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ToggleA justiça estadunidense se auto congratulou quando um júri declarou culpado a quem era a cara pública e o principal colaborador de Washington na chamada guerra contra as drogas no México; outro “triunfo” a mais das autoridades estadunidenses contra narcotraficantes mexicanos, colombianos e outros que agora estão atrás das grades e/ou cooperando com o Departamento de Justiça.
“A condenação de García Luna claramente demonstra que a DEA não se deterá em nada para perseguir oficiais políticos corruptos que se envolvem no narcotráfico e na violência… e organizações de tráfico de drogas que ameaçam a segurança e a saúde do povo estadunidense”, declarou a administradora da agência antinarcóticos, a DEA, Anne Milgram quando um júri emitiu seu veredito na passada terça-feira no tribunal federal no Brooklyn.
García Luna é condenado: um novo impulso para a guerra às drogas operada pelos EUA
A DEA, CIA, FBI, o Departamento de Estado e o escritório do czar antinarcóticos da Casa Branca, entre outros, empregaram esse mesmo argumento um tanto infantil de que os estadunidenses inocentes são envenenados por narcotraficantes e às vezes governos estrangeiros que inundam as ruas deste país com suas drogas – ou seja, dando a entender que não existiria o problema de drogas ilícitas sem estes traficantes transnacionais.
Mas, em efeito, se pode argumentar que, sem a demanda estadunidense, não haveria negócio de narcotráfico na América Latina. Um jornaleiro mexicano na Florida há alguns anos ofereceu uma explicação simples e lógica ao La Jornada e, sem saber, citando as regras do mercado livre: “se querem tomate, enviamos tomates, igual se há demanda por heroína, pois, lhes enviamos isso; tudo o que desejam nos Estados Unidos, nós os brindamos incluindo nossa mão de obra. Deveriam nos agradecer”.
La Jornada
“Guerra contra as drogas” convém mais que nada a dois setores: narcotraficantes e governo dos EUA
Somente estrangeiros
Chama a atenção que durante mais de um século e sobretudo desde que se anunciou a “guerra contra as drogas”, por Nixon em 1971, as políticas antinarcóticos quase sempre identificaram estrangeiros – tanto imigrantes como outros países – como o “inimigo”, por exemplo imigrantes chineses e mexicanos ao longo de décadas, passando por colombianos e centro-americanos como também governos considerados como adversários políticos como Cuba, Venezuela, Bolívia ou Panamá (vale recordar que a invasão e derrocada de Noriega foi com um pretexto do combate contra o narco) entre outros.
Que García Luna e El Chapo entre outros estejam atrás das grades junto com tantos mais de seus cúmplices, compadres e sócios ao longo dos últimos anos não só teve um efeito nulo sobre a produção, tráfico e uso de drogas, mas hoje em dia há mais drogas disponíveis e mais baratas do que nunca nas ruas dos Estados Unidos e as mortes por overdose de drogas se elevaram a níveis sem precedentes (mais de 100 mil anuais em média) durante esse tempo. Em termos puramente empíricos a “guerra contra as drogas” é um rotundo fracasso.
De fato, pode-se argumentar que a “guerra contra as drogas” convém mais que nada a dois setores: aos narcotraficantes, porque o comércio ilícito está no centro de seu negócio e seus enormes ganhos; e aos governos, sobretudo o estadunidense, já que essa “guerra” justifica orçamentos massivos, ampliação das forças de segurança e o controle e repressão de seus povos.
Essa “guerra contra as drogas”, elaborada em Washington e implementada por agências estadunidenses junto com suas contrapartes em outras partes do mundo, teve consequências devastadoras tanto dentro como fora dos Estados Unidos (vale recordar que o comércio do ópio quase anulado no Afeganistão pelo Taliban regressou a níveis recorde com a invasão estadunidense). Até agora, os encarregados dessa política não tiveram que prestar contas pelo fracasso, nem pelos massivos custos humanos, econômicos e sociais.
Os responsáveis desse fracasso estavam ausentes no banco dos acusados no Brooklyn esta semana.
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David Brooks | Correspondente do La Jornada em Nova York
Tradução: Beatriz Cannabrava
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