Enquanto a Faixa de Gaza é submetida ao mais brutal genocídio de sua história recente, em que os escombros das casas se misturam ao sangue dos civis, surgem à margem desse cenário catastrófico manifestações preocupantes de caos, insegurança e saques em armazéns e depósitos, que representam os últimos recursos disponíveis para garantir a vida e a resistência.
Sem dúvida, parte desse caos reflete uma realidade trágica vivida pela população: falta de segurança, fome, pobreza e o colapso do governo e de suas instituições. Contudo, tolerar essas ações ou permanecer em silêncio constitui uma traição coletiva ao espírito de resistência que sempre distinguiu Gaza.
Roubar armazéns, furtar ajudas humanitárias ou vandalizar propriedades públicas e privadas equivale a apunhalar pelas costas nosso povo e seus sacrifícios, servindo diretamente aos objetivos da ocupação de desmantelar a sociedade e destruir sua estrutura interna.
Omissão perante Gaza é vergonha que perseguirá humanidade para sempre
Diante da ausência das forças policiais devido aos bombardeios e à destruição, a responsabilidade recai sobre a própria sociedade: forças políticas e sociais, comitês de bairro, líderes familiares, jovens voluntários e todos que ainda tenham voz respeitada e influente. Esses grupos podem constituir redes temporárias de proteção popular que guardem instalações e armazéns, impeçam abusos e exerçam temporariamente o controle social até que as instituições voltem a funcionar.
Organizar uma distribuição justa e transparente das ajudas, documentar legal e moralmente quaisquer violações e dar voz ativa à mídia nacional e comunitária contra esses fenômenos são instrumentos de luta tão importantes quanto o trabalho humanitário ou mesmo a resistência armada.
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Devemos enfrentar simultaneamente a ocupação e o caos interno, pois o colapso moral interno pode ser tão destrutivo quanto os mísseis lançados do exterior, e talvez ainda mais perigoso a longo prazo, caso se infiltre na consciência das futuras gerações como algo aceitável ou inevitável.
Preservar o que resta de Gaza não é apenas uma questão de resistir à ocupação, mas também de resistir à fragmentação e à decomposição internas. Talvez a maior vitória possível neste momento seja manter nosso espírito coletivo íntegro, ético e coeso diante de todas as tentativas de destruí-lo.
Gaza permanecerá. Uma sociedade que protege a si mesma em tempos de massacre é uma sociedade que jamais será derrotada.
Edição de Texto: Alexandre Rocha