A Rússia não vai se dobrar. A América Latina também não. O que está em jogo é a soberania das nações diante de um projeto imperial de dominação que insiste em sobreviver mesmo diante do fracasso.
Vladimir Putin respondeu com firmeza ao novo pacote de sanções e ameaças militares, reforçando o alerta de quase um ano atrás: se os Estados Unidos e a Europa enviarem armas de longo alcance capazes de atingir o território russo, a resposta será proporcional. A mensagem foi clara: Moscou não aceitará provocações impunemente.
Enquanto isso, Donald Trump — presidente dos Estados Unidos, mesmo acusado de conspiração golpista — tem intensificado sua retórica autoritária e medidas de coerção internacional. Recentemente, aplicou sanções pessoais à família do presidente colombiano Gustavo Petro, incluindo-os em listas de supostos narco-terroristas, numa tentativa evidente de intimidar e punir governos que não se alinham à agenda de Washington. Seu foco, ainda assim, será o conflito interno nos EUA, que inclui repressão a imigrantes, cortes de programas sociais e retaliação contra opositores.
A Europa, por sua vez, vive uma armadilha que ela mesma construiu. Ao seguir a estratégia belicista dos EUA, comprometeu sua estabilidade econômica. A inflação voltou a subir. O desabastecimento e os altos custos da energia atingem os mais pobres. A indústria sofre com a perda de competitividade diante da dependência do gás russo e das tensões comerciais com a China.
Agora, numa manobra que viola o direito internacional, a União Europeia decidiu se apropriar de 300 bilhões de dólares em ativos russos congelados — uma atitude que escancara o uso da guerra como pretexto para saques financeiros. A América Latina, inclusive, também vem sendo alvo de sanções e retaliações por não se curvar ao poder imperial.
Da Venezuela, o presidente Nicolás Maduro já denunciou tais políticas de chantagem e sanções unilaterais: “Nos querem submissos, mas somos herdeiros de Bolívar. Estamos de pé, com dignidade, e vamos seguir defendendo nossa soberania”. Por sua vez, em 2025 e em anos anteriores, o presidente Lula também não tem silenciado sobre essas questões. Reafirmou que o mundo precisa de paz, não de mais armas, e que a América Latina tem um papel histórico a cumprir na construção de uma ordem multipolar, baseada na cooperação e na autodeterminação dos povos. Lula tem insistido que o Brasil não aceitará ser empurrado para blocos militares, nem será cúmplice de guerras de interesse. Seu apelo é por diálogo, desenvolvimento e justiça social.
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A escalada militar avança perigosamente. O maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, deixou a costa da Croácia e ruma agora para o Atlântico Sul. O deslocamento dessa máquina de guerra representa um gesto intimidatório contra os países do Sul Global que ousam afirmar sua autonomia. A presença de uma embarcação desse porte, equipada com armas de última geração, reforça o clima de tensão e ameaça que paira sobre as tentativas de construção de uma nova ordem mundial mais justa e multipolar.
Em paralelo, as chamadas “operações especiais” executadas em nome da segurança ocidental já deixaram um rastro de sangue: ao menos 43 pessoas foram assassinadas em 10 operações recentes, sem direito à defesa, sem julgamento, sem chance de reagir. Execuções sumárias, disfarçadas de ações preventivas, tornaram-se política de Estado. Esse é o retrato de um mundo em que a força se sobrepõe ao direito e a violência se legitima com discursos de proteção à democracia.
Neste momento, enquanto o mundo assiste à escalada dos conflitos, os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) estão reunidos em cúpula, com forte presença das nações Brics, lideradas por China e Rússia. O encontro representa uma afirmação de soberania e cooperação entre o Sul Global, apontando caminhos para uma ordem internacional multipolar, voltada ao desenvolvimento sustentável, à justiça econômica e à paz. O protagonismo do Oriente e da América Latina ganha corpo diante da falência moral do Ocidente belicista.





