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O economista e novo presidente do Haiti, Fritz Alphonse Jean (Foto: Reprodução / Facebook)

Novo presidente temporário no Haiti: entenda os desafios de Fritz Alphonse Jean

Economista tem 4 eixos prioritários para o Haiti — segurança, governança, recuperação econômica e realização de eleições — e define como “urgente” o realojamento dos deslocados internos
Victoria Korn
Estratégia.la
Porto Príncipe

Tradução:

Ana Corbisier

Em 8 de março, Fritz Alphonse Jean foi investido como presidente do Conselho Presidencial de Transição (CPT) do Haiti, em substituição a Leslie Voltaire, que finalizou seu mandato rotatório de cinco meses em um contexto marcado pela deterioração da violência no país. Em um ato celebrado em Porto Príncipe, o economista Alphonse Jean assumiu que o caminho é árduo e está cheio de obstáculos, mas assegurou que porá mãos à obra.

Segundo a Organização Mundial para as Migrações (OIM), o recrudescimento da violência das gangues triplicou em um ano o número de pessoas desalojadas de suas casas. “Os dados mais concretos que temos apontam que cerca de 1.041.000 pessoas vivem atualmente desalojadas no Haiti. Em sua maioria, foram deslocadas várias vezes”, declarou o porta-voz da OIM, Kennedy Okoth Omondi.

A OIM indicou que a deportação de cerca de 200 mil haitianos, principalmente da República Dominicana, significou uma carga ainda maior para os já sobrecarregados serviços sociais do país. “As comunidades já estão lutando basicamente para sobreviver”, disse Omondi. À medida que a violência continua, a agência da Organizaçao das Nações Unidas (ONU) explicou que se tornou mais difícil chegar com segurança às pessoas mais vulneráveis em meio a um número crescente de lugares de deslocamento.

Entre 6 e 12 de dezembro, duas semanas depois de começar a violência no distrito de Cité Soleil de Porto Príncipe, um informe da ONU concluiu que mais de 207 pessoas foram executadas pela gangue da localidade de Wharf Jérémie, a oeste da capital haitiana. A maioria das vítimas eram pessoas mais velhas acusadas de praticar vudu e de ser a causa da enfermidade do filho do líder da gangue.

Desde 2022, a gangue de Wharf Jérémie enfrenta gangues rivais pelo controle das estradas que conduzem ao principal porto da capital e a seu terminal de contêineres. Só neste ano, o Gabinete do Alto Comissariado registrou mais de 5.350 pessoas assassinadas e mais de 2.155 feridas, resultado direto destes atos de violência.

Novo presidente

“O trabalho deve continuar”, disse o novo presidente do CPT, acerca de um trabalho articulado em torno dos eixos prioritários da transição: a segurança, a governança, a recuperação econômica e a realização de eleições.

O economista considera que “há urgência porque as populações do Oeste (departamento onde está Porto Príncipe) e Artibonite requerem intervenções concretas e rápidas do Estado para se recuperar da violência exercida contra elas” e qualificou a situação atual de “caos canibal”.

“Nosso país está em guerra hoje e devemos nos unir imperativamente para ganhar esta batalha”, disse Alphonse Jean, afirmando que o realojamento dos desalojados internos (mais de um milhão) é uma urgência, assim como a criação de estruturas de acolhida para os deportados.

O novo líder indica que o “principal objetivo continua sendo o restabelecimento da ordem constitucional”, ao mesmo tempo que garantiu à população que sente sua dor e convidou todos os atores a envolverem-se na luta contra a insegurança no Haiti.

“Já não há lugar para divisões. Devemos nos unir na luta contra a insegurança (…) É preciso agir com urgência para erradicar a violência”, ressaltou o agora presidente do CPT, reafirmando seu compromisso de restabelecer a paz: “Devemos devolver a esperança e assentar as bases da estabilidade, da equidade e da prosperidade compartilhada para todos os filhos e filhas do Haiti”, declarou.

Com este fim, comprometeu-se com a formação de 3 mil novos recrutas que se unirão às Forças armadas e à Polícia Nacional, assim como com a obtenção de apoio aéreo e marítimo para proteger melhor as fronteiras.

Armas para as gangues

As autoridades alfandegárias dominicanas informaram o confisco de um carregamento de armas de fogo de diversos calibres, com sua respectiva munição, que provavelmente ia para Jimmy Chérizier, conhecido como Barbecue, um dos líderes das gangues que mantêm o estado de violência no Haiti. O arsenal foi detectado depois de uma inspeção no Porto de Haina, província San Cristóbal, ao sul de Santo Domingo.

“Oficiais da Direção Geral de Alfândegas (DGA) detectaram 36 mil cápsulas de distintos calibres, 18 carregadores de fuzil, 13 carregadores de 9 milímetros, um carregador para fuzil calibre 50, um silenciador e uma caixa de pistola”, indica uma nota de imprensa.

Também foram encontradas outras 23 armas de fogo procedentes dos Estados Unidos que seriam enviadas ao Haiti. A descoberta ocorreu depois da inspeção, em colaboração com o Ministério Público, de um contêiner em trânsito procedente de Miami, na Flórida, com destino final à nação vizinha.

Trata-se de um fuzil Barret calibre 50 milímetros, 17 fuzis calibre 7.62, outro calibre 9, cinco pistolas marca Glock e uma metralhadora Uzi, todas armas de guerra, similares às que ajudaram as gangues criminosas a acabar com a vida de mais de 5 mil haitianos nos últimos meses.

Drones explosivos no Haiti

Os ataques com o uso de drones explosivos contra as gangues armadas no Haiti neste mês provocaram um saldo de 20 mortos e mais de 30 feridos, segundo informou a Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (RNDDH) neste país.

“Estes atentados deixaram 20 mortos e mais de 30 feridos, inclusive cerca de dezesseis ligados ao líder terrorista e porta-voz do grupo “Viver Juntos” (Jimmy Chérizier, o Barbecue). “Não sabemos ainda se entre as vítimas há civis”, acrescentou Pierre Espérance, diretor executivo da RNDDH.

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O uso de drones explosivos se tornou tema de debate no Haiti, sendo aplaudido por cidadãos. Porém, gerou pânico entre as gangues armadas, como no caso de Barbecue, atacado em 1° de março. Ele conseguiu sair ileso, mas vários de seus companheiros foram abatidos.

Os operativos são levados a cabo por uma nova força criada pelo Gabinete do Primeiro- Ministro e o Palácio Nacional, sob a direção de Vladimir Paraison, que é chefe da segurança presidencial.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Victoria Korn Jornalista venezuelana, analista de temas de América Central e Caribe e associada ao Centro Latino-americano de Análise Estratégica (CLAE, www.estrategia.la).

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