Pesquisar
Pesquisar
Montagem: Diálogos do Sul Global

Nunca uma pesquisa de boca de urna errou tanto no Equador, alerta pesquisadora

Pilar Troya afirma que discrepância entre levantamento e resultado oficial levanta suspeitas legítimas, e acrescenta: “Noboa foi bancado por uma campanha milionária e muita desinformação”
George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul Global
Taboão da Serra

Tradução:

“É a primeira vez na história que uma pesquisa de boca de urna erra tanto.” A afirmação da antropóloga equatoriana Pilar Troya, pesquisadora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, escancara o cenário de desconfiança que marca a reeleição de Daniel Noboa à presidência do Equador.

Em entrevista ao programa “Dialogando com Paulo Cannabrava” desta terça-feira (15), Pilar aponta diversas irregularidades no processo eleitoral, que vão desde o estado de exceção decretado antes do pleito até mudanças de última hora nos locais de votação, realizada neste domingo (13).

Pilar lembra que as pesquisas de boca de urna, feitas no próprio dia da eleição, previam uma diferença de apenas 2 a 4 pontos entre os candidatos. No entanto, o resultado oficial dá uma vitória de 11 pontos a Noboa. “Essa discrepância levanta suspeitas legítimas. A própria Revolução Cidadã, partido de Luisa González, realiza um controle paralelo com atas físicas que não coincidem com as divulgadas oficialmente”, afirma.

Além das suspeitas sobre a apuração, Pilar denuncia uma série de ações autoritárias por parte de Noboa. “Ele decreta estado de sítio em sete províncias e na capital Quito, justamente onde a oposição é mais forte. Além disso, utiliza os meios de comunicação estatais para fazer campanha sem se licenciar do cargo, o que viola o Código da Democracia”, explica.

A pesquisadora também aponta para um projeto político mais amplo, com apoio das elites econômicas, militares e dos Estados Unidos. “Noboa é filho do homem mais rico do país, controla o aparato estatal e tem acordos obscuros com os estadunidenses. O Equador se transforma em peça estratégica para os EUA no cerco à China, especialmente por causa das Ilhas Galápagos”, afirma.

Eleições no Equador 2025: confira as últimas notícias.

Questionada sobre o futuro da esquerda no país, Pilar reconhece os desafios, mas destaca a importância da recente aliança entre a Revolução Cidadã e parte do movimento indígena. “É uma aliança defensiva, mas fundamental diante de um governo autoritário que usa o lawfare e a repressão para desarticular a oposição.”

Por fim, ela alerta para os riscos de que o Equador siga os passos de El Salvador sob Nayib Bukele. “Estamos diante de um governo com perfil neoliberal, autoritário, ineficaz e alinhado ao capital transnacional. A criminalidade só cresce, a economia está estagnada e a repressão aumenta. Mas ele vende a imagem de gestor bem-sucedido, bancado por uma campanha milionária e muita desinformação.”

A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube. Confira:

* Imagens na capa:
– Pilar Troya: Reprodução
– Daniel Noboa: Presidência do Equador


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul Global. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

LEIA tAMBÉM

Documentos de Santa Fé como Washington articulou religião e anticomunismo na América Latina
Documentos de Santa Fé: como Washington articulou religião e anticomunismo na América Latina
Em encontro histórico na Costa Rica, educadores de 19 países declaram apoio à série “Operação Condor”
Em encontro histórico na Costa Rica, educadores de 19 países declaram apoio à série “Operação Condor”
Jornalista e combatente, Jorge Masetti fez da verdade uma arma contra o imperialismo
Jornalista e combatente, Jorge Masetti fez da verdade uma arma contra o imperialismo
LEWEB 2014 - CONFERENCE - LEWEB TRENDS - IN CONVERSATION WITH EMMANUEL MACRON (FRENCH MINISTER FOR ECONOMY INDUSTRY AND DIGITAL AFFAIRS) - PULLMAN STAGE
Macron, diplomacia racista: admitir pilhagem sem reparação é perpetuar genocídio no Haiti