Existe uma notável tendência a considerar a concentração da riqueza como um fato admirável. A partir dessa postura se costuma cair no erro de passar por alto os passos que levaram a tal acumulação de poder e não se repara nos atos ilegítimos – embora muitas vezes legais – que conduziram a tais extremos.
Isto acontece com os indivíduos, mas também com os países governados por líderes capazes de cometer grandes injustiças com seu povo, e que, além disso, arrasam com os direitos e a independência de outras nações. O poder ilimitado, aquele que aparenta ser consequência do desenvolvimento, costuma ser produto da voracidade e, sem dúvida alguma, de uma absoluta falta de escrúpulos.
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Nestes dias, os meios internacionais cravaram seus dentes com enorme prazer no passeio de Donald Trump pelos corredores da ilegalidade. O evidente abuso de poder cometido pelo ex-mandatário estadunidense ao acumular documentos oficiais em seu clube privado foi um apetitoso bolo para o circo midiático.
No entanto, esse ato de abuso burocrático representa a evidência de um péssimo manejo dos controles supostamente estritos sobre o manejo de documentos classificados e do arquivo oficial da maior potência mundial. A corrupção dos processos, portanto, é só uma amostra das debilidades morais de um país com influência global.
A prosperidade dos impérios sempre descansou sobre o abuso e a exploraçã
Este, no entanto, não é um fato isolado e corresponde à justiça desse país lidar com a interminável sequência de passos protocolares para processar um ex-presidente. Antes, outros mandatários – baseados em evidências falsas e mentiras evidentes – cometeram abusos de consequências catastróficas para povos de longínquas latitudes, com o único propósito de facilitar e assegurar a exploração de seus recursos e a captura de seus governos.
O colapso moral derivado dessas políticas tem sido, ao longo da História, o marco indelével do poder econômico e geopolítico e tem levado as nações envolvidas, de forma paralela, à miséria e à abundância.
Quando a liderança de uma potência mundial recai em seres tão desprezíveis como aqueles cujas ações vulneram a paz do planeta e se servem de seu poder para abusar de outros povos, é quando vale perguntar por que as demais nações se calam e aceitam.
É válido suspeitar que por trás de operações destinadas a exterminar povos inteiros, como sucede com os ataques de Israel à Palestina ou os conflitos no Iêmen, Afeganistão, Iraque e outros países – onde as vítimas civis se contam por dezenas de milhares – existe uma espécie de pacto ao qual pertencem as nações mais poderosas, mas também organismos criados para salvaguardar a paz, e guardam silêncio.
Pepe Escobar | Nunca subestime um império ferido, profundamente humilhado e em declínio
A prosperidade dos impérios sempre descansou sobre o abuso e a exploração. O preço desse bem-estar para uns poucos foi pago por povos de culturas milenares, cuja debilidade muitas vezes lhes significou o extermínio.
O poder acumulado tem sido resultado do latrocínio de riquezas alheias e a captura de governos débeis e corruptos, instalados graças à manipulação e ao intervencionismo. Os direitos humanos e a democracia – valores utópicos – constituem o discurso propício e uma arma de sedução política que perdeu todos os seus significados, sobretudo quando procedem daqueles que violam seus preceitos.
O desenvolvimento econômico nunca deve descansar sobre a miséria de outros povos.
Carolina Vasquez Araya, colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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