Ao se cumprir nesta terça-feira (24) um ano e oito meses de guerra, sem que as partes beligerantes mostrem vontade para negociar, à luz do que é visto nas semanas recentes nos pontos mais álgidos da linha de frente, na opinião daqueles que seguem de perto os combates, a Rússia e a Ucrânia entraram em uma espécie de beco sem saída e tudo aponta que não cabe esperar mudanças drásticas no equilíbrio de forças até a primavera (hemisfério norte) do ano seguinte, pelo menos.
As opiniões dos especialistas que se identificam com Moscou ou com Kiev – com as devidas distâncias, tomando em conta que em cada lado das trincheiras virtuais, salvo exceções, a objetividade cede ante as preferências de cada um e se exageram ou minimizam os fatos segundo convenha – indicam que os exércitos russo e ucraniano enfrentam um mesmo problema.
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Ambos – apontam – quiseram fechar antes que comece o inverno com um suado triunfo, e nenhum até agora pode fazê-lo além de avançar vários centos de metros por semana, e retroceder outros tantos… com frequência.
Isso acontece, consideram, devido a que tem mais vantagens o que defende (campos minados, trincheiras e valetas que dificultem o movimento dos tanques e veículos blindados, dentes de dragão e outros obstáculos de cimento, etc.). e o que ataca fica mais exposto aos bombardeios da artilharia inimiga, sofrendo maior número de baixas em termos de soldados e armamento.
Quantas baixas? Impossível sabê-lo. Mas sem dúvida muito menos do que reportam como perdas do inimigo – e, portanto, êxitos próprios – em seus comunicados oficiais, tanto do comando militar russo como do ucraniano. O confirmam as óbvias contradições nos dados que os dois proporcionam e, além disso, nenhum reconhece suas baixas.
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Governo da Ucrânia informou que 25 instalações-chave de seu setor energético estão preparadas para repelir mísseis e drones
Só para ter uma ideia mais precisa da magnitude dos bombardeios ao longo dos 1.200 quilômetro do front, convém recordar que, segundo estima o analista Nikolai Mitrokhin, depois de 24 de fevereiro de 2022, nos primeiros meses de hostilidades, a Rússia chegou a disparar entre 45 mil e 80 mil projéteis diários.
Trata-se somente das explosões que causam os canhões, obuses, tanques, drones com bombas, sem contar os mísseis lançados desde terra, mar e ar, nem os de defesa antiaérea. Agora, quando de um lado acabam as reservas e do outro a ajuda estrangeira ainda permite ter mais, Rússia e Ucrânia disparam todos os dias entre 15 mil e 20 mil projéteis cada um, muito – diz o especialista – para um ano de guerra de “baixa intensidade”.
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De acordo com os reportes oficiais de seu ministério de Defesa, o exército russo tenta, desde o passado 10 de outubro, rodear aos ucranianos que mantêm a zona fortificada em torno à cidade de Avdiivka, região de Donetsk, como em Marinka e Kutianski, outros dois locais que registram os combates mais intensos na parte leste e nordeste do front. Essa ofensiva russa, com os reforços ucranianos que chegaram de outras partes, não está dando resultado.
De seu lado, o comando ucraniano assegura que suas tropas insistem em alargar a brecha que conseguiram em Zaporiyia e atacam a região de Verboboe com o propósito de despejar o caminho até o estratégico nó de logística e comunicações que é Tokmak, e levam vários dias, com unidades especiais de desembarque, ocupando várias localidades na margem esquerda do Dniéper.
Este último – afirma o especialista Yuri Fiodorov – mais para obrigar a deslocar tropas russas de outros setores do front que para tomar posições junto à costa do marco de Azov, o que torna muito difícil passar do outro lado do rio tanques, canhões e outras armas pesadas, que ficaram sem proteção frente os bombardeios de aviação e da artilharia russos.
O governo da Ucrânia informou que 25 instalações-chave de seu setor energético estão preparadas para repelir mísseis e drones frente ao que o mando militar prevê como intensificação dos ataques russos contra suas infraestruturas durante o inverno próximo, como aconteceu no ano anterior.
Quanto ao tema dos cereais, uma vez que se cancelou o pacto auspiciado pela Turquia e as Nações Unidas, Mikola Solski, ministro da Agricultura, declarou nesta terça-feira que a Ucrânia pode exportar cerca de 700 mil toneladas de grãos pelo corredor que abriu em agosto de forma unilateral no mar negro (através das águas de România, Bulgária e Turquia, três membros da aliança norte-atlântica) quantidade muito inferior aos 2 milhões e 300 mil toneladas que tira via portos fluviais do Danúbio.
Desde que a Rússia – pelos ataques ucranianos com mísseis e drones contra sua base naval em Sebastopol e navios de guerra no ar Negro –, se viu obrigada a retirar sua frota para o leste, 38 cargueiros entraram em portos da Ucrânia, 30 dos quais já partiram com cereais, mas o país “necessita chegar a 6 milhões de toneladas mensais para recuperar o setor das exportações agrícolas”, explicou Solski a seus colegas da União Europeia durante um encontro em Luxemburgo.
Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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