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Em meados de abril, começou uma onda de protestos na Nicarágua contra o governo do presidente Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), no poder desde 2007. Desde então, já foram contabilizadas 212 mortes, de acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo vinculado à Organização dos Estados Americanos (OEA).
Vanessa Martina Silva*
Diante dessa grave crise social, a Revista Diálogos do Sul conversou com Maria Mercedes Salgado, doutoranda em sociologia na USP. Especialista em movimentos sociais, ela foi conselheira da embaixada da Nicarágua no Brasil entre 1982 e 1986, durante o primeiro governo sandinista.
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Ao contrário do que diz o governo Ortega, Salgado, considera que o que está acontecendo no país não é um golpe de Estado suave nem é coordenado por nenhuma força internacional. Ela esclarece que se trata de um movimento espontâneo, iniciado contra uma reforma da Previdência — já revogada pelo governo — e que cresceu devido à repressão oficial. “É um movimento soberano, de um povo que pede a saída [do governo] diante do massacre”, diz.
Veja a íntegra da conversa:
Ortega foi reeleito pela terceira vez em 2016 para um mandato de cinco anos. Ele já havia governado o país entre 1985 e 1990, período considerado por um grupo importante de revolucionários que participaram da Revolução Sandinista, como o único em que ele se manteve fiel aos ideais do movimento que culminou na queda do ditador Anastácio Somoza.
Questionada sobre possível caráter golpista de um movimento que pretende a saída de um presidente eleito democraticamente, a socióloga pondera que “não se trata de ilegalidade pedir a saída de um governo que está reprimindo a população, diante dos mais de 200 mortos comprovados pela CIDH e milhares de feridos. É um movimento mais forte do que um processo eleitoral em que cerca de 35% da população não votou”.
Diante dos possíveis cenários para o fim do conflito no país, Salgado considera que uma saída possível é a renúncia de Ortega e a formação de um governo provisório que prepare novas eleições com a participação de todos os partidos, inclusive a FSLN. Já a outra, seria o armamento da população para combater o governo. “Para nós esse é um cenário muito ruim. Até agora o que temos é uma oposição cívica, não armada para derrotar Ortega”.