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ToggleO Cáucaso do sul tornou-se nesta terça-feira (19) o novo cenário de guerra no espaço pós soviético quando o deteriorar da situação do enclave de Nagorno-Karabakh levou a Azerbaijão a iniciar “ações antiterroristas de carácter local”, eufemismo que usa Baku para bombardeios massivos e operações militares na disputada região de população majoritariamente armênia.
“Com o propósito de assegurar que se cumpra o estipulado na declaração trilateral (que, com mediação da Rússia, selou a derrota da Armênia após 44 dias de guerra com o Azerbaijão há três anos); impedir as amplas provocações na região econômica de Karabaj; desarmar e expulsar de nosso territórios as formações militares da Armênia; neutralizar sua infraestrutura bélica; garantir a segurança da população civil, que regressou aos territórios liberados da ocupação, dos funcionários civis encarregados das obras de reconstrução e de nossos militares, assim como de restaurar a ordem constitucional do Azerbaijão, na região que começaram ações antiterroristas de caráter local”, informou o ministério azeri de Defesa em um comunicado emitido a primeira hora desta terça-feira.
Os bombardeios e combates ao longo do dia deixaram pelo menos 25 mortos e 138 feridos, de acordo com Arman Tatoyan, antigo comissário para os direitos humanos na Armênia. O ex-primeiro-ministro da república não reconhecida, Ruben Vardanian, pediu ao governo da Armênia reconhecer Artsaj (nome armênio de Nagorno-Karabakh) e somar-se à defesa de seus cidadãos. “Todos temos que defender a pátria!” reclamou através do Telegram.
A chancelaria russa, mediante sua porta-voz, María Zakharova, exortou aos armênios e azeris a “deter o derramamento de sangue e voltar à mesa de negociações”, ao mesmo tempo que disse que o Azerbaijão não avisou de nenhuma “ação antiterrorista” ao contingente de pacificação que a Rússia manteve na zona. O Ministério russo da Defesa, por seu lado, respondeu às críticas armênias de por que não intervieram os militares russos, assinalando que “ao longo do dia estão registrando as numerosas violações do regime de cessar-fogo” e fazem o monitoramento da situação durante 24 horas”.
A disputa por Nagorno-Karabakh já custou 35 mil mortos, sem contar os milhares de desaparecidos e deslocados, resultado de duas guerras, a primeira de 1988 a 1994 e a segunda, que durou 44 dias e concluiu em 10 de novembro de 2020 com a firma do acordo trilateral entre Armênia, Azerbaijão e Rússia.
Este acordo permitiu a Baku estabelecer seu controle sobre muitos distritos de Karabaj, assim como a antiga capital Susha, o que a oposição armênia interpretou como derrota política do presidente Nikol Pashinyan que, no entanto, sobreviveu às exigências de que se demitisse.
De novo, as ruas do centro da capital armênia voltaram a se encher de uma multidão indignada, que tentou – segundo a transmissão via satélite do canal de televisão armênio 24News – tomar por assalto a sede do governo, enfrentando-se à polícia que freio a investida com granadas lacrimogêneas.
Desde dezembro do ano passado começou a crescer a tensão a partir de que um grupos de ativistas azeris cortou o acesso ao desfiladeiro de Lachín, que é a única ponte virtual para aceder por terra a Nagorno-Karabakh a partir da Armênia, o que gerou frequentes enfrentamentos e que Yereván e Baku se acusaram de incumprir o pactado.
Captura de tela: Arman Tatoyan – Reprodução/Twitter
Um dia e meio de combates deixou um saldo de mais de 200 mortos e por volta de 400 feridos armênios
Exigências
As autoridades armênias de Nagorno-Karabakh se renderam na quarta-feira e, com a mediação do contingente de pacificação implantado pela Rússia, aceitaram respeitar o cessar fogo sob as condições impostas pelo Azerbaijão, que na terça-feira começou com bombardeios massivos e uma operação militar no enclave separatista.
Um dia e meio de combates deixou como saldo mais de 200 mortos e por volta de 400 feridos armênios – Baku não deu conhecer o número de suas baixas -, assim como cerca de 7 mil evacuados dos povoados próximos à zona dos enfrentamentos, conforme os dados proporcionados por Gegam Stepanian, defensor do povo karabaj.
Para sentar-se a negociar as condições de sua rendição, o Azerbaijão exigiu que as autoridades de Nagorno-Karabakh proclamem sua dissolução como república independente, assim como que todas as formações militares que tinham aí deponham as armas – “forças de defesa territorial para as armênios; “grupos terroristas” para os azeri – e que todo o armamento (veículos blindados e canhões de artilharia em primeiro lugar) seja tirado do território do Karabaj, como o chamam em Baku “Artsaj”, segundo a denominação que lhe dão em Yereván.
As negociações – mero trâmite para certificar a capitulação das autoridades de Nagorno-Karabakh, segundo os observadores– começarão nesta quinta-feira na pequena cidade de Evlaj, a 100 quilômetros da capital Stepanakert (“Jankenki”, para os azeris).
O governo do primeiro-ministro Nikol Pashinyan optou por se manter à margem e não se envolver no que seria uma terceira guerra. Precisou que nada teve que ver com o acordo de alto ao fogo que o Azerbaijão impôs às autoridades de Nagorno-Karabakh.
“Agora todos reconhecem que o Karabaj é território do Azerbaijão. Nunca se vai aceitar que se tratou de impor outro status. Apoiamos as medidas do Azerbaijão para proteger sua integridade territorial”, afirmou o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, o principal apoiador do governo de Ilham Aliyev.
A Turquia, cabe recordar, é o principal promotor de que o Azerbaijão construa uma via férrea que cruzaria parte do território de Nagorno-Karabakh para lhe dar saída ao mar Cáspio.
Entretanto, as manifestações de protesto continuaram nesta quarta-feira em distintos sítios de Yereván em meio de uma mescla irreconciliável de inconformados. Há quem peça a demissão de Pashinyan “por trair os armênios do enclave separatista; os que querem que seu governo caia por “distanciar-se da Rússia”; e os que expressam seu mal-estar frente à embaixada russa por “não intervir em favor da Armênia”.
A respeito disso, o Kremlin rechaçou as críticas ao dizer seu porta-voz, Dmitri Peskov, que “são acusações infundadas”. Recordou que “há uns meses o premier Pashinyan aceitou que esse enclave povoado por armênios que se proclamou independente em 1991 é parte do Azerbaijão e, portanto, que se trata de ações da república do Azerbaijão em seu próprio território”.
Putin confirmou sua viagem à China
O titular do Kremlin, Vladimir Putin, ao receber o chanceler chinês, Wang Yi, o qual é o máximo responsável da política exterior e da segurança da China, aceitou o convite de seu homólogo Xi Jinping para visitar o vizinho gigante asiático em outubro próximo.
“É um gosto aceitar o convite do presidente Xi para visitar a China no marco do evento que promove seu projeto de Um cinturão, uma rota, que já se converteu em toda uma marca internacional e integra nossas ideias de criar um amplo espaço euroasiático”, disse Putin ao começar sua conversa com Wang.
Para o mandatário russo, Moscou e Pequim compartilham “as mesmas posições a respeito da criação de um mundo multipolar e não um baseado em regras próprias que ninguém conhece e que se modificam diariamente segundo convenha ao que inventou essa ridícula fórmula”.
Por sua parte, Wang ressaltou que “a Rússia e a China, como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, advogam pela paz e o desenvolvimento. Recai uma grande responsabilidade sobre nossos ombros. Vivemos uma situação internacional mutante e turbulenta, que sofre movimentos tectônicos, na qual, não obstante, se abre passo o processo de conformação de um mundo multipolar”.
Putin também se referiu às hostilidades no Cáucaso do Sul e se mostrou otimista de poder “lograr uma “desescalada” para devolver este conflito à sua margem pacífica” e, depois de dizer que Moscou está em “estreito contato” com todas as partes implicadas, ofereceu compartir com Pequim a forma como evolui a solução desta controvérsia.
O emissário do líder chinês chegou à Rússia na segunda-feira anterior, quando se reuniu com o chanceler russo. Serguei Lavrov, para repassar os principais capítulos da relação bilateral.
Pero Wang, em realidade, veio a Moscou convidado por seu colega, Nikolai Patrushev, secretário do conselho de segurança da Rússia, com quem manteve a enésima ronde regular de “consultas políticas” sobre uma extensa agenda. Não é habitual que se dê a conhecer o conteúdo do trato neste tipo de reuniões à porta fechada.
Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
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