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ToggleHá um cartel de uma família que é em grande medida responsável pela epidemia de opioides que tem matado milhares de estadunidenses e ganha milhões em seu negócio. Mas a DEA não enviou agentes, não há políticos pedindo uma intervenção armada contra suas operações, não foram designados como “terroristas”, nem há um preço por suas cabeças.
E nenhum enfrenta acusações criminais nem será julgado. De fato, acabam de chegar a um acordo com as autoridades pelo qual gozarão de imunidade individual contra toda demanda civil que os busque responsabilizar pessoalmente pelos danos ao povo.
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O negócio deste cartel é legal, seus “pushers” e traficantes têm títulos de escolas de medicina e vestem aventais brancos e outros uniformes médicos e seu produto foi aprovado pelas autoridades encarregadas pela regulação de drogas.
Mais ainda, a família doava milhões a instituições que aconselham o governo sobre assuntos farmacêuticos e de saúde como a Academia Nacional de Ciências.
E o cartel também foi muito generoso com outros, doando milhões a universidades e instituições culturais tão prestigiosas como o Museu Metropolitano (a sala onde está o Templo de Dendur de Egipto tinha o nome da família), o Guggenheim, a Galeria Nacional em Londres, uma biblioteca em Oxford, entre outros, para polir sua imagem pública – embora recentemente quase todos apagaram esse nome agora associado com estes mercadores da morte.
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Há narcos que falam inglês como primeiro idioma, se disfarçam de empresários legítimos e elegantes e são benfeitores da alta cultura
Capos estadunidenses
A família de “capos” deste cartel estadunidense se chama Sackler, e na semana passada um tribunal federal de apelações lhe outorgou imunidade pessoal ante demandas civis em troca de que deixem sua empresa, Purdue Pharma, e seu produto de opioide famoso OxyContin (parecido ao fentanil, ambas são uma versão química da heroína).
Com isso, se livrarão de bilhões em fundos para estados e indivíduos afetados pela epidemia dos opioides nos Estados Unidos que apresentaram milhares de demandas contra a empresa nas quais argumentavam que o OxyContin ajudou a detonar uma crise que causou mais de meio milhão de mortes por sobredoses nas últimas duas décadas.
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A empresa havia se declarado culpada pela forma em que comercializou a droga e está buscando um acordo final de bancarrota, para voltar-se a uma nova entidade chamada Knoa, onde os Sackler já não seriam donos. Se a decisão do tribunal se sustentar, os Sackler também terão que contribuir com até 6 bilhões de dólares ao longo de vários anos – metade da sua fortuna pessoal. Mas podem ficar com a outra metade de sua fortuna.
Críticos sublinham que a família multimilionária que lucrou com o negócio permanecerá pessoalmente impune, e que com esta decisão, uma vez mais não são obrigados a aceitar responsabilidade pessoal. “Os Sackler fizeram o que sempre fizeram. Chegaram a um acordo, pagaram um suborno, e estão saindo com a sua”, comentou o jornalista Christopher Glazek, um dos primeiros em reportar sobre o negócio sujo da família, em entrevista ao Democracy Now.
Houve múltiplas tentativas de proceder penalmente contra os Sackler desde que sua droga foi ligada à emergente crise dos opioides em 2001. Mas nenhuma destas chegou à formulação de acusações criminais – em parte porque a família sempre soube como manobrar por dentro o sistema judicial estadunidense.
Segundo o jornalista Patrick Radden Keefe, do The New Yorker, autor de um livro sobre os Sackler chamado “Empire of Pain”, o que revelará este caso em “ausência de prestação de contas” é “uma verdade completa sobre as origens da crise de opioides… a infâmia da família… e sobre as maneiras em que o dinheiro e a influência podem proteger os muito ricos das consequências de suas decisões temerárias”.
A conclusão é que há narcos que falam inglês como primeiro idioma, se disfarçam de empresários legítimos e elegantes e são benfeitores da alta cultura, mas continuam sendo um cartel que lucra com o sofrimento de centenas de milhares por um produto que, ironicamente, foi comercializado para reduzir a dor.
David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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