Os serviços secretos de pelo menos três países europeus: Bélgica, Grécia e Itália, levam vários meses desentranhando a rede de corrupção e subornos no Parlamento Europeu, que poderia ter outras ramificações e salpicar a “60 mais eurodeputados”, informou nesta quarta-feira (14) a cadeia de televisão grega Mega TV, enquanto que um dos primeiros detidos pelo escândalo confessou sua participação no esquema de subornos.
Francesco Giorgi, companheiro da ex-vice-presidenta do Euro parlamento, a grega Eva Kaili, admitiu ser parte da trama apontou como cérebro da operação o ex-eurodeputado, o também italiano Pier Antonio Panzeri, de quem Giorgio foi assistente.
A rede do TV explicou que os serviços de inteligência belgas suspeitaram que havia uma rede de corrupção política dentro das autoridades da União Europeia (EU) devido, primeiro, ao extravagante nível de vida de Panzeri e sua família, os quais gastaram 100 mil euros em suas férias de verão do ano passado. Também se descobriu que o ex-eurodeputado mantinha relações clandestinas com emissários de Qatar e Marrocos.
Parlamento Europeu teria mascarado crimes a direitos humanos em troca de suborno do Catar
No caso de Qatar, a rede de subornos e corrupção conseguiu que fossem retiradas as denúncias nas sessões do Euro parlamento pelos mortos durante a construção dos estádios de futebol para o mundial que está em curso, além de suavizar a denúncia pública na que o organismo europeu de eleição popular advogou pelo respeito dos direitos humanos.
No caso do Marrocos, o país tentou influir em vários aspectos cruciais para seus interesses: a situação do Saara ocidental e sua disputa com o povo autóctone. Os acordos pesqueiros que tem com a UE e que são renovados de forma periódica, a questão migratória e os fundos de ajuda ao desenvolvimento.
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Roberta Metsola, presidenta do Parlamento Europeu
Estariam envolvidos nos subornos “mais de 60 deputados” procedentes em sua maioria dos partidos social-democratas e conservadores, embora também há alguns das forças da esquerda, informou a Mega TV.
Mas os meandros da trama continuam em fase de instrução, apesar dos serviços de inteligência de alguns dos países da UE terem recolhido numerosas provas e testemunhos sobre as operações fraudulentas. Essas provas forçaram Giorgi a reconhecer sua participação nos atos de corrupção de eurodeputados, publicou o diário belga Le Soir, que foi por sua vez o primeiro a dar a conhecer a notícias do que já se conhece como o Qatargate.
Giorgi, de 35 anos e pai de uma menina de dois anos com Kaili, de 44, se confessou “culpado” e assegurou que sua companheira é “inocente” e “teria que estar cuidando de nossa filha”.
Kaili, a ex-vice-presidenta grega que está acusando de criar os vínculos com Qatar que fomentaram os subornos, afirmou na terça-feira (13) que o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell e a presidenta do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, sabiam de seus tratos com o reino árabe e deram a ordem de que ela visitasse esse país, que se crê que subornou a euro deputados para que lhe ajudassem a melhorar sua imagem ante o mundo.
Giorgi apontou como o cérebro da rede a Panzeri, que foi euro parlamentar de 2005 a 2019, e que depois desse período seguia muito vinculado ao Parlamento comunitário através de uma fundação que ele presidia, que se chama Luta contra a Impunidade.
Confessou também que ele mesmo se encarregou durante anos de gerir o dinheiro em efetivo, produto dos subornos que cobrava a rede dirigida por Panzeri e do qual ele foi seu assistente durante sua etapa de deputado europeu. De fato, o primeiro a ser vigiado pelos serviços secretos foi Panzeri, ao que confiscaram 700 mil euros em dinheiro que tinha guardados em seu domicílio, depois de uma busca em 2021.
Outros legisladores europeus sob suspeita são Marc Tabardella, euro deputados socialista belga, Andrea Cozzolino, presidente da delegação para a Relações com os Países do Magreb e a União do Magreb Árabe, incluídas as Comissões Parlamentares Mistas UE-Marrocos, UE-Túnis e UE-Argélia. Além de Abderrahim Atmoun, embaixador do Marrocos na Polônia.
O eurodeputado espanhol Miguel Urbán resumia assim em uma publicação em suas redes sociais: “nada disto é novo para aqueles que andamos pelo Parlamento Europeu. É um comentário generalizado que, durante as sessões plenárias, a embaixada marroquina tem praticamente um escritório permanente no bar de eurodeputados. A questão é que consequências tem isto, os socialistas bloquearam sistematicamente qualquer debate ou resolução no pleno de Estrasburgo que critique abertamente ao Marrocos ou denuncie a situação no Saara ocupado”.
Armando G. Tejeda | La Jornada, Madri.
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