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Imagem: AK Rockefeller / Flickr

Nem Trump, nem Kamala: quem vai seguir no comando dos EUA são os bilionários

Enquanto Kamala avisa que não vai proibir o fracking, Trump promete que vai manter cortes de impostos aos super-ricos; a meta é agradar quem paga a conta
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

A candidata presidencial democrata Kamala Harris evitou detalhar suas posições sobre vários temas até o momento, mas em um ponto decidiu ser muito clara: “como presidente, não vou proibir o fracking, declarou à CNN, confirmando relatos de que havia revertido a posição que expressou em 2019 sobre esse método extremamente poluente de extração de petróleo.

Embora essa mudança drástica tenha principalmente objetivo de atrair votos no estado-chave da Pensilvânia, também deu esperança à indústria de combustíveis fósseis e a bilionários que agora estão fazendo lobby intensamente para tentar modificar e/ou suavizar algumas das posições do Partido Democrata sobre vários temas – desde expandir a exploração de petróleo nos Estados Unidos até impor novos impostos aos super-ricos.

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Este ciclo eleitoral está projetado para custar mais de 7 bilhões de dólares, com mais de um bilhão desse total doado por apenas cerca de 100 indivíduos. “É muito cedo para saber qual será o efeito dessas mega doações sobre as políticas do próximo presidente, embora as contribuições de grandes somas de dinheiro tenham influenciado os formuladores de políticas no passado”, observa friamente a revista Barron’s, especializada no setor financeiro. “Enquanto Harris e [Donald] Trump se deleitam em destacar o apoio de pequenos doadores, é justo qualificar a eleição de 2024 como uma batalha dos bilionários [com fortunas superiores a um bilhão]”.

Lista de “doadores” e influência eleitoral

O semanário de negócios, parte do grupo editorial do Wall Street Journal, ofereceu uma lista desses super-ricos, incluindo os executivos da Blackstone, Renaissance Technologies, os magnatas das criptomoedas Cameron e Tyler Winklevoss, e os capitalistas especulativos Marc Andreessen e Ben Horowitz, entre outros, apoiando o republicano Trump. “Os democratas têm seus próprios bilionários” apoiando de fato., afirma a Barron’s, que calcula que os doadores mais ricos poderiam investir até mais de 10,8 bilhões de dólares em publicidade política durante esta eleição.

“Investigações demonstram que as opiniões políticas dos bilionários têm um impacto sobre quais políticas serão implementadas”, relata também a Barron’sCraig Holman, da organização de direitos do consumidor Public Citizen, comentou à revista que “os bilionários estão mudando fundamentalmente todo o ambiente político. Eles têm muita influência e parecem estar solicitando favores específicos em troca de seu dinheiro”.

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Os lobistas não escondem sua missão. “Com base no que sabemos de suas posições no passado, nos projetos de lei que ela [Kamala Harris] impulsionou e em suas declarações anteriores, quando assumiu uma postura bastante agressiva contra a indústria de energia, contra a indústria de petróleo e gás” — explicou Anne Bradbury, diretora do Conselho Americano de Exploração e Produção, em uma entrevista ao Financial Times na semana passada —, o objetivo é fazer lobby para que Harris anule as medidas implementadas pelo presidente Joe Biden, que congelaram a perfuração de petróleo e a construção de mais usinas de gás natural liquefeito.

Contradições

Aliás, a produção de petróleo e gás nos Estados Unidos alcançou níveis recordes sob o governo Biden, e a própria Harris não se concentrou nas mudanças climáticas durante a Convenção Democrata, o que preocupa o movimento ambiental. Mas, em sua entrevista à CNN, Harris buscou explicar sua nova perspectiva sobre o tema, afirmando que seus quatro anos como vice-presidente a convenceram de que é possível criar novos empregos em energia limpa sem eliminar empregos gerados pela contínua exploração de combustíveis fósseis, como é o caso do fracking. Harris está procedendo com “ambiguidade estratégica” neste e em outros temas, segundo alguns de seus assessores entrevistados pela Reuters.

Harris argumenta que, na disputa sobre este e outros temas na contenda contra Trump – que tem repetido que a mudança climática é “uma farsa” –, para os ambientalistas não há dúvida sobre em quem votar, e, de fato, algumas das maiores organizações ambientalistas anunciaram que destinarão dezenas de milhões de dólares em apoio à sua campanha.

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No entanto, a maior pressão em torno de Harris é impulsionada pelos grandes empresários e pelos super-ricos, que buscam convencê-la a abandonar algumas das propostas que seu chefe, o presidente Biden, promoveu, especialmente as medidas para aumentar os impostos sobre eles. Trump, quando era presidente, junto com o Congresso controlado pelos republicanos, promulgou uma série de cortes massivos de impostos para os ricos, que expirarão em 2025 – o ex-presidente prometeu renová-los se for eleito, apesar de que isso aumentaria o déficit federal em quase 5 trilhões.

Kamala apresenta alternativas

Harris argumenta que, em vez de renovar esses cortes, proporá aumentar os impostos para empresas e indivíduos ricos e não elevar os impostos para famílias com rendas anuais inferiores a 400 mil dólares. A proposta da democrata é alvo de intensa negociação entre líderes empresariais durante este ciclo eleitoral.

Embora em público a campanha de Harris assegure que ela está comprometida com sua proposta, em privado, alguns dos doadores milionários manifestam otimismo de que ela modificará sua posição. “Em minhas interações com eles [vejo] que a chave é que ela se concentrará em seus valores, mas não é uma ideóloga em programas específicos”, comentou o bilionário Mark Cuban em entrevista ao New York Times. “Segundo o que me dizem, tudo está em aberto, ainda não foi decidido nada”, algo com que outros ricos concordam.

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Além disso, sua mudança de posição sobre temas como o fracking oferece esperança aos empresários. “Há otimismo de que não é possível que [sua proposta fiscal] seja real”, declarou Anthony Levie, executivo-chefe da empresa cibernética Box, em entrevista ao Times.

Embora muito do que é coberto na mídia seja sobre a extensa relação entre multimilionários como Elon Musk e outros investidores especulativos, e Trump, às vezes ocultam a realidade de que Harris também vem do norte da Califórnia, capital do capitalismo especulativo e de alta tecnologia. De fato, a campanha de Harris acabou de inaugurar um novo grupo chamado “capitalistas de risco por Harris”.

O exercício democrático está cada vez mais caro.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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