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Após a derrota do Terceiro Reich, alguns dos nazistas mais detestáveis encontraram refúgio na América Latina e até atuaram como "instrutores" nas práticas repressivas de Pinochet (Imagem: gerada por IA)

Nazismo nos trópicos: como Exército Vermelho impediu Hitler de invadir América Latina

Hitler pretendia governar a América Latina por meio de um sistema de "vice-reinados", assumidos por enviados alemães; pior destino estava reservado aos indígenas, explica especialista

Redação Sputnik Mundo
Sputnik Mundo
Moscou

Tradução:

Ana Corbisier

A vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista não só salvou a Europa da opressão fascista, como também impediu que ela estendesse seu domínio para o restante do mundo. O historiador russo-colombiano Dr. Miguel Palacio conta, em entrevista exclusiva à Sputnik, quais eram os planos dos nazistas para a América Latina, caso tivessem vencido no Velho Continente.

“O Exército Vermelho desempenhou um papel crucial ao abortar as pretensões da Alemanha nazista sobre a América Latina e o Caribe”, declarou à Sputnik o historiador Dr. Miguel Palacio, vice-diretor geral para Cooperação Inter-regional e Internacional da Biblioteca Estatal Russa de Literatura Estrangeira Margarita Rudominó.

“A Alemanha tinha várias unidades da Wehrmacht preparadas para serem enviadas à América Latina nos anos de 1943-1944. E apenas dois grandes acontecimentos — dois feitos gloriosos da história russa, da história da Europa e do mundo inteiro — impediram isso: a Batalha de Stalingrado e a Batalha de Kursk. Seria importante que os latino-americanos, nossos contemporâneos, se lembrassem de que a façanha do Exército Vermelho salvou seu belo continente da invasão nazista”, destacou o pesquisador.

Penetração do nazismo na América Latina e no Caribe

Segundo o Dr. Palacio, a América Latina e o Caribe estavam na mira da Alemanha muito antes da chegada de Adolf Hitler ao poder. Já no século 19, houve uma imigração alemã considerável, sobretudo por motivos socioeconômicos. Além disso, várias nações latino-americanas convidaram militares alemães para treinar seus exércitos.

“Os instrutores alemães moldaram o caráter, o espírito e a disciplina dos oficiais da Bolívia e do Chile”, apontou.

A penetração do nazismo na região esteve fortemente ligada aos nacionalistas radicais emigrados de uma Alemanha humilhada após a Primeira Guerra Mundial. Essa tendência ganhou força com a proclamação do Terceiro Reich em 1933, que destinou grandes recursos à promoção de sua ideologia do outro lado do Atlântico, tanto entre as comunidades de descendentes quanto nas elites políticas e militares do continente americano.

“Seria como durante a conquista espanhola”

De acordo com o Dr. Palacio, os arquivos confirmam os planos da Alemanha nazista de se apropriar de vastos territórios na América Latina e no Caribe. Entre os cenários considerados por Berlim, estava a criação dos chamados Estados Unidos Sul-Americanos Totalitários ou da Grande Alemanha do Sul.

Ele indicou que Adolf Hitler pretendia governar a região por meio de um sistema de “vice-reinados”, “semelhante ao da época das colônias espanholas”, nos quais “os cargos mais importantes seriam ocupados por enviados alemães”, enquanto o destino das populações indígenas seria mais do que deplorável, devido à “visão racista” do führer.

“Seu plano era transformar todas as classes sociais existentes na América Latina em criados, em escravos, em trabalhadores. Seria quase como nas primeiras décadas da conquista espanhola, quando muitos indígenas foram assassinados”, ressaltou.

A URSS combate o nazismo na América Latina

O Dr. Palacio enfatizou que a União Soviética não combatia a Alemanha nazista apenas na Europa, mas também na América do Sul. Nesse contexto, destacou o trabalho do espião soviético Iósif Grigulévich, que teve um papel importante ao sabotar o envio de matérias-primas latino-americanas para a Alemanha nazista.

“Na Argentina, recebeu a tarefa de identificar os colaboradores dos nazistas e impedir o envio de recursos naturais para o Terceiro Reich. E conseguiu fazer isso no porto de Buenos Aires, recorrendo à ferramenta mais eficaz: bombas. Sem dúvida, foi um trabalho muito perigoso, mas conseguiu impedir o envio de muitos recursos naturais argentinos para a Alemanha nazista”, destacou.

Os nazistas mais detestáveis fugidos para a América Latina

Depois da derrota do Terceiro Reich, alguns dos nazistas mais detestáveis encontraram refúgio na América Latina e até atuaram como “instrutores” nas práticas repressivas de ditaduras como a de Augusto Pinochet, constatou o Dr. Palacio.

Em particular, citou o caso da Colônia Dignidad, fundada no Chile pelo prófugo nazista alemão Paul Schäfer. O assentamento serviu para “aniquilar psicologicamente e fisicamente os opositores da junta militar de Augusto Pinochet”.

Confira aqui mais análises sobre o Dia da Vitória contra o nazismo.

Outro exemplo é o de Josef Mengele, apelidado de ‘Anjo da Morte’ por suas experiências mortais com prisioneiros de Auschwitz, e o de Otto Adolf Eichmann, um dos principais organizadores do Holocausto. Este último foi capturado pelos serviços secretos israelenses na Argentina e executado por enforcamento em 1962.

“Mas, lamentavelmente, a maioria dos nazistas que conseguiram chegar à América Latina viveu ali trabalhando, formando famílias e morrendo impunemente”, concluiu o Dr. Miguel Palacio.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação Sputnik Mundo

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