“É a primeira vez na história que uma pesquisa de boca de urna erra tanto.” A afirmação da antropóloga equatoriana Pilar Troya, pesquisadora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, escancara o cenário de desconfiança que marca a reeleição de Daniel Noboa à presidência do Equador.
Em entrevista ao programa “Dialogando com Paulo Cannabrava” desta terça-feira (15), Pilar aponta diversas irregularidades no processo eleitoral, que vão desde o estado de exceção decretado antes do pleito até mudanças de última hora nos locais de votação, realizada neste domingo (13).
Pilar lembra que as pesquisas de boca de urna, feitas no próprio dia da eleição, previam uma diferença de apenas 2 a 4 pontos entre os candidatos. No entanto, o resultado oficial dá uma vitória de 11 pontos a Noboa. “Essa discrepância levanta suspeitas legítimas. A própria Revolução Cidadã, partido de Luisa González, realiza um controle paralelo com atas físicas que não coincidem com as divulgadas oficialmente”, afirma.
Além das suspeitas sobre a apuração, Pilar denuncia uma série de ações autoritárias por parte de Noboa. “Ele decreta estado de sítio em sete províncias e na capital Quito, justamente onde a oposição é mais forte. Além disso, utiliza os meios de comunicação estatais para fazer campanha sem se licenciar do cargo, o que viola o Código da Democracia”, explica.
A pesquisadora também aponta para um projeto político mais amplo, com apoio das elites econômicas, militares e dos Estados Unidos. “Noboa é filho do homem mais rico do país, controla o aparato estatal e tem acordos obscuros com os estadunidenses. O Equador se transforma em peça estratégica para os EUA no cerco à China, especialmente por causa das Ilhas Galápagos”, afirma.
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Questionada sobre o futuro da esquerda no país, Pilar reconhece os desafios, mas destaca a importância da recente aliança entre a Revolução Cidadã e parte do movimento indígena. “É uma aliança defensiva, mas fundamental diante de um governo autoritário que usa o lawfare e a repressão para desarticular a oposição.”
Por fim, ela alerta para os riscos de que o Equador siga os passos de El Salvador sob Nayib Bukele. “Estamos diante de um governo com perfil neoliberal, autoritário, ineficaz e alinhado ao capital transnacional. A criminalidade só cresce, a economia está estagnada e a repressão aumenta. Mas ele vende a imagem de gestor bem-sucedido, bancado por uma campanha milionária e muita desinformação.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube. Confira:
* Imagens na capa:
– Pilar Troya: Reprodução
– Daniel Noboa: Presidência do Equador