Dizem que a luz brota justamente no momento mais escuro, que é disso que tratam essas datas, que é o regresso da promessa, ou o nascimento de um rebelde que convoca uma insurreição contra o cínico, o corrupto, a mentira, um convite a recuperar o mais nobre e sagrado em todos.
Talvez por isso, as forças mais escuras estão tão ativas, fazendo todo o possível para sufocar tal rebelião contra elas. Nos Estados Unidos, a escuridão inclui uma gargalhada diabólica festejando a loucura obscena, inclusive em nome de Deus.
Quando a revista cristã, Christianity Today, fundada pelo reverendo das cúpulas Billy Graham, se atreveu a publicar um editorial essa semana apelando à destituição de Trump por sua “grave imoralidade e incompetência ética”, o presidente qualificou a revista como “de esquerda extrema” e que ele estava defendendo a religião “daqueles com tendência socialista/ comunista”.
Casa Branca
Nos Estados Unidos, a escuridão inclui uma gargalhada diabólica festejando a loucura obscena, inclusive em nome de Deus.
O presidente é apenas o terceiro na história tachado com a palavra “impeachment” – acusado formalmente de coisas que levam à sua destituição – mas ele e seus fiéis estão desafiando o que supostamente é o documento sagrado: a Constituição. A liderança republicana já declarou que não cumprirá com seus juramentos a essa carta magna nacional sob a qual têm que agir como um júri imparcial diante do julgamento político do presidente. Ou seja, por enquanto nem necessitam fingir que vivem em uma democracia constitucional.
Por enquanto, todos o estão permitindo – os políticos, as ONG, a cidadania e os meios podem criticar tudo isso, mas o aceitam nos fatos. O que acontece, não era que este era o “exemplo” da democracia para o mundo?
Alguns dizem que “o sistema” está decomposto. Como explicar que na mesma semana em que o presidente foi “impeached” pela maioria democrata da câmara baixa por violar a Constituição e pôr em risco a república, esses mesmos democratas aprovaram o orçamento federal aprovado pelo delinquente que inclui um gasto militar estratosférico incluindo uma loucura chamada “Força Espacial” promovida pelo senhor, desempenhando o papel de comandante em chefe, mais novos fundos para as medidas anti-imigrantes incluindo o muro fronteiriço. Também foi aprovado o grande acordo para garantir os direitos empresariais disfarçado de um “tratado de livre comércio”, outro projeto impulsionado por Trump. Não havia uma “polarização” política neste país?
Tudo enquanto o presente de Natal de Trump às crianças pobres é não só continuar com sua perseguição às famílias migrantes, mas também anular a assistência alimentícia para 700 mil pessoas que padecem fome, primeira fase para fazer o mesmo com até 3 milhões de pobres.
E enquanto se condena as violações dos direitos trabalhistas em outros países, este regime persiste com uma das ofensivas anti-trabalhistas mais agressivas desde os tempos de Reagan. Hoje, por exemplo, os empresários estão violando os direitos trabalhistas sob a lei em 41.5% de todas as campanhas de sindicalização segundo uma nova pesquisa.
Os abusos e violações de direitos civis e humanos acontecem cada vez mais. Mas a colaboração tanto dentro como fora deste país com este regime, ou no mínimo, a tolerância com tanta escuridão acompanhada por essa risada diabólica manejada por Trump e sua gente, é o mais alarmante. Todos têm suas razões e justificativas, mas a história está repleta das consequências disso.
Os dois temas que definem esta era, a extrema desigualdade econômica e a mudança climática, são a expressão da decomposição de um sistema que está pondo em xeque literalmente a própria vida de todos. É a fase final do neoliberalismo que, para se manter, tem tido que recorrer a receitas com ingredientes fascistas.
Há convites, oferecidos sobretudo pelos jovens, para uma rebelião contra essa escuridão. Tudo depende, tudo, da resposta a esse convite à luz.
*David Brooks, Correspondente – La Jornada em Nova York.
**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
***Tradução: Beatriz Cannabrava
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