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Banjamin Netanyahu e Donald Trump (Foto: Flickr)

Nem Líbano, nem Gaza: violação de Netanyahu a cessar-fogo serve de alerta a todo Oriente Médio

O extermínio de 62 mil palestinos em 14 meses, além de 4 mil no Líbano, comprova que os sionistas não têm a menor intenção de recuar ou permanecer nos limites que eles mesmos estabeleceram
Eduardo Vasco
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

“israel” faz uma guerra genocida direta em duas frentes – Palestina e Líbano. Ambas chegaram, após extrema resistência de Tel Aviv, na fase de cessar-fogo. Mas isso é só no papel. Como tem ocorrido desde o momento da fabricação do “estado” de “israel”, nenhum acordo, nenhum tratado, nenhuma norma internacional, moral ou ética está sendo respeitada pelo regime sionista.

O cessar-fogo no Líbano deveria durar 60 dias, até 26 de janeiro. Enquanto isso, as forças invasoras do sul do país deveriam se retirar de volta para “território” israelense. Nem se retiraram nem pararam de matar. Em seu propositalmente lento recuo, os tanques israelenses estão destruindo as estradas libanesas, danificando ainda mais a infraestrutura civil. E ainda não saíram de lá: o prazo de retirada foi estendido para 18 de fevereiro. Ao mesmo tempo, os militares continuam disparando contra civis, tendo assassinado cerca de 30 libaneses desde o prazo limite do cessar-fogo. Segundo a imprensa libanesa, Tel Aviv já violou o cessar-fogo mais de 800 vezes.

Nem Gaza, nem Líbano

Netanyahu diz desavergonhadamente que não vai cumprir nenhum cessar-fogo, nem no Líbano, nem em Gaza. Ao tempo em que terminava o prazo para a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano, iniciava, em 19 de janeiro, o cessar-fogo em Gaza. Se “israel” não respeita os libaneses, por que respeitaria os palestinos, que os sionistas sempre consideraram subumanos?

Desde o primeiro dia, os militares israelenses têm dificultado o retorno a Gaza pelo Corredor Netzarim e bombardeado civis em várias zonas da Faixa de Gaza, assassinando até mesmo crianças – um dos esportes favoritos das eufêmicas Forças de “Defesa” de “israel”.

Logo depois do início oficial do cessar-fogo em Gaza, Netanyahu ordenou uma nova ofensiva devastadora na Cisjordânia. Mais de 26 mil palestinos foram expulsos de suas casas, desde então. Dezenas foram assassinados. A Cisjordânia não é governada pelo Hamas, o grande bode expiatório da fase mais recente do genocídio continuado de palestinos.

A Cisjordânia é governada pela Autoridade Palestina, que tem servido como um administrador contratado por Tel Aviv desde os Acordos de Oslo, com todo o aparato burocrático e, principalmente, repressivo, financiado e orientado pelo sionismo.

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Os ataques e a humilhação à Cisjordânia deveriam servir de lição e alerta não só a todos os partidos palestinos, mas também a todos os governos dos países da região. “israel” não vai recuar.

O objetivo estratégico e histórico do sionismo é formar o “Eretz Israel”, o que, tirando todo o misticismo barato, significa o domínio territorial do coração do Oriente Médio não por Tel Aviv, mas por seus amos americanos e ocidentais, a fim de controlar essa região essencial para o domínio imperial do globo terrestre.

Expansionismo e colonialismo sionista

Se em 1967 (quando roubou Gaza, Sinai, Golã, Cisjordânia e Jerusalém Ocidental) e em 1973 (quando garantiu a posterior submissão do Egito em troca do Sinai) “israel” já havia demonstrado a sua natureza expansionista, o extermínio de 62 mil palestinos em 14 meses, a invasão do Líbano com a dizimação de mais de 4 mil pessoas, as incursões à Cisjordânia e a mudança de regime em Damasco e apropriação em andamento do Golã, reconhecidamente sírio até pelo próprio Netanyahu, comprovam que os sionistas não têm a menor intenção de permanecer nos limites que eles mesmos estabeleceram até então.

As declarações chocantes de Donald Trump vão nesse exato sentido. Embora seja um pedaço de terra muito pequeno, a Faixa de Gaza tem riquezas muito interessantes para os monopólios capitalistas que mandam no governo dos Estados Unidos. Já no ano 2000, haviam sido descobertas enormes reservas de gás, calculadas em 1,4 trilhão de metros cúbicos e avaliadas em cerca de 4 bilhões de dólares. Enquanto Gaza não for “limpa” de palestinos, haverá resistência armada, instabilidade e, portanto, não será possível extrair aquele gás. Netanyahu já ordenou ao seu exército que prepare a limpeza étnica total.

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Mas por que um agravamento tão exponencial da agressão ao território palestino no último período? O sistema imperialista, dominado pelos Estados Unidos, está mergulhado em uma crise sistêmica e crescente. Os pilares da sua dominação se sustentam com cada vez mais dificuldades. Para evitar que eles desabem, não adianta mais apostar na diplomacia. Quanto mais a crise sistêmica se aprofunda, mais o sistema imperialista – representado no Oriente Médio pelo sionismo e institucionalizado no “estado” israelense – age desesperada e violentamente.

Se a ação é tão violenta, como temos visto desde o 7 de outubro, e não há nenhuma intenção de pará-la, então a reação a essa violência não tem como ser pacífica e diplomática. O povo palestino entendeu isso mais do que os outros, porque tem sido o principal alvo dessa violência. Mas, à medida que os palestinos dão um exemplo sem igual de resiliência e determinação, abrem os olhos de milhões mundo afora, a começar pelos seus vizinhos, naturais vítimas imediatas da mesma agressão.

Barril de pólvora

O que tem impedido uma ação concreta e efetiva de solidariedade ao martírio palestino é a traição dos regimes apodrecidos do Oriente Médio, há muito no bolso dos Estados Unidos e de “israel”. O regime de al-Sisi, por exemplo, cairia no momento em que os EUA fechassem a torneira – por isso mesmo, Egito e o próprio “israel” são os únicos que não terão ajuda externa cortada por Trump.

Mas há também a falta de independência das lideranças de massas, que não têm coragem de impulsionar e materializar o sentimento de milhões de árabes e muçulmanos que estão dispostos até mesmo a pegar em armas para combater a barbárie sionista.

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As forças internacionais da moderação ainda prevalecem. Não querem uma instabilidade maior, pois isso acarretaria o aumento da crise interna. O Oriente Médio é um barril de pólvora que, se explodir, poderia desencadear uma guerra mundial. Essa guerra aceleraria dramaticamente o desmantelamento da atual ordem mundial.

Os que pregam a construção de um mítico “mundo multipolar”, contudo, temem esse desmantelamento. Afinal, essa “multipolaridade” não é nada mais senão uma reciclagem da famigerada “coexistência pacífica” de meados do século 20.

Todos estão vendo no que deu essa coexistência pacífica.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Eduardo Vasco Jornalista, trabalhou como enviado especial no início da intervenção russa na guerra da Ucrânia e escreveu o livro "O povo esquecido: uma história de genocídio e resistência no Donbass".

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