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Golpe duplo: como queda de presidente do Gabão afeta economia e empresas da França

Acontecimentos no país são um lembrete de que a política intervencionista francesa para a África está em ruínas
Redação RT
RT en Español
Moscou

Tradução:

A tomada do poder pelos militares no Gabão é um dos últimos acontecimentos que afeta uma das antigas colônias africanas da França, em meio ao crescente sentimento antifrancês que se registra em vários destes países, escreve o The Wall Street Journal

De fato, nas primeiras horas do último dia 30, um grupo de militares do Gabão dissolveu as instituições governamentais e cancelou as eleições gerais depois de saber-se que o presidente Ali Bongo Ondimba fora reeleito para um terceiro mandato com 64,27 % dos votos. 

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Pouco depois, os uniformizados comunicaram que o mandatário derrubado se encontra em prisão domiciliar e que seu filho Noureddin Bongo Valentin foi detido. Enquanto isso, o general Brice Oligui Nguema, que desde abril de 2019 era o chefe da Guarda Republicana do Gabão, era nomeado chefe de Estado para o período de transição.

Acontecimentos no país são um lembrete de que a política intervencionista francesa para a África está em ruínas

Rafael Yaghobzadeh
O presidente francês Emmanuel Macron e o presidente deposto do Gabão, Ali Bongo Ondimba (Paris, 22 de junho de 2023)

Estreitas relações com a França

Com uma população de cerca de 2,4 milhões de habitantes, o Gabão conta com algumas das matas e fauna mais bem preservados da África. Além disso, é um dos principais produtores de petróleo do continente e membro da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O Estado também exporta madeira, manganês e urânio.

Apesar de seus recursos naturais, que tornaram o Gabão uma das nações mais ricas da África em termos de produto interno bruto per capita, muitos de seus habitantes ainda vivem na pobreza. Segundo dados do Banco Mundial, citados por The Economist, um terço do país é pobre.

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A família do presidente derrubado do Gabão manteve uma estreita relação com a antiga potência colonial do país, a França, que conserva cerca de 350 soldados na nação africana, principalmente para treinar soldados gaboneses, afirma o WSJ. Em março, o presidente francês, Emmanuel Macron, visitou o Gabão, no contexto de sua viagem pela África.

As empresas francesas têm amplos interesses econômicos no Gabão, informa a AFP. Etienne Giros, presidente do Conselho Francês de Investidores na África, declarou à agência que cerca de 80 empresas francesas estão registradas no Gabão, mas as pequenas empresas, os comerciantes, os restaurantes, os advogados, as seguradoras e as sociedades de serviços financeiros somam dezenas mais ao total.

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Por exemplo, em meados de agosto, a petroleira francesa Maurel & Prom (M&P) anunciou a compra de 100% da companhia petroleira Assala Energy Holdings, incluídas todas as suas filiais no Gabão. Offshore Technology escreve que a compra também reforçou a relação da M&P com o Govierno gabonês, que tinha previsto aumentar sua participação na filial nacional da Assala de 25 a 27,5% como parte da operação.

Olivier de Langavant, diretor geral da M&P, afirmou que a transação “oferece visibilidade a longo prazo e um importante potencial de desenvolvimento em um país estável”. 

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Enquanto isso, dados do Ministério da Fazenda da França indicam que as empresas do país europeu venderam no Gabão produtos no valor de 536 milhões de euros (585 milhões de dólares), principalmente produtos agrícolas e alimentícios, equipamentos, produtos elétricos e eletrônicos, equipamentos de informática, bens intermediários e produtos farmacêuticos.

Crescente sentimento antifrancês

Os acontecimentos no Gabão são também um lembrete de que a política da França para a África está em ruínas, afirma The Economist. Segundo dados cotejados pelos politólogos Jonathan Powell e Clayton Thyne, desde 1990, 24 dos 40 golpes de Estado que tiveram êxito na África ocorreram em países francófonos, mas desde 2000, a proporção é de 16 em 24.

“Provavelmente não é uma coincidência”, escreve a revista, argumentando que Paris “manteve um enfoque mais intervencionista em suas antigas colônias” do que o Reino Unido, e isto “contribui para a sensação de que o Governo francês apoia elites africanas dóceis e venais a expensas da população que vive nestes países”.

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Mark Pursey, cuja empresa de relações públicas BTP Advisers assessorou Bongo em sua campanha de reeleição, afirmou, citado pelo WSJ, que apesar de as pesquisas de sua empresa terem indicado uma vitória de Bongo, surpreendeu-o a ampla vantagem mostrada pelo órgão eleitoral. Disse ainda que as pesquisas detectaram um crescente sentimento antifrancês no Gabão, assim como preocupações com a saúde do presidente derrubado, que sofreu um derrame cerebral há alguns anos, e cansaço pelo longo mandato de sua família.

Um golpe para a França?

A primeira ministra da França, Élisabeth Borne, garantiu que presta “a máxima atenção” aos acontecimentos no Gabão. Por sua vez, o porta-voz governamental Olivier Véran destacou que seu país “condena o golpe militar em curso”.  

Enquanto isso, a mineradora francesa Eramet, proprietária da unidade de mineração de manganês Comilog no Gabão, comunicou que interrompera todas as suas operações na nação, informa a Reuters, citando um porta-voz da empresa. Posteriormente, a empresa informou que retomará gradualmente suas operações no país africano.

Depois de serem conhecidos os acontecimentos no país, as ações das empresas Maurel & Prom, Eramet y TotalEnergies que operam no Gabão caíram entre 15 e 20%, informa a mídia francesa.

Redação Atualidades.Rt
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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