável” a condenação à prisão da estrela do basquetebol Brittney Griner por um juiz russo –, nenhum comentou sobre porque seu país é o que mais encarcera no mundo, nem sobre casos como o do ex-pantera negra Albert Woodfox, que morreu na semana passada seis anos após sair da prisão nos Estados Unidos, onde passou a maior parte de seus 43 anos encarcerado em confinamento solitário em uma cela de dois metros por três (o prisioneiro que mais tempo durou em isolamento nos Estados Unidos) por um homicídio que não cometeu. 

A ONU determinou que o isolamento solitário prolongado é tortura psicológica e estabeleceu regras internacionais limitando a prática a um máximo de 15 dias; Woodfox passou 15 mil dias nessa condição.  

Talvez seja muito pedir que os que pretendem ser guias de todos os demais façam um esforço um tantinho maior para a congruência. 

David Brooks, correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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