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Trump surfa na onda do autoritarismo e Biden repete: "ameaça à democracia"

Enquanto republicado sobe nas pesquisas para eleições de 2024, atual presidente opta por apostar na mesma estratégia de 2020
Jim Cason
La Jornada
Washington

Tradução:

A promessa do ex-presidente Donald Trump de que abusará de seu poder e será “um ditador” apenas no primeiro dia de regresso à Casa Branca provocou gritos de protesto de seus adversários democratas, aumentou o alarme daqueles que advertem que ele representa a maior ameaça à democracia e pareceu nutrir o ânimo de suas filas eleitorais, mas, antes de tudo, gerou cada vez mais incerteza sobre se o principal candidato republicano está brincando ou não com suas ameaças de impor um regime autoritário nos Estados Unidos.

Na última terça-feira (5), Sean Hannity da Fox News perguntou a Trump se estava prometendo ao país essa noite que “nunca abusará do poder como retribuição contra outros”, e ele respondeu meio gozador, “com exceção do primeiro dia”. Quando Hannity lhe pediu para esclarecer, Trump respondeu: “Quero fechar a fronteira e quero perfurar, perfurar, perfurar [em referência ao petróleo]”.

Como Hitler e Mussolini, Trump vê opositores como “vermes” e promete retaliação se reeleito

Ao longo das últimas semanas, um elenco amplo de especialistas e comentaristas em Washington e ao redor do país esteve advertindo que se Trump conseguir se reeleger, o resultado será um regime autoritário e até fascista.

A ex-deputada e ex-integrante da liderança republicana na câmara baixa, Liz Cheney – cujo pai Dick Cheney foi vice-presidente de George W. Bush – advertiu que com Trump na cédula da eleição presidencial de 2024, os Estados Unidos seguirão como “sonâmbulos para a ditadura”. Agregou em entrevista à CBS News que “as ferramentas que estamos utilizando são ferramentas que vimos sendo usadas por autoritários, fascistas, tiranos ao redor do mundo”.

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Alguns dos principais meios nacionais, entre eles o New York Times e o Washington Post, publicaram amplas reportagens sobre as maneiras em que Trump, se voltar ao poder, poderia usar a presidência para perseguir e encarcerar seus críticos tanto dentro como fora do poder, incluindo jornalistas. “As ameaças de Trump, frequentemente justificadas com mentiras, são profundamente alarmantes, afirmam historiadores e especialistas legais. Prometeu repetidamente minar partes básicas da democracia estadunidense”, advertiu David Leonhardt em seu boletim The Morning, com uma circulação de mais de 5 milhões de leitores, publicado pelo Times.

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Enquanto republicado sobe nas pesquisas para eleições de 2024, atual presidente opta por apostar na mesma estratégia de 2020

La Voce di New York
Trump enfrenta um total de 91 acusações em quatro casos criminais diferentes

Em sua coluna no Post, o comentarista neoconservador Robert Kagan adverte: “Estados Unidos estão vivendo prestes a viver sua maior crise política e constitucional desde a Guerra Civil”.

Mas tudo indica que estas reações são bem-vindas por Trump já que lhe dão manchetes nos meios e nutrem sua imagem como um “insurgente” que está lutando contra as classes governantes para resgatar a velha grandeza de seu país. Suas mensagens públicas mais recentes a suas bases estão empapadas de retórica neofascista vingativa.

Até republicanos passam a ver risco de ditadura caso Trump seja eleito em 2024

“Demoliremos o Estado Profundo [frase com referência à cúpula governamental], expulsaremos de nosso governo os belicistas, tiraremos os globalistas, mandaremos embora os Comunistas, Marxistas e Fascistas, nos livraremos dessa classe política enferma que odeia nosso país, tiraremos dos meios às fake news, expulsaremos Joe Biden da Casa Branca… O 2024 é a batalha final”, escreveu recentemente em sua rede social Truth Social. Agrega que se seu movimento não ganhar, “já não teremos país”.

Sempre inclui a mensagem anti-imigrantes com a qual lançou sua primeira campanha presidencial, agora afirmando que os imigrantes indocumentados “estão envenenando o sangue do país”, frase manchada da clássica retórica supremacista e xenofóbica com ecos, dizem alguns historiadores, com o vocabulário de Hitler. Também ameaçou detê-los em campos de concentração.

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Buscou desumanizar a qualquer um que perceba como adversário ou não leal, ao dizer que tirará os “bandidos da esquerda radical que vivem como vermes nos confins de nosso país… os quais mentem e roubam e fazem trapaça com as eleições” (Trump chama de “esquerda radical” a Biden e aos democratas).

Isto se mistura com a retórica que endossa a violência política contra opositores, e inclusive chegou ao extremo de acusar o ex-chefe de Estado Maior, o general Mark Milley – o qual serviu durante sua presidência e tem criticado Trump – de “traição”, e sugere que deveria ser executado.

Ante tudo isto, o presidente Joe Biden agora está apostando sua reeleição ao rechaço eleitoral de Trump, ou seja, regressando à sua estratégia na última eleição. “Trump já nem está ocultando a sua jogada. Está nos dizendo exatamente o que quer fazer”, declarou Biden em um ato de arrecadação de fundos para a eleição desta semana. Advertindo que Trump “está determinado a destruir a democracia”. Biden sublinhou que “se Trump não estivesse concorrendo [para a presidência], não estou seguro de que eu o estaria fazendo… Mas não podemos deixar que ganhe”.

Trump representa uma ameaça real à democracia? O debate eleitoral gira sobre isso. Vale recordar que o ex-presidente enfrenta um total de 91 acusações em quatro casos criminais diferentes, e em um par desses julgamentos está acusado precisamente de tentar descarrilar o processo democrático. Em um deles, enfrenta acusações por incitar nada menos do que é em efeito uma tentativa de golpe de Estado.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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